O Senado da Polônia aprovou uma lei sobre o Holocausto que
prevê até três anos de prisão ou uma multa para quem usar a expressão
"campos da morte polacos" para designar os campos de extermínio
instalados pelo regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Israel, Estados
Unidos e Ucrânia criticam vivamente o diploma.
O objetivo da lei, que quer penalizar o uso da expressão
"campos da morte polacos", é “defender a imagem do país” e impedir a
atribuição ao Estado polaco dos crimes cometidos pelos nazis na Polônia ocupada
na Segunda Guerra Mundial.
O Senado aprovou o documento, mas para entrar em vigor, o
texto precisa de ser promulgado pelo presidente polaco, Andrzej Duda.
Nos últimos anos, o debate sobre os “campos de morte
polacos” - como Auschwitz, Treblinka ou Sobibor que foram construídos e
instalados pelos nazis em território polaco após a invasão em 1939 - reabriu as
feridas do passado. Em causa, a publicação de teses que mostram que houve
polacos que ajudaram nas atrocidades cometidas pelo regime nazi. Daí o
surgimento desta lei para “defender a imagem do país”.
Críticas de Israel, Estados Unidos e Ucrânia.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, avisou
que não vai “tolerar que se deforme a verdade e se reescreva a história ou se
negue o Holocausto”.
Israel denuncia a tentativa de negar a participação de uma
parte dos polacos no extermínio de judeus e teme que sobreviventes do
Holocausto sejam perseguidos pela justiça se evocarem a sua história.
Em resposta, esta quarta-feira, no parlamento israelense,
foi apresentada uma proposta de lei que prevê uma pena de cinco anos de prisão
para os que “reduzam ou neguem o papel dos que ajudaram os nazis nos crimes
cometidos contra os judeus”.
Também o ministro dos Transportes, Israel Katz, reclamou a
retirada do embaixador de Israel na Polônia.
Os Estados Unidos da América juntaram-se aos protestos de
Israel e pediram a Varsóvia que reconsidere a sua posição, expressando
“profunda preocupação” pelas consequências do diploma. Washington avisou que
pode haver “repercussões” nos “interesses e relações estratégicas da Polônia,
incluindo com os Estados Unidos e Israel”.
O presidente ucraniano, Petro Porochenko,
considerou o diploma « inaceitável», escreveu estar « profundamente preocupado»
e denunciou considerações “distorcidas e categoricamente inaceitáveis”. É que o
diploma também prevê a penalização dos que negarem os crimes dos nacionalistas
ucranianos sobre os polacos, entre 1925 e 1950.
Mais de três milhões de judeus polacos foram
exterminados pelo regime nazi
Na Polônia, antes da invasão nazi, em 1939, vivia a maior
comunidade judaica da Europa, cerca de 3,2 milhões de pessoas. Mais de três
milhões foram exterminados pelo regime nazi, o que representa metade da
totalidade dos judeus assassinados durante o Holocausto.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Polônia foi o único
território onde os alemães decretaram que qualquer ajuda aos judeus seria
punida com pena de morte. 6.700 polacos foram distinguidos como “justos” por
terem ajudado judeus a fugirem aos campos da morte. De acordo com o centro israelense
Yad Vashem, entre 30.000 e 35.000 judeus – cerca de um por cento da comunidade
judaica na Polônia – foram salvos com a ajuda da população polaca.