Natalie finalmente dá um basta para a menina boazinha.
Durante muito tempo, o público não permitiu que Portman crescesse. Mas desde “Cisne Negro” ela se recusa a ouvir. O resultado é “Vox Lux”.
No curioso e pouco visto filme Planetarium, de 2016, Natalie Portman faz o papel de uma médium que viaja pelo mundo e vira estrela de cinema por causa do seu carisma. Estudando a gravação de uma das sessões mediúnicas, um diretor em busca de uma médium para seu próximo filme tenta descobrir que apelo a mulher teria na tela. "Presença, tom de pele, espírito, caráter", diz ele, antes de fazer seu pronunciamento. "Foi nela que prestei atenção durante a cena toda."
Soa verdadeira a dificuldade do diretor de explicar por que se sente tão atraído por essa fictícia. Aos 37 anos, ela é uma das atrizes mais polarizantes dos dias de hoje. Mencione seu nome entre críticos de cinema ou fãs dedicados e as opiniões serão sempre muito convictas. Alguns a consideram uma atriz natural e encantadora; outros, uma estrela sem sal e mundana – e as opiniões são divididas praticamente desde que Portman ficou famosa, ou seja, desde sua estreia no cinema, em "O Profissional", de 1994, aos 13 anos.
Eu, de minha parte, adoro Natalie Portman. Sempre adorei. Mas às vezes é difícil encontrar uma explicação mais detalhada que a do filme Planetarium, que descrevi acima. Ela caminha sobre uma linha tênue que divide a menina ingênua da provocadora. Ela representa um complexo de madonna-prostituta da cultura popular, por assim dizer. O paradoxo faz com que os críticos e os diretores de elenco não saibam muito bem como enquadrá-la. Mas esse mesmo paradoxo também é responsável por algumas das performances mais ferozes da atriz.
Quando ela aparece na metade do audacioso novo filme de Brady Corbet, Vox Lux, no papel de uma estrela pop confusa com uma conexão bizarra com o terrorismo, sua chegada poderia ter sido anunciada por um raio. De delineador exagerado e roupa punk-glam, Celeste reclama e grita com todo mundo que aparece na sua frente, suscitando a pergunta que fazemos sobre a bailarina que definiu sua carreira em Cisne Negro: "O que aconteceu com minha menininha?" Ela poderia responder com um "Ela morreu!" abrasivo. A Portman inocente – associada a Star Wars, Onde Está o Coração e Hora de Voltar – é uma lembrança distante.
Mas esse é o lance. A persona de Portman nunca foi construída à base de doçura, por mais que críticos profissionais queiram fazer colar essa descrição à identidade dela. Desde o começo de sua carreira, ela é uma das atrizes mais ousadas de Hollywood, se recusando a associar sua imagem a climas, momentos ou mantras.