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Rabinos israelenses usam critérios rígidos de identidade judaica para vetar casamentos

Os rabinos-chefes, o asquenazi David Lau (esq.) e o sefardita Yitzhak Yosef,
têm o poder de decidir quem é ou não judeu e, portanto, cidadão pleno
Reut T, secretária israelense de 28 anos, considera-se uma judia tradicional praticante e frequenta a sinagoga toda semana. Por isso, ter sua religião questionada ao querer se casar foi um choque humilhante.
A intimação de um tribunal rabínico chegou do nada. Ela não seria casada pelo rabinato e seu judaísmo estava sendo questionado, em um caso hoje disputado na Suprema Corte de Israel. 
Reut – que pediu para não ser identificada para evitar problemas para sua família – não é a única.

Pertence a um grupo crescente de cidadãos israelenses que, apesar de reconhecidos pelo Estado judaico, têm sua religião questionada por um rabinato oficial que goza de monopólio quase exclusivo sobre casamento civil e outras questões.
Esse problema outrora afetava poucos, mas a situação mudou sob um novo rabinato-chefe assertivo, dominado por ultraortodoxos. Um grupo chamado ITIM: Recursos e Advocacia para a Vida Judaica, que representa Reut e outras famílias, diz que nos últimos dois anos o rabinato convocou dezenas a  provar sua condição de judeus.
Segundo números oficiais obtidos pelo grupo, dobrou entre 2011 e 2016 o número de pessoas rotuladas “pendente de confirmação do judaísmo” e aumentaram 460% aquelas rejeitadas como “não judias”. É vergonhoso e doloroso e muitos mantêm a experiência em privado para proteger parentes cujo judaísmo poderia ser questionado.
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“São membros de famílias que passaram por um exame completo de sua condição religiosa e vieram morar em Israel”, afirmaram os advogados de Reut e o ITIM em uma apelação, afirmando que os tribunais rabínicos não têm autoridade legal para investigar ou rejeitar por iniciativa própria o judaísmo de cidadãos israelenses.
“De repente e sem o seu consentimento, uma dúvida é projetada sobre sua condição e eles têm de responder ao tribunal rabínico sem nada ter feito para merecer esse julgamento. Não há espaço suficiente para descrever os danos pessoais e emocionais que essa situação cria.”

O aumento repentino das investigações também coincide com um regulamento vago, mas de amplo alcance, emitido pelos tribunais rabínicos em 2016, que pede investigação caso “surjam dúvidas sobre o judaísmo de um parente” e que os tribunais “esclareçam a questão de sua religião para fins de se casar segundo as leis judaicas”.

O aumento ocorre em meio a um conflito cultural mais amplo entre o rabinato-chefe dominado pelos ultraortodoxos e grupos menos linha-dura em Israel e na diáspora judaica sobre o que significa ser judeu e quem tem autoridade para definir essa condição. Entre outras coisas, isso causou confronto neste ano sobre os planos para permitir a homens e mulheres rezarem juntos no Muro das Lamentações, em Jerusalém.
Resultou também na revelação de uma suposta “lista suja” de 160 rabinos em todo o mundo em quem o rabinato não confia para verificar a fé judaica de imigrantes em Israel. Entre os nomes está o rabino estadunidense que supervisionou a conversão de Ivanka Trump.
O problema de Reut é ela ter ido da antiga União Soviética para Israel com 10 meses, neta de uma sobrevivente órfã do Holocausto adotada por um casal não judeu que lhe fez comentários antissemitas.
Sua avó foi marcada pela experiência, disse Reut, e, após fugir dos pais adotivos na adolescência, escondeu o fato de ser judia em documentos oficiais da URSS, decisão que voltou para assombrar sua família.
“Quando decidi me casar, sabia que teria de passar por um processo de registro, por isso entrei em contato com uma organização religiosa que ajuda com os documentos”, disse ela ao Observer. “Um dos rabinos disse que era problemático por nós não termos a certidão de nascimento de minha avó, mas eles tentariam encontrá-la nos arquivos.”
Em vez de ajudar Reut, porém, o rabino levantou dúvida sobre seu judaísmo junto ao rabinato. “Então, eu soube que tinha sido convocada a um tribunal rabínico em Tel-Aviv, para discutir minha situação.”
O processo levou Reut, o irmão e a mãe a serem listados como “não judeus” pelo rabinato.
Para o rabino Seth Farber, diretor da ITIM, é uma questão de como a condição judaica é definida em Israel e como o rabinato a está usando, pelo menos para quase 1 milhão de judeus da ex-URSS que foram para Israel sob um direito de retorno administrado pelo Estado que estabeleceu sua condição para fins de cidadania.

“Esta é uma tendência muito preocupante. Israel é um país de imigrantes. Se isso continuar, põe em perigo os mais básicos direitos humanos de mais de 1 milhão de cidadãos”, disse Farber. “Além de ser contra a lei judaica, pela qual se deve acreditar na palavra de quem se declara judeu. Um pequeno grupo impõe suas visões fundamentalistas.
“Nos primeiros 50 anos do Estado, foi pro forma. Você se definia como judeu e levava testemunhas para confirmar. Mas, conforme o rabinato tornou-se mais poderoso e independente e a nova tecnologia permitiu, deixou de ser uma questão de confiança. 

“Todo um departamento foi criado para verificar a documentação e, sete anos atrás, compilou e publicou todo um manual. Isso levou ao último desdobramento, a iniciação de investigações sobre o judaísmo, um processo que começou a crescer em 2015. E hoje eles parecem estar checando não apenas as pessoas registradas para se casar, mas rechecando pessoas já casadas se tiverem alguma suspeita.”

Farber acredita que há uma questão em jogo, além de indivíduos e famílias. “Tem a ver com o que Israel vai ser. Nós não interrogamos judeus e os submetemos a investigações.” Ele relaciona as recentes medidas do rabinato-chefe e tribunais à política de coalizão de Israel, que permitiu a pequenos partidos ultraortodoxos que apoiam o governo de direita de Benjamin Netanyahu adquirirem influência desproporcional.
Para Reut, a experiência foi humilhante. “Era muito importante, para mim, me casar sob a lei judaica. Tive de recorrer a uma organização privada e me casei em Chipre para ser reconhecida como casada pela lei civil em Israel. Sinto-me uma cidadã de segunda classe. É absolutamente ridículo que, como israelense que vai à sinagoga todas as semanas, eu não tenha autorização para me casar aqui, só porque alguém duvidou de minha condição de judia.”

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