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Pesquisadores apuram se banheira em casarão do século 17 na BA teve rituais e se é vestígio mais antigo da presença de judeus — Foto: Reprodução/TV Bahia |
Pesquisadores apuram se banheira em casarão do século XVII na BA teve rituais e se é vestígio mais antigo da presença de judeus no país.
Equipamento foi descoberta há 10 anos em um imóvel que fica no Pelourinho, centro histórico de Salvador.
Pesquisadores investigam se uma banheira descoberta há 10 anos em um hotel antigo, construído no século XVII, no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, recebeu rituais religiosos e se é o vestígio mais antigo da presença de judeus no país.
O hotel fica ao lado da Igreja de São Francisco, um dos templos religiosos mais antigos do Brasil. O gerente do estabelecimento, Bruno Guinard, diz que foi um judeu ortodoxo quem primeiro levantou a hipótese de que a banheira poderia ser, na verdade, uma Micvê, usada em rituais sagrados do judaísmo.
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Hotel onde fica a banheira está localizado ao lado da Igreja de São Francisco — Foto: Reprodução/TV Bahia |
"Eu não sabia o que era Micvê, mas isso, na realidade, batia com a informação de que tinha muitos cristãos novos aqui na região do Centro Histórico, na Bahia, no nordeste", afirma. Os cristãos novos eram os judeus convertidos à força ao cristianismo, no século XV.
O judaísmo era proibido pela igreja católica, inclusive a prática dos banhos sagrados realizados na Micvê. "Tem a função de purificação para mulher, de um lado; para conversões, de alguma forma, se usa Micvê. Tem que tomar esse banho ritual", destaca o presidente da Sociedade Israelita da Bahia, Miguel Kertzman.
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Banheira tem tanque para captar água da chuva Foto: Reprodução/TV Bahia |
Há alguns anos, o grupo de pesquisadores que analisa a banheira, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e também da Universidade de São Paulo (USP), começou a estudar o local.
Algumas descobertas chamam atenção e despertam ainda mais a curiosidade, como, por exemplo, o uso de um tanque, instalado em cima da banheira, para captar água da chuva, ou seja, água pura, como determina a tradição judaica.
"Toda dimensão, volumetria, profundidade, queda d'água, tudo indica que aquilo é uma Micvê. Mas, para ser uma Micvê, ela teria que ter o uso religioso, o ritualístico, e isso a gente não sabe se teve ou se não teve", destaca a historiadora Suzana Severs.
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Pesquisadores apuram se banheira foi usada para rituais sagrados do judaísmo — Foto: Reprodução/TV Bahia |
Para deixar tudo ainda mais misterioso, os historiadores descobriram um processo aberto naquela época pela igreja contra um português que morou na região, bem próximo ao casarão. Segundo o processo, esse português ensinava a uma mulher práticas religiosas judaicas, inclusive o famoso banho ritual, que acontecia numa Micvê. Não se sabe, no entanto, se a banheira do hotel tem alguma relação com esse caso.
Se for confirmado que a banheira é realmente uma Micvê, o estudo sobre a presença judaica no país ganha um novo sentido e ela passa a ser o símbolo mais antigo da presença dos judeus. "O vestígio material mais antigo seria esse, caso a gente comprove, com bases arqueológicas e históricas, que aquele equipamento é, de fato, uma Micvê judaica", disse Suzana Severs.