Wehrmacht |
Philipp Liesenhoff serviu no Exército alemão entre 2006 e 2007. Era um soldado das Forças Especiais, uma unidade da Infantaria de Montanha. Ali, usando as mesmas casernas da 2.ª Guerra, presenciou incontáveis atos de apologia ao nazismo.
As referências à Wehrmacht eram comuns. “Estávamos nas mesmas cidades e, em vários locais, nas mesmas estruturas usadas nos anos 30”, disse ao Estado. Liesenhoff deixou o Exército há quase dez anos e hoje é um pesquisador do German Marshall Fund, centro de pesquisa euro-americano. O que mais o espantava não era a reverência de seus pares à era nazista, mas a naturalidade da presença de símbolos nazistas entre seus companheiros.
“Nas casernas, lojas vendiam adesivos e chaveiros com frases da era nazista”, contou. Soldados ainda usavam camisas com frases escritas com tipologia característica do regime de Hitler, enquanto produtos eram oferecidos com um dos slogans do Exército nazista: “Não se queixe, lute”.“Se olhássemos de forma superficial, diria que os elementos de extrema direita eram normais naquele local”, diz Liesenhoff.
Segundo um relatório do Ministério da Defesa, de setembro, a situação parece ter se agravado. O governo admitiu que analisou 391 casos suspeitos de infiltração de extremistas nas casernas nos últimos anos. Autoridades em Berlim reconhecem o desafio de lidar com neonazistas dentro do Exército alemão. Nas últimas eleições, em 24 de setembro, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) teve 12,6% dos votos e tornou-se a terceira bancada da Câmara Baixa, o Bundestag, com 94 parlamentares.
Em abril, o caso ganhou contornos de conspiração. A polícia descobriu que um tenente do Exército se passava por refugiado sírio. O homem, identificado como Franco Albrecht, conseguiu asilo e ajuda financeira. Foi preso pela polícia dias antes de executar um atentado, justamente contra imigrantes sírios. A imprensa revelou que ele já reverenciava símbolos nazistas desde 2014.
A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, disse que houve uma “falha grave das Forças Armadas da Alemanha”. A imprensa revelou ao menos uma dúzia de casos de extremistas nas Forças Armadas. Também informou que alguns dos incidentes eram conhecidos.
A falta de ação de Berlim foi questionada pelo comissário militar, Hans-Peter Bartels. “Fazer a saudação a Hitler não é uma questão de gosto”, disse Bartels, uma espécie de ombudsman das Forças Armadas. “Soldados devem defender a democracia”.
(Jamil Chade, O Estado de S.Paulo)