Ou o Conselho dos Direitos Humanos da ONU abandona a sua «obsessão» com
Israel ou a Administração norte-americana abandona o barco e cria uma nave
alternativa, «com quem pensa como eles», ameaçou o Secretário de Estado, Rex
Tillerson.
«Ou reformamos esta coisa e a fazemos refletir sobre aquilo que devia refletir
ou lhe retiramos o nosso apoio», disse o Secretário de Estado numa audição da
Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes que teve lugar
esta quarta-feira.
Tendo em conta as críticas reiteradas do Conselho dos Direitos Humanos
das Nações Unidas (UNHRC, na sigla em inglês) contra Israel, em virtude das
políticas de ocupação e repressão a que submete o povo palestino, Tillerson
disse que Washington estaria disposta a substituir o mecanismo existente por
«outros meios», informa a PressTV.
No caso de abandonar o UNHRC, a Administração norte-americana iria
«abordar as questões dos direitos humanos numa base multilateral, com parceiros
que veem as coisas da mesma maneira que nós», acrescentou Tillerson.
Em Março deste ano, o Conselho aprovou diversas resoluções contra
Israel, entre as quais se incluiu uma moção condenando Israel pelas construções
ilegais nos territórios ocupados da Margem Ocidental, de Jerusalém Oriental
(Palestina) e dos Montes Golã (Síria), e apelando a estados e a empresas a
evitar qualquer tipo de ligação aos colonos.
Na semana passada, o UNHRC publicou um relatório em que «aconselha e
apoia» os esforços com vista à criação de uma base de dados de empresas que
trabalham com os colonos. Desta forma – e tal como tinha solicitado o
embaixador da Palestina em Genebra –, é possível saber quem contribui para «a
ocupação israelita e a colonização da Palestina».
Várias ameaças
Danny Danon, embaixador israelita na ONU, mostrou sinais de grande
descontentamento face à aprovação, em Março, de várias resoluções contra o seu
país. Pelo seu lado, os Estados Unidos deixaram claro que ponderavam abandonar
o Conselho, tendo em conta «a obsessão» com Israel. O seu embaixador no UNHRC,
Erin Barclay, disse então que Washington «continuava profundamente preocupado
com o foco, injusto e desequilibrado, em... Israel».
Ainda em Março, Tillerson veio a terreiro afirmar que o Departamento de
Estado iria «continuar a avaliar a efetividade» do UNHRC e que, «sem uma
reforma substancial», os EUA poderiam retirar a sua contribuição.
Nikki Haley, a embaixadora norte-americana junto da ONU, é outra das
figuras que, de forma reiterada, dão voz ao mal-estar de Washington com as
críticas a Israel. Na semana passada, afirmou que o UNHRC precisava de «lidar
com a sua crônica parcialidade anti-Israel, caso queira ter alguma
credibilidade».
Pressões sobre quem denuncia
Também em Março, a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a
Ásia Ocidental (ESCWA, na sigla inglesa) publicou um relatório em que acusava
Israel de «apartheid». Rima Khalaf, secretária executiva desta agência das
Nações Unidas, acabou por se demitir, devido às pressões a que foi sujeita para
que retirasse o documento. A vontade acabaria por ser feita à dupla Danny
Danon-Nikki Haley, respectivamente os embaixadores de Israel e dos EUA na ONU.
Recentemente, a ESCWA voltou à carga com um novo relatório sobre Israel,
no qual acusa os militares ocupantes de uso desproporcionado da força contra os
palestinos e, nalguns casos, de «execuções extrajudiciais». Apresentado ontem,
no Conselho Econômico e Social da ONU, o texto sublinha que, entre Abril de
2016 e 31 de Março de 2017, as forças israelitas mataram 63 palestinos,
incluindo 19 crianças, e feriram 2276, incluindo 562 crianças.
O relatório refere-se ainda à preocupação expressa pelo Comitê da ONU
contra a Tortura com «as práticas exercidas pelos israelitas sobre detidos
palestinos» e afirma que «nenhuma investigação criminal foi aberta, a partir
das mais de mil queixas por torturas ou maus-tratos, registradas desde 2001». O
embaixador Danon já disse que vai trabalhar no sentido de que o relatório seja
retirado.