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LISE MEITNER E OTTO HAHN EM LABORATÓRIO NA ALEMANHA (FOTO: REPRODUÇÃO) |
A austríaca teve de fugir do regime nazista e permaneceu pouco reconhecida após sua descoberta: Prêmio Nobel foi dado ao seu colega, que era homem.
O processo de fissão nuclear, no qual átomos são quebrados em partes menores, é o que torna as bombas atômicas e as plantas nucleares possíveis. Mas por muitos anos, físicos acreditavam que era impossível do ponto de vista energético dividir átomos tão grandes quanto o urânio (massa atômica: 235 ou 238) pudessem ser divididos em dois.
Isso mudou no dia 11 de fevereiro de 1939. Em uma carta à revista Nature, uma das publicações científicas internacionais mais conceituadas do planeta, a física Lise Meitner descreveu exatamente como executar tal divisão, que chamou de fissão.
Meitner explicou que a tensão na superfície de um átomo se torna mais fraca na medida em que a carga do núcleo atômico aumenta, podendo chegar a zero se a carga nuclear fosse muito alta, como é o caso do urânio (carga nuclear: 92+).
A falta de tensão na superfície permitiria que o núcleo se dividisse em dois, caso bombardeado por um nêutron (partícula atômica sem carga), com cada pedaço carregado de muita energia cinética. “Todo o processo de fissão pode, portanto, ser descrito seguindo a física clássica”, observou Meitner.
Foi um grande feito para a física nuclear, mas até hoje Meitner permanece pouco reconhecida e muito esquecida. Isso porque ela enfrentou dois grandes desafios: ser mulher e judia no período da ocupação Nazista na Alemanha.
Exilada na Suécia, ela manteve a parceria com Otto Hahn, seu colega no Instituto Kaiser Wilhelm de Berlim.
Na hora de publicar a descoberta, porém, Hahn excluiu o nome de Meitner, temendo que incluir o nome de uma mulher judia pudesse lhe custar a carreira na Alemanha. Mas não só: ele insistiu em dizer que Meitner não contribuiu para a descoberta, ainda que o próprio tivesse dificuldade em explicar o processo.
Meitner decidiu, então, escrever a carta para a Nature, explicando o processo que chamou, ironicamente, de “a descoberta do Hahn”.
Nem isso ajudou muito. Em 1944, o comitê do Nobel deu o prêmio de Química a Hahn, pela “descoberta da fissão de núcleos pesados”.
Depois da guerra, Meitner ficou em Estocolmo e se tornou cidadã sueca. Eventualmente, ela perdoou Hahn e os dois voltaram a ser amigos.
O comitê do Nobel, porém, nunca reconheceu o erro. Meitner morreu em 1968, aos 89 anos.