Livro mostra como alguns nordestinos vêm promovendo um retorno às tradições judaicas (Nelson Vasconcelos, O Globo)
Empenhado em registrar as tradições culturais do país, o fotógrafo e jornalista mineiro Felipe Goifman tem acompanhado o crescimento no número de seguidores da religião judaica no Nordeste. Isso está acontecendo, segundo ele, porque descendentes dos primeiros cristãos-novos (judeus que adotaram a religião católica para escapar da Inquisição, a partir do século XIV) estão agora retomando a antiga fé de seus antepassados.
Foi para registrar esse movimento de volta às raízes que Goifman publicou “Em busca de Sefarad — De Portugal a Pernambuco” (Ed. FGR), que será lançado em março no Rio. O material também vai render um documentário homônimo, ainda em produção. De acordo com o jornalista, essa mudança cultural tem sido bem nítida em Pernambuco, estado que concentrou muitas comunidades de cristãos-novos que chegaram ao Brasil já a partir do século XVI, com os primeiros colonizadores.
O interesse de Goifman pela história do povo judeu radicado no Brasil começou há 20 anos, quando conheceu Belmonte, em Portugal, cidade de Pedro Álvares Cabral (1467-1520). O brasileiro ficou surpreso ao descobrir que a comunidade judaica daquela região conseguiu resistir a três séculos da Inquisição cultivando em segredo a sua fé e os seus costumes. Publicamente, comportavam-se como católicos e até frequentavam igrejas. Num engenhoso jogo de dissimulação, praticando uma espécie de sincretismo conveniente, os expatriados costumavam rezar somente da boca para fora, mantendo a crença verdadeira em sua mente e seu coração.
Parte das fotografias que Goifman fez naquela primeira visita à região de Belmonte, entre outras cidades e vilarejos de Portugal, está no livro. Elas representam a origem dos judeus que vieram para o Brasil, onde a presença da Inquisição era mais branda. Além das fotos capturadas em Portugal, Goifman registra neste seu sexto livro as viagens que fez a Pernambuco e Paraíba nos últimos anos, percorrendo cidades do interior e do litoral, sempre atrás de comunidades integradas à cultura judaica, que ficaram séculos longe de sua fé original. Encontrou (e registrou) muitas histórias desses “judeus novos”, os chamados Bnei Anussim. “Os Bnei Anussim são esses descendentes dos antigos cristãos-novos, explica o fotógrafo.
As fotos surpreendem ao fugir do clichê do sertanejo católico pedindo a bênção a seus padins ciços em meio à paisagem árida e pobre. Goifman também mostra a presença dos judeus religiosos em cidades como Campina Grande e Recife — onde foi fundada, em 1636, a primeira sinagoga das Américas. Na época, parte do Nordeste vivia sob o domínio dos holandeses, bastante tolerantes em relação à liberdade de culto. Pelo seu alentado texto histórico, “Em busca de Sefarad...” tem tudo para se tornar obra de referência sobre este momento de transformação da cultura judaica, sobretudo entre os sefaraditas, ou seja, oriundos da Península Ibérica.

“Em busca de Sefarad — De Portugal a Pernambuco”;Autor: Felipe Goifman. Editora: FGR. Páginas: 176. Preço: R$ 90. Lançamento: Dia 24 de março, 18h.
Quero um exemplar.
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