"Eles me pisaram, me chutaram e então perdi a consciência", disse o rabino Gabriel Davidovich sobre o ataque que sofreu ontem em sua casa, em Buenos Aires. "Cheguei a implorar para que me deixassem respirar", disse ele.
Em entrevista concedida no hospital, onde está internado, o rabino, de 60 anos, disse que nesse dia foi dormir mais cedo e o que aconteceu depois foram cenas de filme de terror, diz ele.
"Acordei, fui ao banheiro e lá me deparei com um homem que havia entrado pela janela estreita, com vista para a rua. Tentei lutar com ele, corri para a entrada da casa, abri a porta e gritei por socorro. Naquele momento, os demais agressores - sete no total - entraram na casa. Eles me colocaram de bruços no chão, me bateram e me chutaram. Foi quando perdi a consciência".
A próxima coisa que o rabino se lembra é de ter acordado no hospital.
Depois que Davidovich desmaiou, os agressores foram até a esposa, amarraram-na e disseram a ela: "Nós sabemos que ele é o rabino-chefe e que você tem uma joalheria". "Onde está o dinheiro?"
Os ladrões vasculharam todos os armários, pegaram as joias e saíram do apartamento. Do lado de fora do prédio havia dois turistas brasileiros que testemunharam o assalto e chamaram a polícia. Os policiais que chegaram ao local encontraram o rabino ainda no chão, desmaiado.
Os agressores o deixaram em estado grave com nove costelas fraturadas, um pulmão perfurado e ferimentos no rosto. Ele passou por uma cirurgia e agora está em condição estável.
O rabino não descarta a possibilidade de o ataque ter sido praticado por motivo antissemita, mas disse que prefere aguardar os resultados das investigações.
"Eu não tenho ideia de quem poderia estar por trás desse ataque", disse ele. "Quero agradecer ao povo de Israel pelo acolhimento que recebi", disse ele em telefonema ao presidente israelense, Reuven Rivlin. "É horrível quando essas coisas acontecem. Minha esposa tem medo de voltar para casa".
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também enviou mensagem ao rabino desejando pronta recuperação.
Aryeh Leib Davidovich, filho do rabino, disse que a comunidade judaica acredita que foi um ataque antissemita, por causa da frase de um dos agressores, mas destacou que "eles só pediram dinheiro".
A Polícia de Buenos Aires acredita que o ataque ao rabino foi um crime comum, com premeditação, uma vez que os assaltantes sabiam do movimento da casa e sobre a janela do banheiro, que estaria sempre aberta. Outro motivo possível é que o ataque tenha sido um ato de vingança de alguém que tenha se sentido prejudicado por uma decisão do Tribunal Rabínico de Buenos Aires, do qual o rabino é membro.
Davidovich é rabino-chefe da AMIA, organização judaica cuja sede foi destruída num atentado terrorista, em 1994. Ele atua como membro da organização e como secretário-chefe do tribunal rabínico.
O bairro onde mora - Balvanera - é conhecido como o reduto judaico da capital argentina, onde quase 10.000 judeus vivem em uma área de um quilômetro quadrado.
O prédio onde mora fica a cerca de 150 metros da Yeshiva Chaim Jofetz (Chofetz Chaim), em um prédio de dois andares na esquina da San Luis e Azcuénaga. A Argentina tem uma das maiores comunidades judaicas, com 190 mil pessoas (Itamar Eichner, Ynet News).