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Sobreviventes do Holocausto passam pelo portão de entrada do campo de concentração de Auschwitz -Alik Keplicz / AP |
VARSÓVIA — Poucos horas após a aprovação de uma lei polonesa que condena associações entre o nazismo e a Polônia — punindo com prisão e multas qualquer sugestão de que cidadãos poloneses participaram do assassinato de judeus —,uma ONG que apoia essa política está processando um jornal argentino com base na nova regra. A Liga Polonesa Contra a Difamação promoveu uma ação legal contra o diário "Pagina 12", que parece ser a primeira desde a aprovação da lei.
A Liga, que afirma proteger a reputação histórica da Polônia no estrangeiro, afirmou em dezembro de 2017 que o jornal usou uma fotografia dos chamados "soldados amaldiçoados" poloneses, que lutaram contra resistentes comunistas e soldados soviéticos ao final da Segunda Guerra, para ilustrar um artigo sobre massacre do vilarejo de Jedwabne em 1941, quando soldados nazistas e moradores locais foram responsáveis pela morte de 340 judeus.
"A combinação dessas duas ameaças: informação sobre o crime de Jedwabne durante a ocupação alemã e a exibição desses soldados como imagem de fundo configura manipulação, um ato em detrimento da nação polonesa", disse a organização em um comunicado.
O atual partido no governo polonês, o nacionalista Lei e Justiça, louva a atuação histórica dos "soldados amaldiçoados". Enquanto muitos são vistos como heróis nacionais na luta contra a dominação soviética, outros perpetraram o assassinato de judeus, bielorussos e outras minorias.
Em um artigo postado em seu site na noite de sábado, o "Página 12" afirmou que o jornal não tinha sido comunicado oficialmente: "Esse jornal não recebeu nenhuma comunicação legal e só ficou sabendo da informação por agências internacionais de notícias. Se tiver sucesso, essa tentativa de censura internacional pode ameaçar a liberdade de expressão no mundo inteiro", afirmou o diário.
O vice-ministro da justiça Michal Wojcik afirmou que esperava que o caso fosse levado para os tribunais.
— Essa organização tem o direito de submeter essa ação. Se o tribunal decidir que a reclamação é legítima, o que deve fazer, então teremos um processo — disse ele à rádio polonesa Zet.
Judeus de toda a Europa foram enviados para morrer campos de morte construídos e operados por alemães na Polônia ocupada — onde estava a maior comunidade judaica da Europa na época — o que incluia Auschwitz, Treblinka, Belzec e Sobibor.
Por volta de 3 milhões de judeus que viveram na Polônia antes da guerra foram assassinados pelos nazistas, o que representa cerca de metade de todos os judeus mortos no Holocausto. Milhares de poloneses arriscaram suas vidas para proteger os vizinhos judeus durante a guerra. Mas pesquisas e estudos publicados desde a queda do comunismo em 1989 mostraram que vários também mataram judeus ou denunciaram aqueles que os escondiam, desafiando a narrativa nacional de que a Polônia era apenas uma vítima.
De acordo com autoridades do Museu Memorial do Holocausto dos EUA, os nazistas, que invadiram a Polônia em 1939, também mataram pelo menos 1,9 milhão de civis poloneses que não eram judeus.
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