Encontro foi uma extensão do projeto de leitura da unidade escolar, que contemplou o livro O Diário de Anne Frank
Para os alunos, o entendimento histórico sobre o conflito teve início com projeto de leitura da escola, como explica a coordenadora Lucinda Gavilha. “Percebemos que muitos dos nossos estudantes chegam ao ensino médio sem o contato real com a leitura. Então, desde abril, tiramos um tempo na rotina escolar para praticá-la”, lembra.
Dentro dos debates com os professores sobre qual obra seria adotada, o professor de história, Yuri Chaya Piraccini, sugeriu o livro O Diário de Anne Frank, que conta a trajetória de uma jovem judia holandesa, que passou anos escondida no sótão de uma casa em Amsterdã, fugindo dos nazistas.
“O conteúdo foi pensado dentro da temática de histórias e conflitos de guerra na sociedade mundial e memória viva. O livro retrata isso. Fizemos uma parceria com uma livraria e foram comercializados 150 livros e a escola foi contemplada com 10 unidades para a biblioteca”, lembrou Lucinda.
Louis em Cuiabá
O economista esteve na Capital para uma palestra na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e após alguns contatos, o professor Yuri conseguiu levá-lo até aos estudantes. Muito aplaudido, Louis falou sobre a busca pelo próprio passado.
“Eu tinha sete anos quando a guerra começou, em 1939. No mesmo ano fui pego pelos soldados e enviado primeiro para o Campo de Concentração de Westerbork, e depois para Therensienstadt”, lembrou.
Os seis meses que passou aprisionado pelos alemães, apesar de traumáticos, resultaram em uma história de superação. Ele perdeu os pais – mortos em um dos campos de concentração – viveu longe de sua irmã, que fugiu, foi adotada e viveu de forma clandestina até o final da guerra.
“Nesse processo todo, perdi minha identidade, não sabia mais quem eu era. Foi aí que em 1988 comecei a buscar pela minha história, juntando com o que tinha na memória, com o que os livros relatavam”.
Louis recorda que dos 103 mil judeus holandeses presos no maior campo de concentração da Holanda, apenas 15% deles sobreviveram. Recordou ainda que ele só pode contar a história hoje, graças a um primo distante, que era soldado e reconheceu o seu nome na lista dos prisioneiros.
“Ele correu para falsificar um atestado de batismo na religião evangélica e com isso, não fui mandado para o campo de extermínio junto com outros 3.751 judeus, que foram para o campo mais famoso, o de Auschwitz, na Alemanha”.
Com o fim da guerra, sem a família, ele passou por muitos lares. Emocionado, lembrou dos momentos difíceis ao ser “adotado” por pessoas desconhecidas. “Eu só queria amor e eu não tinha”, finalizou.
Hoje, um dos economistas mais bem-sucedidos no país, com diversos livros publicados na área, se orgulha da família construída no Brasil. Ele é casado e tem três filhos. A família toda conta com 31 pessoas, momento em que aponta para uma foto do grupo projetada na parede.
Memória Viva
Para a estudante do 1º ano do ensino médio, Vivian Balestiro, de 15 anos, o encontro foi emocionante e ela jamais imaginaria vivenciar uma situação parecida.
“Estamos falando sobre de um dos piores crimes contra a vida humana e ele sobreviveu. Nunca pensei que teria a oportunidade de estar de frente com um sobrevivente desse período, estou emocionada”, disse.
A estudantes segurava um exemplar do livro O Diário de Anne Frank e Louis revelou que, apesar de não ter nenhuma memória sobre a jovem, há uma grande possibilidade de terem ficado no mesmo espaço, especialmente durante a distribuição dos prisioneiros para os campos da Alemanha.
“A vinda dele é uma aula inimaginável aos alunos. É uma memória viva, é resgate. Vejo que os estudantes souberam valorizar essa presença e, ainda mais, vão levar a mensagem de superação que o Louis deixa para nós. É um dos maiores momentos da escola”, finalizou a coordenadora Lucinda.