“Tesnota” é o primeiro
longa-metragem do diretor russo Kantemir Balagov, que também responde pela
montagem e pelo roteiro do filme, este em parceria com Anton Yarush. Indícios
claros de um trabalho autoral, que se confirma desde as primeiras imagens, nada
convencionais. Apresenta uma fotografia que enfatiza tons escuros e cores
fortes ao mesmo tempo, fazendo sobressair as tensões do ambiente.
O foco do filme é uma comunidade
judaica, fechada e marginalizada, na localidade de Nalchik, cidade natal do
diretor e capital da República Cabárdia-Balcária, parte da Federação Russa. O
ano: 1998. A personagem central Ilana (Darya Zhovnar), de 24 anos, trabalha na
oficina do pai como mecânica e ama um personagem cabardino, num relacionamento
algo clandestino, não aceito pela família. Trata-se do que na própria trama do
filme é referido como sendo as tribos, que são discriminadas pelos russos.
O evento central da narrativa é o
sequestro de um casal de noivos, logo após a cerimônia de compromisso deles.
David, o noivo, é o irmão mais novo de Ilana. E a questão que se colocará é a
de como pagar o resgate pedido sem mexer com a polícia, para evitar maiores
complicações.
O dinheiro servirá para mostrar,
de um lado, um espírito de coletividade e solidariedade, mas, de outro, o
ressentimento de alguns, a chantagem e também a tentativa de se aproveitar da
situação para conseguir algum objetivo, difícil de ser alcançado por outro
meio.A família de Ilana e David não tem posses suficientes e a própria oficina
mecânica, que é sua fonte de sustento, estará em questão. Assim como o
casamento de Ilana. Passaram a vida se mudando de um lado para o outro, para
tentar sobreviver e escapar dos preconceitos. O sequestro parece levá-los de
volta para a estrada. Inevitável será enfrentar questões éticas, que poderão
complicar ou arruinar a vida de cada um deles: pai, mãe, irmãos e parceiros
amorosos. As decisões que todos têm de tomar são vitais, decisivas e urgentes.
Todo esse clima de angústia e
tensão é muito bem trabalhado ao longo do filme, em ritmo lento e seguro. Pouco
é explicitado verbalmente, o que importa é o que está por trás do não dito.
Está muito presente nos semblantes, gestos, posturas, silêncios. Elementos
fundamentais em “Tesnota”, que dependem do bom desempenho do elenco.
O cineasta tem uma referência e
fonte de influência muito fortes. Estudou e atuou no departamento de cinema da
Universidade de Stravropol, com Alexander Sokurov, um grande cineasta russo da
atualidade que, por sinal, é um dos produtores de “Tesnota”. O filme foi
exibido nos festivais de Munique, Montreal e Cannes, onde se destacou na mostra
Um Certo Olhar (Un Certain Regard), recebendo o prêmio da crítica internacional
(FIPRESCI).