Comentário sobre a porção semanal da Torá – Vaetchanan
As leituras da Torá semanais seguem uma ordem, independente de qualquer data específica.
Começamos com Bereshit e prosseguimos inexoravelmente semana após semana até que, em um ano, alcançamos todo o Pentateuco e então, começamos de novo. Quando uma festividade judaica cai no Shabat, esta ordem é quebrada pois se lê a parte apropriada para este feriado e na semana seguinte voltamos a ordem regular.
O Talmud (Meguilá 31b) chama a atenção para duas exceções, onde a correlação entre a data e o trecho da semana são, contudo, necessários:
“Rabi Shimon ben Elazar diz:. (O profeta) Ezra instituiu uma lei para Israel de que eles deveriam ler as maldições do livro de Vaikra antes de Shavuot e as maldições do livro de Devarim antes de Rosh Hashana”.
Durante o período dos Gueonim, esta lista de exceções foi ampliada. Entre essas correlações necessárias, foi acrescentado também que “o jejum de Tisha B’Av deve preceder a porção semanal de Va‘Etchanan“. E esta correlação é única. Todas as outras correlações indicam uma parte específica que deve ser lida antes de uma determinada data. Neste caso, no entanto, o evento (Tisha B’Av) é o que precede a Parasha (Va‘Etchanan).
O comentarista ‘Biur Halachá’ interpreta este acréscimo feito pelos Gaonim como uma necessidade de não apenas Va‘Etchanan ser após Tisha B’Av mas que isso também implica que Devarim (a porção anterior a Va‘Etchanan) é lido antes de Tisha B’Av, sendo importante para que as repreensões feitas ao povo por Moshe Rabenu em Devarim sirvam de preparação para o jejum de Tisha B’Av. No entanto, se levanta a questão, se na verdade a principal correlação é entre Tisha B’Av e Devarim por que os Gaonim expressam esta correlação como sendo de Tisha B’Av com Va‘Etchanan?
Eu gostaria de sugerir que os Gaonim identificaram uma importância maior na leitura da porção de Va‘Etchanan após Tisha B’Av do que a leitura anterior. O Talmud (Berachot 32b) faz a seguinte observação: “R. Elazar também disse: Desde o dia em que o Templo foi destruído as portas da oração foram fechadas, como é dito: “Quando eu chorar e pedir por ajuda, ele excluirá a minha oração”. Mas, embora os portões da oração estejam fechados, os portões do choro não estão fechados, como é dito, “Ouve a minha oração, ó D’us, e dê ouvidos ao meu clamor, não mantenha o silêncio perante as minhas lágrimas”. “
Uma das terríveis conseqüências da destruição foi as portas da reza que se fecharam. Em Tisha B’Av, tomamos conhecimento do versículo em Eichah (3:8): “Apesar de eu chorar e gritar por socorro, ele excluiu a minha oração” As chances de nossas orações serem ouvidas diminuiram drasticamente depois da destruição da casa de D’us neste mundo. Esta é a razão pela qual, como explicou o Rav Soloveichik, não recitamos Tachanun ou Selichot em Tisha B’Av, pois qualquer tentativa de acrescentar em reza neste dia está condenada desde o início.
Contudo, o primeiro Shabat após Tisha B’Av é Va‘Etchanan. O primeiro assunto em Va‘Etchanan é a oração de Moshe: “E roguei ao Senhor neste tempo…”. A partir desta oração, podemos identificar a estrutura básica da qual toda reza judaica é constituida: “R. Simlai expôs: O homem deve sempre, primeiro louvar o Santo, bendito seja Ele, e em seguida, fazer a sua reza. De onde sabemos isso? De Moshe, pois está escrito, “E roguei ao Senhor neste tempo…”, e depois, “ó Senhor D’us, tu começaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a tua mão forte, pois que D’us existe igual no céu e na terra, que pode fazer como os seus atos e com distinta proeza” e, posteriormente, está escrito: “Deixai-me passar, rogo-te, e deixe me ver a terra boa”(…)”.
Desde a destruição do Beit Hamikdash, os portões de oração estão fechados. Após o jejum e o arrependimento que realizamos em Tisha B’Av por ter cuspido nos presentes que D’us nos deu, temos a oportunidade, agora , de tentar reabrir as portas da oração e reabilitar esta nossa forte ligação com D’us. E isto deve ser alcançado através das nossas próprias rezas, mas precisamos reaprender a rezar. As maldições do livro de Devarim e o jejum de Tisha B’Av, desta forma, são apenas parte do processo deste aprendizado que tem como finalidade esta Parasha de Va‘Etchanan! Que tem como finalidade nos lembrar da incrivel conexão que podemos ter com o Criador, se aprendermos com nossos erros e buscarmos nos conectar de uma forma, cada vez mais profunda, a nossa essência!
Baseado nas palavras do Rav Moshe Pinchuk