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Jafa em Israel ganha repaginada de luxo

Jafa em Israel ganha repaginada de luxo
Tzachi Ostrovsky / NYTNS
Pode-se dizer que a velhinha Jafa faz dobradinha com a jovial Tel Aviv tanto quanto Abbott fazia com Costello. É também uma cidade costeira antiga, passando por uma renascença luxuosa; um porto de três mil anos que mais parece um labirinto de vielas de pedras brancas, mesquitas silenciosas e mercados abarrotados de antiguidades e especiarias.
Embora já tenha sido disputada pelo rei Davi, os faraós e até Napoleão, há décadas vive à sombra da exuberante Tel Aviv – e a ela foi incorporada, em 1950, sendo considerada durante muito tempo a parte mais humilde e caída do município. Entretanto, já não é mais assim: é justo dizer que a Jafa histórica é puro luxo.
Três iniciativas novas e suntuosas – o Setai Tel Aviv (instalado em uma prisão otomana de origem cruzada), o Jaffa (recriação de Aby Rosen de um antigo hospital para vítimas da malária) e o Drisco (revival do primeiro hotel de luxo da cidade, desativado desde 1940) – foram inauguradas no ano passado, uma praticamente colada na outra. E não para por aí: além dessa repaginada forte, há um novo spa japonês, uma região de badalação noturna e um mercado de pulgas lotado de restaurantes comandados pelos maiores chefs israelenses.
"Jafa é o pedaço mais badalado de Tel Aviv; a energia e a autenticidade, combinadas com a criatividade vista na arquitetura antiga, os artistas locais, as galerias, sem falar na culinária incrível e o mar... tudo faz parte do encanto. Tem todos os componentes para ser a próxima bola da vez", garante Rosen, o magnata nova-iorquino do ramo imobiliário com um portfólio de mais de 70 propriedades e projetos ao redor do mundo.
A gentrificação, entretanto, não agradou todo mundo; há séculos Jafa é um reduto da vida árabe muçulmana. Em 1948, quando o Estado de Israel foi fundado, a maioria dos residentes árabes da cidade foi tirada de casa à força; hoje, é uma das poucas áreas do país com uma população mista de árabes e judeus – e, conforme foram chegando os projetos de luxo, também vieram as acusações de que a história islâmica da cidade está sendo apagada.
O arquiteto e conservacionsita israelense Ramy Gil lembra que, há vinte anos, o que não faltava em Jafa eram prédios vazios, e ele ficou obcecado com um deles: um palacete do século XIX, todo descascado, que já abrigou a sede da Escola da Irmandade do Convento de São José e o Hospital Francês, que ganhou esse nome porque seu fundador, François Guinet, insistiu em usar somente técnicas francesas para sua construção. As paredes estavam apodrecendo, o terraço central, entupido de lixo, e o mato tomava conta das antigas alas. Lá no fundo, debaixo de tudo isso, porém, Gil tinha certeza de haver um tesouro escondido: uma parede de pedra intacta, do tempo das Cruzadas, que antes formava o perímetro de uma fortaleza do século XII.
Seu palpite estava certo: hoje, quando os hóspedes entram no saguão descolado e banhado de luz do Jaffa Hotel, empreendimento impecável inaugurado em meados do ano passado, a primeira coisa que veem é a estrutura graciosa de pedra, agora exposta e polida, atravessando a área cercada de vidro e estendendo-se até o pátio.
O nome do cinco-estrelas foi inspirado na laranja Jaffa, fruta com poucas sementes e muito doce. O hotel, adquirido da RFR Holding de Rosen, projetado por John Pawson e que hoje faz parte da Luxury Collection by Marriott, foi inaugurado pertinho do Yoko Kitahara, um spa japonês para lá de opulento; da belíssima Igreja de São Pedro, de arquitetura neobarroca espanhola e campanário alto; e da Cidade Velha, elegantemente reformada, cujo destaque é a torre do relógio da era otomana.
A ressurreição de Jafa começou em 2007, quando a administração do município Tel Aviv-Jafa reformou o antigo porto – onde dizem que Jonas encontrou sua baleia –, estimulando a chegada de restaurantes, empresas e um food hall. A seguir, veio o investimento público de US$ 225 milhões no mercado de pulgas, bem caído, e que hoje é um verdadeiro tesouro de antiguidades de dia e um núcleo movimentado de luzes piscantes, cafés ao ar livre e bares mais descolados à noite.

Ultimamente, o ritmo das novas padarias (como a instagramável Milk Bakery), restaurantes como o do chef Uri Levy, o Raisa Bar, e espaços criativos como o 8 in Jaffa e o Yafo Creative, é enlouquecedor.

Em 2016, o OCD, experimento gastronômico arrojado do prodígio de Tel Aviv, Raz Rahav, elevou o nível culinário local, convidando outros restaurantes liderados por chefs famosos. Depois, foi a vez do Beit Kandinof, uma casa animadíssima que é parte estúdio de artistas, parte bar & restaurante, situado em um palacete do século XVII. Ultimamente, o ritmo das novas padarias (como a instagramável Milk Bakery), restaurantes como o do chef Uri Levy, o Raisa Bar, e espaços criativos como o 8 in Jaffa e o Yafo Creative, é enlouquecedor.
Mas o prólogo de toda essa muvuca aconteceu a um ritmo muito mais lento. Gil passou vários anos tentando convencer as autoridades israelenses a permitir as escavações sob o Hospital Francês antes de finalmente receber o sinal verde para desenterrar a muralha cruzada, além das colunas de pedra originais e uma série de tesouros arqueológicos que ele sabia estar enterrada ali.
O Jaffa Hotel de hoje, materializado a partir do canteiro de escavação que existiu por mais de uma década, é uma combinação discreta de paredes antigas e linhas modernas e elegantes. A fachada original e o convento continuam de pé, e ganharam a companhia de uma ala nova, contemporânea, de linhas geométricas clean, um jardim rebaixado e uma piscina, além de um bar disposto na capela do antigo convento, decorado com pôsteres de atores famosos interpretando padres. Nas cores e na beleza, é neutro e sem artifícios.
"Já é uma obra de arte", diz Gil sobre o local. "Não é preciso enfeitar algo que já é belo por si só."
Pertinho do bairro de American Colony, onde casas de madeira centenárias são um lembrete dos peregrinos cristãos da Nova Inglaterra que nelas se estabeleceram, nos idos de 1880, outro edifício reformado foi transformado em hotel de luxo. O Drisco, com 42 quartos, deu vida nova à estrutura otomana majestosa de 1866. Antes conhecido como Jerusalem Hotel, a estrutura do Drisco foi erguida por dois irmãos evangélicos que queriam um local de parada luxuoso para os peregrinos a caminho de Jerusalém. O prédio, que foi convertido em quartel militar britânico durante a Segunda Guerra Mundial antes de permanecer abandonado durante 50 anos, hoje exibe lajotas elegantes, decoração sofisticada e recriações pintadas a mão dos murais originais.
E do outro lado da rua, de frente para a Torre do Relógio, uma coluna de pedra calcária erguida por um judeu há cem anos para homenagear o reinado otomano na Palestina, fica o amplo Setai Tel Aviv, resort com uma história riquíssima. O spa e academia do subsolo foram dispostos à volta dos muros da época cruzada, assim como os quartos dos andares superiores foram reformados a partir de uma cadeia turca que, com a criação do Estado de Israel, passou a ser administrada por judeus, abrigando criminosos famosos, incluindo o nazista Adolf Eichmann.
O Jaffa Hotel abriu as portas para os hóspedes em agosto e logo depois foi a vez do bar The Chapel, situado na capela original do convento, que se tornou palco das festas dançantes noturnas diárias. Don Camillo, o restaurante comandado pelo nova-iorquino Major Food Group, também vive lotado.
Para Gil, entretanto, a renascença moderna do lugar perde feio para sua história antiga.
"É o berço do judaísmo e do cristianismo. Pouquíssimas pessoas parecem entender isso quando se fala na 'terra bíblica de Israel'. Está tudo aí", conclui Gil.
Por Debra Kamin

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