O massacre de Babi Yar

O massacre de Babi Yar

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Coisas JudaicasEm setembro de 1941, Babi Yar, ravina existente em Kiev, capital da UcrĆ¢nia, foi o local de um dos maiores massacres de judeus em um Ćŗnico lugar, durante a 2ĀŖ Guerra Mundial. 
Em dois dias apenas, 34 mil judeus, homens, mulheres, crianƧas e velhos, foram mortos a tiros. Babi Yar se tornou sĆ­mbolo do cruel assassinato de judeus perpetrado pelos Einsatzgruppen e do persistente nĆ£o reconhecimento da memĆ³ria judaica.

Em 1961, o poeta russo Yevgeny Yevtushenko, em seu poema “Babi Yar”, fez um apelo para que os terrĆ­veis acontecimentos nĆ£o fossem relegados ao esquecimento.
“(..) A erva selvagem murmura sobre Babi Yar. As Ć”rvores olham agourentas como os verdugos. 
Aqui tudo grita em silĆŖncio, e, tirando meu bonĆ©, sinto-me grisalho, lentamente. E eu, tambĆ©m, tornei-me um berro tonitruante, sem som, pelos muitos milhares aqui enterrados. Eu sou cada velhinho aqui abatido a tiros. Eu sou cada crianƧa aqui abatida a tiros. Nada serĆ” esquecido, dentro de mim...”

Holocausto na UcrĆ¢nia

A OperaĆ§Ć£o Barbarossa, invasĆ£o da antiga UniĆ£o SoviĆ©tica por Hitler, lanƧada em 22 de junho de 1941, foi decisiva no Holocausto, pois deu inĆ­cio ao genocĆ­dio de judeus. A matanƧa sistemĆ”tica de judeus no leste da Europa comeƧou no primeiro dia da invasĆ£o alemĆ£.
As forƧas nazistas rapidamente ocuparam a UcrĆ¢nia, o leste da PolĆ“nia, a LetĆ“nia, EstĆ“nia e LituĆ¢nia, a BielorrĆŗssia e o oeste da RepĆŗblica Russa. Assim que o exĆ©rcito alemĆ£o ocupava alguma Ć”rea da ex-UniĆ£o SoviĆ©tica, os Einsatzgruppen (EsquadrƵes da morte mĆ³veis das SS) entravam em aĆ§Ć£o, fuzilando os judeus. Estima-se que mais de 1,5 milhĆ£o foram executados dessa forma. Uma das “tarefas” dos Einsatzgruppen era organizar, entre a populaĆ§Ć£o local, indivĆ­duos dispostos a perpetrar ou a participar do assassinatos em massa de judeus. Na UcrĆ¢nia nĆ£o foi difĆ­cil; centenas de milhares colaboraram entusiasticamente com os nazistas. Sem tal participaĆ§Ć£o, teria sido impossĆ­vel que as matanƧas atingissem a escala que de fato tiveram.
Antes mesmo de os nazistas ir em frente com a “soluĆ§Ć£o radical do problema judaico atravĆ©s da execuĆ§Ć£o a tiros de todos os judeus”, milhares de ucranianos foram os responsĆ”veis por sangrentos pogroms. Outros milhares tornaram-se guardas nos campos de extermĆ­nio. A ajuda da polĆ­cia ucraniana permitiu aos nazistas rapidamente identificar e reunir os judeus que, a seguir, eram conduzidos para locais ermos onde, um a um, famĆ­lia apĆ³s famĆ­lia – homens e mulheres, velhos e crianƧas – eram brutalmente assassinados a tiros.
Kiev
A cidade de Kiev acabou caindo em mĆ£os alemĆ£s apĆ³s 45 dias de batalha, em 19 de setembro de 1941. Acredita-se que cerca de 70% dos 225 mil judeus (20 % da populaĆ§Ć£o da cidade) que viviam em Kiev conseguiram deixar a cidade a tempo. A maioria dos que ficaram eram os que nĆ£o tinham condiĆ§Ć£o de fugir: mulheres, crianƧas, velhos e doentes.
Desde o primeiro dia da ocupaĆ§Ć£o, os judeus perceberam as “faces radiantes” de muitos ucranianos, como recordou mais tarde uma testemunha ocular, Konstantin Miroshnik1, entĆ£o com 16 anos. Um dos vizinhos ucranianos dissera a seu avĆ“, “Leib, seu poder judaico chegou ao fim, uma nova ordem comeƧarĆ” agora, portanto tenha em mente, vocĆŖ terĆ” contas a acertar...”.
No segundo dia da ocupaĆ§Ć£o, policiais ucranianos apareceram nas ruas portando braƧadeiras e anunciando que faziam parte da “OrganizaĆ§Ć£o de Nacionalistas Ucranianos” (OUN), organizaĆ§Ć£o liderada por Stepan Bandera.

Por alguns dias os judeus nĆ£o foram molestados. Em 21 de setembro, apĆ³s ter sido submetido a humilhaƧƵes pĆŗblicas, foi assassinado Shlomo Glozman, um dos lĆ­deres comunitĆ”rios de Kiev, junto com nove outros dos mais respeitĆ”veis membros da comunidade.
Durante os primeiros dias da ocupaĆ§Ć£o alemĆ£, duas grandes explosƵes, aparentemente desencadeadas por engenheiros militares soviĆ©ticos, destruĆ­ram o prĆ©dio onde havia se instalado o quartel-general alemĆ£o e parte do centro da cidade. Os alemĆ£es usaram esses atos de sabotagem como pretexto para dar inĆ­cio Ć  matanƧa dos judeus de Kiev.
Em 27 e 28 de setembro, os nazistas colocaram cartazes em russo e ucraniano por toda a cidade, convocando os judeus para o “reassentamento”.  “Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanƧas que compareƧam Ć  esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, Ć s 8 horas da manhĆ£ de 2ĀŖ feira, 29 de setembro de 1941, portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que nĆ£o comparecerem serĆ£o fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serĆ£o fuzilados”. Mais de 30 mil se apresentaram.
Nos dias 29 e 30, vĆ©spera de Yom Kipur, os judeus foram levados a Babi Yar, uma ravina nos arredores da cidade. Acreditavam que seriam embarcados em trens para um reassentamento. A multidĆ£o de homens, mulheres e crianƧas era grande o bastante para que ninguĆ©m se desse conta do que estava para acontecer, a nĆ£o ser tarde demais. Um dos comandantes do Einsatzkommando chegou a se gabar, dias mais tarde, que, por causa de “nosso talento especial para a organizaĆ§Ć£o, os judeus acreditaram, atĆ© o momento de serem executados, que estavam realmente sendo enviados para um reassentamento”.
O massacre foi realizado em dois dias, pela unidade C do Einsatzgruppen, apoiada por membros de um batalhĆ£o das Waffen-SS. Unidades da polĆ­cia ucraniana foram usadas para agrupar e conduzir os judeus atĆ© o local de fuzilamento.
Logo apĆ³s a guerra, um cidadĆ£o nĆ£o judeu, o vigia do velho cemitĆ©rio judaico prĆ³ximo a Babi Yar, contou que testemunhara “cenas horrĆ­veis de dor e desespero”. Ao relatar os fatĆ­dicos acontecimentos contou: “Eu vi policiais ucranianos formarem um corredor e levar os judeus apavorados para a enorme clareira, onde, com bastƵes, aos gritos e utilizando cĆ£es que arrancavam pedaƧos dos corpos das pessoas, os judeus eram forƧados a se despirem totalmente, a formar filas e, entĆ£o, dirigir-se em colunas de dois para a boca da ravina. Ao escutarem o barulho das metralhadoras que estavam abatendo os judeus do grupo logo Ć  frente, percebiam o que os esperava, mas nĆ£o tinham mais como escapar. Ao chegar Ć  boca da ravina, encontravam-se na beira do precipĆ­cio, a 20, 25 metros de altura, e do outro lado havia metralhadoras alemĆ£s disparando. (...). EntĆ£o os prĆ³ximos 100 eram trazidos, e tudo se repetia. Os policiais pegaram as crianƧas pelas pernas e as jogaram vivas dentro do Yar. Naquela noite, os alemĆ£es fizeram desmoronar as paredes da ravina e enterraram as pessoas sob uma espessa camada de terra. Mas a terra moveu-se ainda por muito tempo, porque judeus feridos e ainda vivos se moviam, desesperados”.
Dina Pronicheva foi uma dentre os poucos judeus a escapar com vida. Assim como centenas dos que foram alvejados, nĆ£o morreu. Mas diferentemente da maioria dos que caĆ­ram vivos na vala, ela conseguiu evitar ser sufocada e escapou. ApĆ³s a guerra, Dina contou os horrores de Babi Yar ao escritor russo Anatoli Kuznetsov, que publicou a histĆ³ria, primeiro na RĆŗssia, em 1966, e na Inglaterra em 1970, sob o pseudĆ“nimo de A. Anatoli. Dina contou que enquanto estava ainda soterrada ouvia por todo lado e por baixo ela, sons abafados, gemidos, pessoas se sufocando e chorando. A massa de corpos movia-se ligeiramente conforme se acomodava e se espremia, atravĆ©s do movimento dos que ainda viviam. Lembrou como os soldados iam atĆ© a borda e iluminavam os corpos com suas lanternas, atirando com seus revĆ³lveres sobre os que ainda pareciam vivos.
Ao se referir ao massacre, Elie Wiesel escreveu que “testemunhas oculares disseram que, por meses apĆ³s as mortes, o solo de Babi Yar continuava a esguichar guĆŖiseres de sangue”. ApĆ³s dois dias de assassinatos, a unidade do Einsatzkommando mandou para Berlim um relatĆ³rio sobre a aĆ§Ć£o: em dois dias, 33.771 judeus haviam sido exterminados em Babi Yar e os “operadores” das metralhadoras haviam sido auxiliados pelos milicianos ucranianos. 
Nos meses seguintes, os nazistas utilizaram Babi Yar como um local de execuĆ§Ć£o para prisioneiros de guerra soviĆ©ticos e para “ciganos”. O nĆŗmero de executados talvez jamais seja conhecido.
Destruindo provas
Em marƧo de 1944, a ex-URSS inicia a ofensiva na BielorrĆŗssia. ƀ medida que os exĆ©rcitos alemĆ£es iam batendo em retirada frente ao inexorĆ”vel avanƧo russo, eram instruĆ­dos a destruir as evidĆŖncias dos assassinatos em massa.
Um comando especial foi incumbido de ir aos locais dos massacres realizados pelos Einsatzgruppen. Teriam que exumar e queimar cadĆ”veres e ossos e espalhar as cinzas. Na maioria dos locais foram construĆ­das piras maciƧas. Cada pira podia consumir 3.500 corpos e ardia atĆ© dez dias. Mas a quantidade de mortos enterrados na ravina de Babi Yar nĆ£o permitia esse “modus operandi”. Lembrou posteriormente o comandante da operaĆ§Ć£o: “A terra sobre a imensa cova comum foi removida; os corpos foram cobertos com material inflamĆ”vel e incendiados. Demorou cerca de dois dias para que a tumba ardesse atĆ© o fundo”.
A terrĆ­vel tarefa foi realizada por mais de 400 judeus e prisioneiros de guerra soviĆ©ticos. Eles sabiam que assim que o trabalho se encerrasse todos seriam mortos, sabiam que os nazistas nĆ£o iriam deixar testemunhas de seus crimes. As mortes jĆ” vinham ocorrendo; no primeiro mĆŖs, 70 dos prisioneiros foram mortos em execuƧƵes realizadas toda a noite pelos guardas, para se divertirem.
Os prisioneiros famintos e doentes trabalhavam com grilhƵes nos tornozelos, guardados por SS armados com submetralhadoras e acompanhados por cĆ£es treinados para matar. Os guardas dirigiam-se aos judeus chamando-os de “Leichen”, cadĆ”veres. Mas, como escreveu o historiador Reuben Ainsztein, um dos principais autores ingleses sobre o tema do Holocausto, “naqueles homens seminus impregnados de carne putrefata, cujos corpos estavam comidos por sarna e cobertos com uma camada de lama e fuligem, e nos quais restava tĆ£o pouca forƧa fĆ­sica, sobrevivia um espĆ­rito que desafiava tudo o que os nazistas tinham feito ou poderiam fazer-lhes.  Nos homens em quem as SS viam apenas cadĆ”veres andantes, maturava uma determinaĆ§Ć£o de que ao menos um deles precisava sobreviver para contar ao mundo o que haviam visto em Babi Yar”.
Eles traƧaram planos. Entre os idealizadores, havia um soldado judeu do ExĆ©rcito Vermelho, Vladimir Davydov, que acabou testemunhando em Nuremberg. A escala de represĆ”lia eliminava fugas individuais. ApĆ³s a fuga de um soldado nĆ£o judeu do ExĆ©rcito Vermelho, Fyodor Zavertanny, os alemĆ£es fuzilaram 12 dos prisioneiros e o SS encarregado dos guardas, que tinha supervisionado o grupo de Zavertanny.  Uma fuga em massa era a Ćŗnica esperanƧa. Mas os prisioneiros precisariam de um milagre, pois para poder fugir teriam que encontrar uma chave que pudesse abrir o cadeado do bunker onde eram trancafiados a noite. Eles passaram a procurar por quaisquer chaves que tivessem sobrado dentre os milhares de cadĆ”veres apodrecendo e suas roupas em decomposiĆ§Ć£o. Em 20 de setembro, o milagre aconteceu: um dos prisioneiros encontrou uma chave que servia no cadeado.
Nove dias depois, no 3Āŗ aniversĆ”rio do massacre, 325 judeus e prisioneiros de guerra soviĆ©ticos fugiram. Desses, 311 foram fuzilados durante a fuga e apenas 14 alcanƧaram esconderijos, quatro ficaram por 20 dias em uma chaminĆ© de uma fĆ”brica desativada e dois foram escondidos sob o galinheiro por duas ucranianas, Natalya e Antonina Petrenko.
Em 6 de novembro, cinco semanas apĆ³s a fuga, os 14 sobreviventes estavam entre os que recepcionaram o vitorioso ExĆ©rcito Vermelho que entrava em Kiev. Todos eles se juntaram Ć s fileiras. Quatro deles, todos judeus, foram posteriormente mortos em aĆ§Ć£o contra os alemĆ£es, e dez sobreviveram Ć  guerra. Dois judeus, Vladimir Davydov e David Budnik, prestariam depoimento, em 1946, no Tribunal de Nuremberg, sobre o massacre de Babi Yar.
Atitude soviƩtica
Na Kiev libertada, judeus sobreviventes e familiares dos judeus massacrados foram atĆ© a ravina, no local da execuĆ§Ć£o. Lembra uma testemunha: “Descemos atĆ© o fundo. Ficamos parados, chorando. Juntamos os ossos queimados de braƧos, pernas”. ApĆ³s o ExĆ©rcito Vermelho retomar o controle de Kiev, Babi Yar foi transformado num local de internamento de prisioneiros alemĆ£es e operou atĆ© 1946, quando foi totalmente demolido.
Nos anos seguintes ao tĆ©rmino da 2ĀŖ Guerra, os judeus que retornaram a Kiev, assim como os demais na antiga UniĆ£o SoviĆ©tica, quiseram erguer um memorial em homenagem aos judeus assassinados em Babi Yar, mas essas tentativas foram sistematicamente rechaƧadas pelas autoridades soviĆ©ticas.
Desde a retomada da cidade, o governo desestimulou qualquer ĆŖnfase ao massacre de Babi Yar como sendo uma barbĆ”rie direcionada apenas aos judeus – queriam que a tragĆ©dia fosse lembrada como um crime cometido contra a populaĆ§Ć£o de Kiev e o povo soviĆ©tico todo.
A primeira versĆ£o do texto sobre o terrĆ­vel massacre ocorrido em Kiev mencionava os judeus. “Os bandidos hitleristas cometeram assassinato em massa da populaĆ§Ć£o judaica. Eles o anunciaram em 29 de setembro de 1941, dizendo que todos os judeus deveriam estar na esquina das ruas Melnikov e Dokterev portando seus documentos, dinheiros e valores. Os carniceiros os conduziram a pĆ© para Babi Yar, apossaram-se de seus pertences e lĆ” os abateram a tiros”. Mas ao ser oficialmente publicado, os judeus nĆ£o eram mais mencionados: “Os bandidos hitleristas trouxeram milhares de civis Ć  esquina das ruas Melnikov e Dokterev”.
Diversas tentativas de se erguer um memorial judaico no local dos massacres foram adiadas. Em outubro de 1959, o escritor Viktor Nekrasov publicou um artigo protestando contra a intenĆ§Ć£o de erguer um parque com um estĆ”dio de futebol em Babi Yar e construir uma represa na outra ponta da ravina. Nos anos apĆ³s o tĆ©rmino da guerra, Babi Yar enchera-se de entulho, lama e Ć”gua, formando, na descriĆ§Ć£o de uma testemunha, “um lago profundo imĆ³vel... De longe, parecia esverdeado, como se as lĆ”grimas das pessoas que lĆ” tinham sido mortas houvessem brotado do solo”.
As autoridades municipais de Kiev concordaram, a princĆ­pio, em erguer um monumento, mas insistiam em que fosse dedicado aos cidadĆ£os soviĆ©ticos, sem mencionar o fato de serem judeus. No final, atĆ© mesmo essa decisĆ£o nĆ£o foi levada adiante e as obras da represa foram iniciadas.
Uma noite, em 1961, a represa construĆ­da pela prefeitura ruiu e torrentes de Ć”gua, argila lĆ­quida e lama, misturadas com restos de ossos humanos, jorraram nas ruas de Kiev abaixo.  A enxurrada provocou vĆ”rios incĆŖndios, destruiu uma garagem e, ao atingir a estaĆ§Ć£o de bondes, virou os bondes, enterrando vivos todos os que estavam na estaĆ§Ć£o e a bordo dos bondes. Nessa noite, enquanto os soldados estavam ocupados escavando em busca dos mortos e procurando sobreviventes na lama, uma segunda onda de argila lĆ­quida irrompeu de Yar, causando mais estrago e morte. Nos dois desastres, 24 pessoas foram mortas. Alguns dias depois, quando um bonde passou pelo local do desastre, uma velha ucraniana comeƧou repentinamente a gritar: “Foram os judeus que fizeram isso. EstĆ£o se vingando de nĆ³s”.
ƀ medida que as dĆ©cadas passaram, muitos sobreviventes e os parentes dos sobreviventes procuraram retornar aos cenĆ”rios de seu prĆ³prio sofrimento ou de sua famĆ­lia. Para os judeus da antiga UniĆ£o SoviĆ©tica, Babi Yar, assim como outros locais de assassinato em massa de judeus, tornaram-se lugares de peregrinaĆ§Ć£o solene. Visitar locais como Babi Yar, em Kiev, Rumbuli, perto de Riga, Ponar, fora de Vilnius, ou a cova da Rua Ratomskaya, em Minsk, tornou-se um meio de renovar e afirmar seu sentido de identidade judaica.
Em setembro de 1966, decorridos 25 anos do massacre, Babi Yar se tornou ponto de encontro para os ativistas judeus. Nos anos seguintes, os ativistas de vĆ”rias partes do paĆ­s vinham participar do evento em memĆ³ria dos judeus assassinados, atendendo Ć s convocaƧƵes, a despeito do empenho das autoridades em evitar qualquer manifestaĆ§Ć£o. Em 1971, no mĆ­nimo 1.000 pessoas participaram da cerimĆ“nia de recordaĆ§Ć£o.
O interesse em Babi Yar atingiu seu ponto alto em 1961, no 20o aniversĆ”rio do massacre, quando o poeta russo Yevgeny Yevtushenko publicou seu poema “Babi Yar” na Literaturnaia Gazeta. O poema se identificava com o sofrimento judeu, particularmente com as vĆ­timas judias do nazismo, insistindo que enquanto existisse antissemitismo na ex-URSS sua sociedade nĆ£o poderia ser genuinamente internacionalista. O trabalho evocou um amplo protesto, inclusive uma censura do Premier Nikita Khrushchev.  A intelligentsia liberal, no entanto, recebeu-o com aplausos, e o compositor Dimitri Shostakovich musicou-o em sua 13a Sinfonia, que logo foi banida pelas autoridades.
Somente em 1976, ergueu-se um monumento, mesmo assim, sem fazer qualquer menĆ§Ć£o especĆ­fica Ć s vĆ­timas judias, referindo-se apenas “aos cidadĆ£os de Kiev e prisioneiros de guerra”. Apenas apĆ³s o advento da Perestroika, a polĆ­tica soviĆ©tica mudou. No final da dĆ©cada de 1980, colocou-se uma placa em iĆ­diche, sem, no entanto, haver menĆ§Ć£o especial aos judeus. Em 1988, o aniversĆ”rio da aktion de setembro de 1941 foi relembrado em grande escala em uma manifestaĆ§Ć£o em Moscou e outra em Babi Yar.
Em setembro de 1991, grupos ucranianos e judaicos, patrocinados pelo governo da UcrĆ¢nia, organizaram em Kiev um evento de grande porte em memĆ³ria dos judeus assassinados em Babi Yar. Nas principais ruas foram colocadas fotos dos judeus mortos, houve vĆ”rios dias de conferĆŖncias, encontros, exposiƧƵes, concertos e discursos, alĆ©m da publicaĆ§Ć£o de um livro-memorial. No dia 29 foi inaugurado um monumento em feitio de menorĆ”.
Em junho de 2013, o FĆ³rum Mundial de Judeus de LĆ­ngua Russa anunciou que um novo complexo memorial serĆ” erguido no local do massacre de Babi Yar. AlĆ©m de um centro judaico e de uma sinagoga, haverĆ” uma exposiĆ§Ć£o de material histĆ³rico com roupas e pertences dos judeus assassinados, documentos dos arquivos nazistas e entrevistas com sobreviventes.
1 Os testemunhos estĆ£o documentados na obra de Martin Gilbert, “Holocausto, HistĆ³ria dos Judeus da Europa na Segunda Guerra Mundial”.

BIBLIOGRAFIA 
Brandon, Ray (Editor), Lower, Wendy The Shoah in Ukraine: History, Testimony, Memorialization , Indiana University Press 

Gilbert, Martin “Holocausto, HistĆ³ria dos Judeus da Europa na Segunda Guerra Mundial”, Editora Hucitec

EdiĆ§Ć£o MorashĆ” - EdiĆ§Ć£o 85 - Setembro de 2014

Fotos: 
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