TEL AVIV - Menos de 15 minutos de viagem dentro de Tel Aviv, e o cenário se transforma. Ficam para trás os bares e restaurantes descolados de estilo nova-iorquino e europeu, entra em cena a “Pequena África”, como ficou conhecido o sul da cidade. É lá que se concentram os migrantes e refugiados africanos que entraram ilegalmente em Israel na última década e meia. São entre 30 e 40 mil, a maioria eritreus (70%) e sudaneses em busca de asilo político.
Grande parte dos sudaneses vem da região de Darfur, assolada por um genocídio que deixou ao menos 300 mil mortos e forçou o deslocamento de 2,5 milhões de pessoas. Um deles é Yaakov (Yakub) Salomon, 24 anos, verdureiro no mercado de Hatikva (esperança, em hebraico), coração do sul de Tel Aviv. Falante, sorridente, com hebraico fluente e cheio de gírias após nove anos em Israel, é o xodó de compradores fiéis. Por trás do jeito brincalhão, carrega a angústia dos refugiados que convivem com a incerteza. O visto de residência e trabalho precisa ser renovado a cada três meses, sob a ameaça constante de deportação.
Aos 15 anos Yaakov decidiu deixar o Sudão, fugindo com um tio da violência e da falta de meios de subsistência. Sobre Israel, pouco sabia. O importante era escapar. Após entrar no Egito, foi guiado por beduínos na travessia da Península do Sinai em troca de US$ 5 mil, mesmo percurso de milhares de sudaneses e outros refugiados africanos.