Judeus ortodoxos e universidades tentam se conectar em Israel

Judeus ortodoxos e universidades tentam se conectar em Israel

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Coisas JudaicasAntes isolados, judeus ortodoxos e universidades tentam se conectar em Israel.

Comunidade religiosa busca melhores empregos e fonte de renda maior; sistema universitƔrio tenta se adaptar a novo perfil de alunos.

Israel estĆ” entre os paĆ­ses com maior grau de instruĆ§Ć£o no mundo. Em 2016, 49,9% das pessoas de 25 a 64 anos tinham um diploma de Ensino Superior, terceira maior proporĆ§Ć£o do planeta, segundo dados da OrganizaĆ§Ć£o para CooperaĆ§Ć£o e Desenvolvimento EconĆ“mico (OECD). Mas um grupo dentro da sociedade israelense destoava dessa estatĆ­stica: os chamados judeus ultraortodoxos, que compƵem a comunidade mais conservadora do judaĆ­smo.

Em geral, os praticantes desta linha dedicam a maior parte da vida ao estudo da BĆ­blia, casam relativamente cedo e constituem famĆ­lias com muitos filhos. Em Israel, hĆ” bairros e pequenas cidades formadas quase totalmente por ultraortodoxos, que acabam tendo contato mĆ­nimo com pessoas de outras linhas. 

InserĆ§Ć£o 

Segundo o AnuĆ”rio de 2017 da Sociedade Ultraortodoxa em Israel, publicado pelo Instituto de Pesquisa PolĆ­tica de JerusalĆ©m, os ortodoxos representam atualmente 12% da populaĆ§Ć£o e 4% dos estudantes universitĆ”rios do paĆ­s. Mas essa proporĆ§Ć£o vem aumentando consideravelmente: a publicaĆ§Ć£o mostra que, em sete anos (do ano letivo de 2009/2010 ao de 2015/2016), a taxa de crescimento de estudantes ultraortodoxos em instituiƧƵes de ensino superior cresceu 147% – em contrapartida, o crescimento no nĆŗmero total de estudantes foi de 10% no mesmo perĆ­odo. 

A doutora em EducaĆ§Ć£o e Sociologia pela Universidade Hebraica de JerusalĆ©m, Elana Sztokman, alerta, porĆ©m, que pesquisas precisam ser olhadas com cuidado, pois contam apenas quantos alunos comeƧaram os estudos. "As estatĆ­sticas nĆ£o incluem quanto desses estudantes realmente se formam e conseguem empregos", ressalta. 

Zvi Schreiber Ć© diretor do Campus Lustig, um dos campus femininos da Faculdade Lev, que segue a linha judaica ultraortodoxa – nas faculdades ultraortodoxas, homens e mulheres nĆ£o estudam juntos. Ele acredita que o contexto do paĆ­s influencia no aumento de estudantes acadĆŖmicos dentro das faculdades e universidades:

Vivemos em Israel e nĆ£o nos desconectamos do que acontece aqui. O paĆ­s estĆ” entre os primeiros do mundo em quantidade de estudantes acadĆŖmicos proporcionalmente. SĆ£o nĆŗmeros que falam por si sĆ³. 

MotivaĆ§Ć£o 

A maior motivaĆ§Ć£o dos estudantes Ć© a busca por emprego qualificado, como Ć© o caso de Noah e Hadas, estudantes de AdministraĆ§Ć£o no Campus Lustig. Noah conta que o diploma Ć© algo que entrou definitivamente na comunidade ultraortodoxa. "Diria que, hoje, 80% das minhas amigas estudam na graduaĆ§Ć£o", ela comenta. 

Schreiber acredita que, nos Ćŗltimos anos, tornou-se mais aceitĆ”vel para esta comunidade dedicar-se a estudos acadĆŖmicos. Isso porque, antigamente, era tradiĆ§Ć£o entre a comunidade judaica ultraortodoxa priorizar a dedicaĆ§Ć£o a estudos bĆ­blicos e Ć  famĆ­lia, um costume que afasta os judeus ultraortodoxos da sociedade judaica israelense em geral. Elana Sztokman explica:

Em Ćŗltima anĆ”lise, rabinos ultraortodoxos criaram uma subcultura dentro de Israel de famĆ­lias que nĆ£o trabalham e que procriam muito. Ɖ claro que o restante da sociedade vai responder com ressentimento. A lacuna cultural e a raiva vĆŖm da existĆŖncia de um grupo inteiro que nĆ£o 'sustenta seu peso' e depende totalmente do outro grupo para sustentĆ”-lo.

Orna Kupferman, professora de CiĆŖncia da ComputaĆ§Ć£o na Universidade Hebraica, lembra ainda que, na verdade, a comunidade ultraortodoxa comeƧou a buscar mais renda antes mesmo de se inserir no ensino superior "devido a decisƵes polĆ­ticas que reduziram os valores recebidos do governo". 

Contexto social 

O que ocorre Ć© que os homens que se dedicam somente Ć  religiĆ£o podem receber auxĆ­lio do governo para sustentar suas famĆ­lias. EntĆ£o, por muitos anos, essa parcela da populaĆ§Ć£o nĆ£o esteve inserida na comunidade acadĆŖmica e no mercado de trabalho na mesma proporĆ§Ć£o que os israelenses judeus em geral. 
Isso explica por que hĆ” mais mulheres ultraortodoxas trabalhando que homens da mesma linha religiosa. Dentre os ultraortodoxos, 73% delas estĆ£o empregadas em Israel, enquanto 52% dos homens trabalham. JĆ” entre os judeus nĆ£o-ultraortodoxos, as taxas sĆ£o de 82% para mulheres e 87% para homens. Ou seja, alĆ©m de ser uma proporĆ§Ć£o maior, hĆ” uma diferenƧa menor entre os gĆŖneros. 

O crescimento no nĆŗmero de ultraortodoxos nas universidades nĆ£o significa, necessariamente, uma reduĆ§Ć£o nos estudos bĆ­blicos. No Campus Lustig, por exemplo, sĆ£o oferecidas tambĆ©m aulas de religiĆ£o. "Os dois estudos andam juntos", comenta Noah, enquanto sua colega Hadas completa, elogiando a faculdade: "Tem aulas de religiĆ£o para quem quer conciliar. Isso nos dĆ” estrutura. Ɖ um lugar que se preocupa conosco. NĆ£o Ć© um lugar em que vocĆŖ faz o que quiser". 

Ziv Schreiber detalha que academicamente as matĆ©rias sĆ£o independentes. "Os estudos religiosos nĆ£o tĆŖm nenhuma relaĆ§Ć£o com os estudos acadĆŖmicos. As disciplinas de religiĆ£o nĆ£o fazem parte das notas". 

EvoluĆ§Ć£o social 

Para Orna Kupferman Ć© crucial que os ultraortodoxos se tornem uma comunidade produtiva, mas ela explica que ainda Ć© difĆ­cil notar as consequĆŖncias sociais e econĆ“micas geradas pela maior presenƧa dessa classe no Ensino Superior. "Infelizmente, como eles continuam segregados nos locais de trabalho, Ć© difĆ­cil dizer (o impacto na sociedade). Mas vemos sim mais lugares de trabalho que separam homens e mulheres para atender Ć  demanda por segregaĆ§Ć£o". 

No Campus Lustig, as alunas comeƧam a estudar imediatamente apĆ³s o Ensino MĆ©dio, algo incomum em Israel. Como todos devem servir ao ExĆ©rcito a partir dos 18 anos, costuma-se entrar na faculdade somente apĆ³s o perĆ­odo de serviƧo militar, que dura cerca de dois anos para as mulheres e em torno de trĆŖs anos para os homens. PorĆ©m, Ć© possĆ­vel conseguir dispensas definitivas ou temporĆ”rias do exĆ©rcito por questƵes religiosas ou por estar cursando Ensino Superior. 

"Quando elas casam – e estamos cientes de que casam cedo –, as mulheres vĆ£o ter suas casas para cuidar. E, em alguns casos, os maridos nĆ£o trabalham. EntĆ£o, a mulher precisa trabalhar. Por isso, as meninas tentam estudar o mĆ”ximo possĆ­vel antes do casamento, imediatamente apĆ³s o Ensino MĆ©dio, para conseguirem se formar logo, pelo menos um antes de casarem", explica Schreiber. 

Problema 

Orna Kupferman chama atenĆ§Ć£o, porĆ©m, para uma questĆ£o relacionada ao ensino bĆ”sico. "Em longo prazo, essa pequena mudanƧa que ocorre agora pode ter mais desvantagens que vantagens. Pode dar a impressĆ£o de que Ć© possĆ­vel preencher uma lacuna de 12 anos de Ensino MĆ©dio e Fundamental, o que Ć© errado. Uma vez que as autoridades de EducaĆ§Ć£o Superior nĆ£o insistem em ensino bĆ”sico, os lĆ­deres ultraortodoxos dizem que Ć© ok continuar com crianƧas sem educaĆ§Ć£o bĆ”sica. E aquelas que eventualmente quiserem estudar em nĆ­vel superior, conseguem", opina. 

De acordo com Kupferman, mais de 50% dos alunos ultraortodoxos nĆ£o se formam por causa de sua "bagagem defasada". Ela se refere ao fato de as escolas da comunidade ultraortodoxa dedicarem grande parte das aulas ao estudo de religiĆ£o, dando menos ĆŖnfase Ć s disciplinas regulares. 

HĆ” seis anos, a Universidade Hebraica oferece Ć  comunidade ultraortodoxa um curso prĆ©-acadĆŖmico para minimizar essa diferenƧa. "Ɖ muito desafiador porque a defasagem nĆ£o Ć© sĆ³ em matemĆ”tica ou inglĆŖs, mas tambĆ©m em hĆ”bitos de estudo. EntĆ£o, eles sĆ£o integrados nos programas usuais, e tentamos promover um forte aconselhamento social e acadĆŖmico", explica Kupferman sobre o programa, que conta atualmente com cerca de 300 alunos. 

A professora afirma que mais da metade dos alunos continua seus estudos na prĆ³pria Universidade Hebraica, mesmo sem turmas que separam homens de mulheres. A convivĆŖncia entre ultraortodoxos e nĆ£o-ultraortodoxos no campus da universidade Ć© animadora, na visĆ£o de Kupferman. "Essa Ć© exatamente uma das razƵes pela qual nĆ£o queremos programas segregados (em cursos universitĆ”rios)", ela relata. 

"Queremos ver mais estudantes ultraortodoxos, achamos importante que eles completem a lacuna na educaĆ§Ć£o bĆ”sica e estamos dispostos a nos comprometer com a questĆ£o da separaĆ§Ć£o de gĆŖnero no paĆ­s. Mas, uma vez que isso chega Ć  EducaĆ§Ć£o Superior, acreditamos que a segregaĆ§Ć£o Ć© muito ruim para todo mundo, e nĆ£o queremos ser parte de um programa baseado nisso", enfatiza.



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