“(…) no mês primeiro, aos catorze dias do mês, é o Pessach do Eterno.
E aos quinze dias do mesmo mês haverá festa; sete dias se comerão pães ázimos. No primeiro dia haverá santa convocação; nenhum trabalho servil fareis (…) Assim, cada dia oferecereis, por sete dias, o alimento da oferta queimada em cheiro suave ao Eterno (…) E no primeiro dia do mês; nenhum trabalho servil fareis; será para vós dia de sonido de trombetas (Rosh Hashana) (….) E no dia dez deste sétimo mês tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas; nenhum trabalho fareis. (Yom Kipur) (….) Aos quinze dias deste sétimo mês tereis santa convocação; nenhum trabalho servil fareis; mas sete dias celebrareis festa ao Senhor (Sucot) (…) E falou Moisés aos filhos de Israel, conforme a tudo o que o Senhor ordenara a Moisés.”
(Bamidbar 28-29)
Esta parashá apresenta a sequência cronológica dos acontecimentos da Torá e abre uma janela para o mundo fascinantes das festas, para que, através destas possamos conhecer seu significado e importância, garantindo a lembrança das tradições do povo judeu. Além deste acervo de festas que aparecem na Torá, existem outras que surgem e se tornam vigentes através das instruções de nossos sábios, que fixaram normas e festividades de diferentes épocas, posteriores a entrega da Torá. As festividades da Torá, assim como aquelas estabelecidas pelos sábios, representam os dias de alegria, inovação e memória do Povo de Israel, durante todas as gerações.
Para qualquer cultura, a organização cronológica do calendário, de maneira permanente e sistemática é sumamente importante, pois em torno das celebrações e das datas relevates é que se determina os valores do povo. Sem uma ordem de tempo estabelecida, a pessoa não pode desfrutar de uma vida íntegra junto aos seus correligionários. Um calendário anual como estrutura integral de significados é a chave para o entendimento da cultura. Mas o calendário do Povo Judeu possui um significado especial, por dois motivos: o primeiro que surge do destino singular que acompanha e outro que surge da escala de valores da Bíblia, que permite a estabilidade da existência espiritual do Povo de Israel.
As festas e seus significados são fatores importantes que caracterizam o estilo de uma vida judaica. O calendário judaico possibilita um programa completo de vida para as comunidades, as famílias e para cada indivíduo.
O destino do Povo de Israel é de um povo que passou a maior parte de sua história fora de sua terra. Ou seja, esteve carente do elemento básico para uma consciência coletiva. Assim sendo, na falta deste elemento, tiveram que associar-se a um outro elemento comum: o calendário judaico, para que as festas judaicas pudessem reunir todas as comunidades dispersas no mundo. O simbolismo das festividades e a lembrança em torno de um mesmo evento e época, possibilitou uma utilização de símbolos comuns entre todos.
Algo bastante conhecido é o fato de que as festividades do Povo de Israel possuem um caráter dúbio: por um lado se lembra do episódio história no qual sucedeu a aparição divina e por outro são dias de celebração pelas bênçãos de D’s sobre nosso trabalho na casa e no campo. Cada festa representa uma época agrícola determinada ou uma estação do ano.
Sucot, a festa na qual remonta as cabanas na qual viveram o Povo de Israel no deserto, também é a festa da colheita. Shavuot nos lembramos do recebimento da Torá no Monte Sinai, mas também é a festa das premícias do campo. Pessach que representa a saída do Egito é também a festa da primavera.
As festividades do povo judeu são “tempos”, ou seja, momentos especiais de reeencontro com a história e com a expectativa da história futura.
A essência do tempo sagrado é permanente e estável. Os dias funcionam de acordo com o relógio se dirigem em um mesmo sentido, sem possibilidades de retornar. Contudo, o tempo sagrado sim é, pois uma vez que chega ao seu limite, ele retorna ao princípio.
As cerimônias festivas foram criadas para tirar o homem de sua vida cotidiana e posicioná-lo no princípio de sua existência. A festa sagrada é o retorno Divino, um momento triunfal, que não transcorre e nem se termina.
Aquele que festeja uma festa anual encontra-se comemorando todos os anos aquela vivência do ano anterior, da casa de seu pai, avô e assim até o princípio de todas as gerações. Aquele que regozija, sincroniza-se com o tempo e se transporta para o momento sagrado que surgiu da Torá.
Deste modo, o homem que celebra as festividades de Israel não somente vive uma dimensão histórica que transcorre, e sim também reconhece outra dimensão, do tempo sagrado que, através de seu sabor glorioso, segue existindo através de todos os tempos.
Trecho retirado do livro “Mas alla del Versiculo”