O anúncio da saída dos Estados Unidos da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), nesta quinta-feira (12), seguido pela própria retirada de Israel deste órgão executivo da ONU (Organização das Nações Unidas), é uma demonstração de que Israel continua sendo o principal parceiro estratégico do país, em aliança alimentada em grande parte pela ação de grupos comunitários judaicos nos Estados Unidos, como o American Jewish Comitee (fundado em 1906).
A iniciativa, pautada em grande parte pelo que o país considera um viés anti-Israel da Unesco, também acontece em um momento no qual se verificou um recrudescimento do antissemitismo nos Estados Unidos e em algumas partes do mundo. Um sentimento que muitas vezes é ofuscado por uma retórica contra Israel, no fim das contas, um Estado judaico.
A saída americana, a segunda desde 1984, é também uma estratégia para enfraquecer a atual diretoria da entidade e mudar a linha de conduta a partir das eleições para uma nova gestão, nesta semana.
As últimas resoluções da Unesco, que tem passado por problemas de financiamento, foram colocadas de forma unilateral, elaboradas por países hostis a Israel, e, em vez de gerar integração para um debate, apenas acirraram discordâncias e provocaram a ira do governo israelense. A entidade não recebe verbas dos EUA desde 2011.
Em julho último, o órgão misturou por completo questões políticas atuais com tradições milenares ligadas a uma cultura e a uma religião.
Utilizando uma postura agressiva, e por que não dizer belicosa, à nação judaica, a entidade realizou votação na qual a cidade de Hebron, na Cisjordânia, foi considerada um patrimônio mundial do Estado da Palestina. No local há o Túmulo dos Patriarcas do judaísmo, Abrão, Isaac e Jacó e suas esposas Sara, Raquel e Lea.
Anteriormente, o órgão já havia aprovado resoluções polêmicas que irritaram a comunidade judaica, como uma em maio, na qual, pela instituição, foi retirada a soberania de Israel da cidade de Jerusalém, antecipando-se inclusive a possíveis negociações entre as partes e às determinações da ONU.
Em outubro, a entidade aprovou texto que se referia aos locais sagrados em Jerusalém somente pela denominação usada pelos muçulmanos.
Tais iniciativas foram uma tentativa de minimizar a ligação evidente dos judeus com aquelas regiões, encaixando-se a um radicalismo que busca somente negar qualquer ação, ainda que positiva, vinda do Estado de Israel.
Desta vez, ao invés de apenas argumentar, protestar e deixar de investir, como vinha ocorrendo nos últimos anos, Israel e Estados Unidos resolveram agir, demonstrando indignação com a postura da atual gestão da Unesco e rebatendo, de forma diplomática, à altura a instituição.
Em outros tempos, pode-se dizer que a aliança entre Estados Unidos e Israel que, entre idas e vindas, se fortaleceu a partir do governo de Harry Truman (1945-1953), seria mais criticada.
Mas há, neste momento, vários outros países, entre eles as potências Itália, Alemanha e Reino Unido, concordando com a repulsa israelense a tais resoluções. Ainda mais em tempos de globalização, em que um importante parceiro tecnológico, que cada vez mais vem mostrando um ardente desejo de integração, tem pleno direito à sua identidade. E não pode ver afrontada a sua história.