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Klezmer o ritmo e o som judaico

A princípio a palavra klezmer (plural klezmorim) designava apenas os instrumentos musicais, sendo posteriormente estendida aos próprios músicos - estes vistos com pouco apreço pois em geral não sabiam ler música e portanto, tocavam melodias de ouvido. Somente na segunda metade do século XX klezmer passou a identificar um gênero, antes referido simplesmente como música yiddish .

Apesar de viver em stheitls (guetos judaicos) na Polônia, Romênia, Bulgária, Hungria etc., os klezmorim, quase sempre músicos amadores, absorveram a cultura local, com forte influência cigana, e constituíram a base da cultura musical iídiche. Formavam grupos itinerantes que tocavam em festas judaicas - casamentos e outras celebrações - um repertório basicamente feito para danças em grupo ou entre casais.

Na formação dos primeiros grupos, predominavam os instrumentos de cordas, sobretudo o violino que há séculos tem sido o instrumento protagonista entre os músicos judeus. O lema dos klezmorim era "Shpil, klezmer, biz di strunes plotsn dir" ("Toca Klezmer, até as cordas dos violinos se partirem!"). Era acompanhado por um címbalo, um contrabaixo ou um cello), usando-se eventualmente uma flauta. A partir do século XIX, com o surgimento das bandas militares, foram sendo adicionados instrumentos de sopro (clarinete, saxofone e trompete) e de percussão. No século XX, nos primórdios da indústria fonográfica, era mais difícil gravar instrumentos de cordas do que instrumentos de sopro - o que reforçou o papel destes últimos nas formações de klezmer. Atualmente o clarinete é usado para a melodia e são frequentes os ensembles de metais. O papel do baixo é muitas vezes desempenhado pela tuba ou saxafone e a percussão tem-se tornado cada vez mais importante.

No século XX, quando os judeus deixaram a Europa Oriental e os shtetls, o klezmer difundiu-se no mundo, especialmente nos Estados Unidos, influenciando importantes compositores, como Gershwin, Leonard Bernstein e Aaron Copland. De fato a música Klezmer reinventou-se nos EUA. Ali fundaram-se mesmo escolas voltadas para a aprendizagem da música Klezmer.

A maior parte do repertório é constituída de danças para casamentos e outras celebrações judaicas, como o Bar Mitzvah. A música tinha que se enquadrar no acontecimento solene e ao mesmo tempo incitar os convidados a dançar no fim da cerimônia religiosa. No entanto, apesar de ter a sua origem nas cerimônias de casamento, klezmer nunca foi só para dançar mas também para ouvir durante o banquete.

As gravações mais antigas de que se tem notícia são as quatro Romanian Fantasies executadas pelo violinista Josef Solinski entre 1907 e 1908. Os Klezmatics basearam-se nas mesmas para a composição "Romanian Fantasy" no álbum "Jews with Horns". Ao longo dos séculos XIX e XX transformou-se, ganhando virtuosismo e sofisticação. Em 1925 foi criado o YIVO - Institute for Jews Research. Mais tarde, Henry Sapoznik criou em Nova Iorque o Archive of Recorded Sound, inserido nesta instituição. Recolheu e catalogou antigas gravações numa série de compilações.[1]
 
Nos anos 1970 houve um ressurgimento protagonizado por artistas como: Giora Feidman, Zev Feldman, Andy Statman, The Klezmorin, The Klezmer Conservatory Band e Henry Sapoznick.

Na década de 1980 deu-se um segundo revival, com artistas como Joel Rubin, Budowitz, Khevrisa, Di Naye Kapelye, Alicia Svigals e The Chicago Klezmer Ensemble.
Características  
Como características principais do klezmer destacam-se:

melodias semelhantes aos efeitos produzidos pela voz humana - riso, choro - e procurando simultaneamente imitar cânticos litúrgicos;
a dança como componente determinante;
improvisação e liberdade na leitura da partitura;
mistura de influências, como música cigana;
a formação constituída por um número reduzido de elementos e diferentes instrumentos.
Atualmente, a música Klezmer é produzida e consumida por Judeus e Gentios (Não-Judeus).
Ritmo, Métrica e Andamentos
Na sua forma original, klezmer era música ao vivo destinada à dança. Por isso, o andamento era alterado em função do cansaço do público participante. Alternavam-se andamentos lentos e rápidos, por vezes frenéticos.

Uma das figuras rítmicas predominantes é a síncope. Os ornamentos mais frequentes eram escalas rápidas e apojaturas. Era também frequente o uso de acentuações, podendo ser alterada a acentuação natural dos compassos. Os compassos mais utilizados são 3+3+2 (por exemplo em 8/8); 2/4; 4/4 e 3/8 (acentuações no 1º e 3º tempos). O tempo não é metricamente estável.

Estrutura e Harmonia
A maioria das canções é dividida em várias secções, por vezes em diferentes tonalidades - maiores e menores. As canções instrumentais por vezes seguem o tipo de progressão harmônica da música oriental, como na música Grega.

Nas canções Yiddish vocais o processo é mais simples, seguindo o estilo e progressão harmônica da canção russa.

Uma vez que os Klezmorim tinham de tocar por muitas horas, era complicado manter a afinação dos instrumentos (principalmente os de cordas). Como a melodia é o elemento mais importante, as dissonâncias na harmonia enquadram-se perfeitamente no Klezmer.

Modos melódicos
Os modos mais usados são os shteygerim - modos de oração - semelhantes aos modos dos Bálcãs. Assim como as letras das canções, toda a terminologia usada em klezmer é yiddish, a saber:

Ahava Rabboh
É construído sobre o 5º grau da escala menor harmônica, com tetracorde descendente para a Tonica. É comum o uso da escala Ahava Rabboh em Ré.

Mi Sheberach
Tem uma 4ª aumentada e é usado em doinas ou peças de dança. Quando usado em conjunto com o Ahava Rabboh fica um tom abaixo.

Adonoy Moloch
É parecido com o modo mixolídio e com o modo árabe Siga Maqam.

Mogen Ovos
É semelhante à escala menor natural e ao modo árabe Bayat Maqamat e Bayat-Nava.

Yishtabach
É parecido com o Mogen Ovos mas o 2º e o 5º grau são baixos.

Canções

Há canções para dançar e outras somente para se ouvir. As canções dançantes são mais numerosas.

Freylekhs, Bulgar ou Volekhl - uma dança em círculo no compasso 8/8 (3+3+2). Está no modo melódico Ahava Rabboh. Um piano, um acordeão ou um baixo tocam o tradicional oom-pah. É a mais popular das danças Klezmer.
Sher - é em 2/4 e é uma das mais populares.
Khosidl - Dança em 2/4 e 4/4, pode ser dançada em círculo ou em linha.
Hora ou Zhok - de estilo moldavo, bastante ornamentada. Compasso 3/8, com acentuações no 1º e 3º tempos.
Kolomeike - em 2/4, é rápida e com melodias que ficam no ouvido facilmente. Tem origem na Ucrânia, sendo parte do folclore daquele país.
Terkish - é em 4/4 e semelhante à habanera.
Skotshne - muito semelhante à Freylekh, mas mais complexa. Pode igualmente funcionar como peça instrumental.
Nigun - em 2/4, mas num andamento calmo. Significa melodia em Yiddish e Hebraico.
Padespan - é um estilo que reúne características da valsa russa e espanhola familiar aos Klezmorim.
Mazurka e Polka - são danças tchecas e polacas, tocadas quer por Judeus quer por Gentios (não-Judeus).
Cakewalks - danças populares Afro-americana do início do século XX, inclusive entre os Judeus da Europa de Leste.
Czardas - dança popular húngara interpretada por Judeus da Hungria, Eslováquia e dos Cárpatos. Começa com uma introdução lenta, por vezes com um instrumento solista, e depois gradualmente o andamento se torna mais rápido.
Sirba - em 2/4. É de origem romena e pode ser dançada em círculo, linha ou a pares. É executada num andamento rápido e com súbitas mudanças de andamento. Parte da melodia recorre ao uso de tercinas.
Tango - embora originária da Argentina, muitas foram escritas por judeus da Europa de Leste .
As canções não dançantes são três:

Doina - não tem uma forma definida, sendo um lamento improvisado, geralmente a solo. É fundamental nos casamentos. É baseada nos tradicionais lamentos dos pastores moldavos, tendo grande expressividade vocal. É interpretada por diferentes instrumentos, desde o violino ao clarinete, banjo, címbalo, xilofone. Costuma ser a primeira de uma sequência de três movimentos, seguindo-se uma Hora e uma Freylekh ou Khosidl.
Taksim - é geralmente um prelúdio às Freylekhs, sendo também livre do ponto de vista formal. Foi substituída pela Doina no século XX.
Fantazi - de forma livre, tocada nos casamentos para os convidados enquanto jantam. Tem paralelos com a fantasia da música clássica.
Klezmer em Portugal
Melech Mechaya
Os Melech Mechaya são um quinteto de Almada e Lisboa e são a mais proeminente banda portuguesa de música Klezmer, sendo geralmente referenciados como sendo a primeira banda portuguesa do género. Formados em finais de 2006, estrearam-se ao vivo em Março de 2007, lançaram o EP "Melech Mechaya" (ed. autor) em Julho de 2008 e lançaram o seu álbum de estreia "Budja Ba" (Ovação) em Julho de 2009. Eelco Schilder, da FolkWorld Magazine, considero-os "cinco músicos notáveis"[2] e considerou a sua abordagem ao Klezmer "muito diferente"[2]. Os seus explosivos concertos (João Bonifácio, do Público, adjectivou-os de "pura e simplesmente electrizantes"[3]) passaram por palcos como a Festa do Avante!, Festival de Músicas do Mundo de Sines, vários outros festivais de músicas do mundo em Espanha e na Croácia, e pelo Coliseu de Lisboa na abertura do concerto de Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra, sempre actuações muito festivas e interactivas (mais de 100 desde a estreia).

Em Outubro de 2011 lançaram o segundo álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que conta com a participação de um dos mais prestigiados músicos de klezmer a nível mundial: o trompetista norte-americano Frank London, dos Klezmatics.

Panorama geral
Em comparação com outros países, o panorama Klezmer português está ainda um pouco livre. Não há festivais exclusivamente temáticos de Klezmer, os concertos são escassos e poucos têm direito às grandes salas (como os Klezmatics na Culturgest – 2007). Apesar disso, já há muitos interessados, havendo uma procura crescente de informação, discos e concertos.

Como bandas destacam-se os Melech Mechaya, e além destes existem outras bandas que, não se assumindo como bandas de klezmer, abordam este estilo como uma das suas influências: Kumpania Algazarra (com disco editado em 2008), Fanfarra Kaustica e Orquestrinha do Terror. De referir ainda as interessantes abordagens a temas tradicionais judaicos pelos ensembles Clarinetes Ad Libitum, Ensemble clarinete Modus e Ósmavati.


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