
Lee Krasner esteve entre os pouquíssimos artistas americanos a trabalhar com a pintura abstrata antes da Segunda Guerra Mundial. Desde os 14 anos, essa filha de imigrantes russos judeus que fugiram do antissemitismo e da guerra russo-japonesa dedicou-se a aperfeiçoar sua técnica frequentando as poucas escolas de arte nova-iorquinas que aceitavam garotas.
Em 1937, ela conseguiu que o grande pintor expressionista alemão Hans Hofmann a aceitasse como aluna. “O trabalho é tão bom, que ninguém diria que foi feito por uma mulher”, disse Hans, a respeito da pupila.
Lee era, desde 1945, a mulher do pintor Jackson Pollock, uma relação que durou 14 anos em que ela fez de tudo – jantar com críticos, encontros com galeristas, lobby com a imprensa – para que o marido fosse reconhecido como o mestre em que se transformou. Pollock não era fácil, seu problema com o alcoolismo era notório, e Lee de certa forma passou para segundo plano, deixando seu grande amor – que a bem da verdade valorizava muito seu trabalho – ocupar o palco sozinho. E Pollock se tornou imenso, sobretudo depois que sua gigantesca obra Mural (1943) redefiniu os rumos da arte. Ainda assim, foi nessa época que Lee criou um de seus trabalhos mais famosos, a série Little Image (1946-1950); mas o epíteto de “mulher de” se colou a ela.

O resultado foi trágico: bêbado, Pollock morreu dirigindo seu carro na propriedade do casal – havia também duas mulheres no carro, uma sobreviveu. Viúva, ela ocupou o estúdio do marido e ali assinou trabalhos extremamente emotivos e agressivamente coloridos, como Guardian (1960), Happy Lady (1963), Icarus (1964), Siren (1966), além dos magníficos, eróticos e violentos Prophecy, Birth, Embrace e Three in Two (1956), uma resposta às Senhoritas de Avignon, de Pablo Picasso.
Outros grandes destaques são suas colagens mais dark, feitas a partir de telas que ela não conseguiu vender no início da carreira e resolveu, irada, cortar em pedaços para remontá-las.