A Parashá anterior nos contou sobre a entrega da Torá e os de Dez Mandamentos, e aparentemente nossa Parashá está continuando esse assunto com mais detalhes.
Mas se a intenção da nossa Parashá é de nos ensinar leis, porque ela usa a linguagem “sentenças” e não “leis”? Sentenças são a consequência do julgamento, levando em conta que a pessoa já sabia anteriormente a lei e foi sentenciada por tê-la transgredido, e não o próprio estudo das leis
O lado revelado e o lado oculto da Torá
A Torá tem um lado simples e um lado profundo. Quando a linguagem da Torá não se encaixa exatamente no significado simples ela está nos indicando que por trás disso há também algo mais profundo
Um exemplo disso é a linguagem, também na nossa Parashá, de “olho por olho dente por dente, braço por braço, perna por perna, queimadura por queimadura, ferida por ferida”.
Essa linguagem é analisada e explicada, e a conclusão é que ela quer dizer que a indenização por um olho não é a mesma que a indenização por um dente, mas jamais a intenção da Torá seria de que uma pessoa sem dentes pudesse quebrar o dente de alguém e estaria isento de punição ou de que alguém que causou a perda de um olho de outra pessoa tivesse seu próprio olho arrancado, o que provavelmente também poderia causar a sua morte que não é a penalidade nesse caso
Então porque a Torá já não diz diretamente que aqui está se tratando de indenizações? Por que a Torá não usa uma linguagem direta, mas no lugar disso usa uma linguagem que tem que ser analisada e explicada?
O motivo para isso é que essas linguagens vem nos indicar grandes segredos que estão por trás delas como explica o Zohar
A explicação do Zohar
Diz o Zohar que nossa Parashá está nos revelando o segredo das reencarnações, o sentenciamento das Almas, e por isso está escrito que essas são as sentenças que você vai colocar na frente deles
A lei do escravo judeu que trabalha seis anos e no sétimo sai livre representa dois tipos de Alma.
Um tipo de Alma que se reencarna para consertar à si própria, representada pelos seis anos de trabalho que indicam seis Sefirot, seis níveis espirituais que ela tem que consertar,
e outro tipo de Alma que não tem nada para consertar mas se reencarna para ajudar os outros a se consertarem, representada pelo sétimo ano, que é o ano da liberdade do escravo na Parashá, indicando a Sefirá chamada de Malhut
A estrutura da reencarnação
Quando uma pessoa falece, ou seja, a Alma deixa o corpo e ele se torna um corpo sem vida, devemos enterrá-lo dentro de 24 horas que é considerado pela Torá um dia e uma noite
O motivo para isso é porque talvez foi decretado para ele imediatamente se reencarnar novamente naquele mesmo dia que faleceu, para seu próprio benefício, e todo o tempo que o corpo não é enterrado a Alma não se apresenta na frente de Hashem e ela não pode entrar em um segundo corpo para uma segunda reencarnação, porque não é dado um segundo corpo para a Alma até que seja enterrado o primeiro
O segundo corpo
O segundo corpo é composto daquela mesma Alma junto com o mal que ela fez e que nessa segunda reencarnação ela deve refinar e separar esse mal dela.
Em outras palavras esse corpo contém o bem e o mal, a Alma que é sempre boa junto com o mal que ela fez na reencarnação anterior, e o trabalho dela nesta segunda reencarnação vai ser de separar entre o bem e o mal eliminando dessa forma aquele mal que está “grudado” nela
Conseguimos eliminar esse mal por meio da Teshuvá e do estudo da Torá, estudando as leis do que é permitido e proibido, do que é puro e do que é impuro, do que é adequado e do que é inadequado, e dessa maneira separamos o mal do bem e o mal desaparece
Em último recurso, se não fizermos Teshuvá e estudarmos Torá, esse mal desaparece por meio de sofrimentos relativos ao que fizemos na reencarnação anterior, mas esse é o último recurso
Agora dá para entender porque a Torá diz “olho por olho e dente por dente”.
Em relação à aplicação da lei na prática somos obrigados a traduzir isso como sendo a indenização financeira por um olho diferente da indenização por um dente,
Mas em relação à reencarnação essa linguagem está exata.
Ou seja, se ele causou para alguém na reencarnação anterior a perda de um olho ou de um dente e morreu sem fazer Teshuvá, se não corrigir essa pendência de maneira positiva na reencarnação posterior, ele pode chegar a perder o olho ou o dente na prática
Lembrando que isso não se aplica à todos os casos de perda de olhos ou dentes mas pode acontecer de o motivo ser esse
O motivo de a Teshuvá e o estudo da Torá limparem totalmente as pendências da nossa Alma sem precisarmos de um castigo adicional pelo que fizemos é por que a própria reencarnação já é um castigo e já serve para nos purificar
Esse é o motivo, diz o Zohar, que as vezes vemos um Tzadik que tem uma vida difícil.
Porque talvez ele já este viveu alguma vez nesse mundo e daquela vez ele não foi muito Tzadik… e faleceu assim, sem fazer Teshuvá.
E agora que veio novamente para esse mundo é cobrado dele o que ele fez da vez passada
A Guemará nos conta que uma pessoa que muda de lugar muda o seu destino para melhor
A fonte da Guemará é baseada na história do nosso patriarca Avraham Avinu. Hashem diz para ele deixar a sua terra e a continuação do assunto é que Hashem fará dele um grande povo, e onde ele morava antes ele não tinha filhos
Diz o Zohar que uma mudança é considerada uma nova reencarnação. E por isso, diz o Zohar, quando um Tzadik tem que mudar de lugar para lugar, de uma casa para outra, é como se ele tivesse se reencarnado várias vezes, e sobre isso está escrito “e faz bondade milhares de vezes para os seus amados”
Mas as pessoas ruins tem direito somente a três reencarnações, três chances de se consertar de maneira positiva
Se fizerem Teshuvá, o exílio limpa os pecados e as mudanças de lugar para lugar são consideradas para ele como várias reencarnações a mais do que ele tinha direito purificando sua Alma mais ainda e ele chega à perfeição da mesma forma que o Tzadik
(Boa notícia: Mudança de lugar para lugar para ser considerada uma nova reencarnação e purificar mais um pouquinho a nossa Alma pode ser até uma viajem de férias ou de negócios , sendo que você não está na sua casa)
Uma pessoa ruim com uma vida boa
Da mesma maneira que existe o Tzadik que sofre por não ter sido tão Tzadik na reencarnação anterior, existem pessoas que tem uma vida boa agora por terem sido pessoas melhores na reencarnação anterior
Conclusão: Aprendemos daqui que devemos sempre estar felizes em qualquer situação mesmo que nossa situação atual não justifique essa felicidade, e nunca devemos questionar o fato de alguém que se comporta pior do que nós estar tendo uma vida melhor do que a nossa
E quando estamos felizes sem motivo, Hashem nos dá um desconto das pendências anteriores e nos dá o motivo para estarmos felizes de verdade!