Beto Carlomagno
Divulgação
Cena de A Banda, o longa mais premiado de Israel, que fala das relações entre povos com humor
Rio Preto terá uma ponte com Israel na décima edição do Cine Sesi-SP no Mundo, uma viagem para o Oriente Médio conduzida por oito filmes israelenses premiados que mostram o cotidiano do único país de maioria judaica do planeta. A mostra A Vida em Israel vai desta quarta-feira, 3, até o dia 21 de junho, e é resultado de uma parceria com o Consulado Geral de Israel no Brasil. Segundo a entidade, a intenção é promover uma reflexão sobre os cenários, referências e costumes desse país, que parece tão distante cultural e geograficamente, mas que pode revelar uma proximidade maior do que se imagina com o Brasil.
Com curadoria do Sesi-SP, os filmes datam da primeira década do século 21, período em que o cinema israelense ganhou maior relevância no mundo, conquistando prêmios em importantes festivais, como explica Lucas Lui, analista de atividades culturais do Sesi. “Com essa decisão de mostrar filmes mais recentes, trazemos o festival para a contemporaneidade e também conseguimos aproveitar esse momento em que houve um boom no cinema israelense, o que contribuiu para que o país ficasse mais conhecido como produtor cinematográfico e para que houvesse um aumento na produção geral, além de influenciar diretamente na estética das obras saídas de lá”, explica.
Mas esse não foi o único critério. A curadoria buscou obras que representassem muito bem como é viver em Israel. “Nossa escolha foi preferir filmes sobre a vida cotidiana, hábitos e costumes daquela terra. Política, economia, questões mais complexas servem como pano de fundo para essas histórias, elementos de contextualização, mas a questão destaque é a humana”, conta Lui. A mostra será aberta nesta quarta, 3, com o filme mais premiado de Israel, A Banda, de 2007, do diretor Eran Korilin. São mais de 70 indicações aos mais variados prêmios, além de 46 conquistas, entre ela o Prêmio da Juventude no Festival de Cannes.
“Optamos por A Banda para abrir a mostra por conta do reconhecimento que a obra possui. É um filme chamariz, que aborda uma questão complexa com delicadeza e sutileza, abraçando muito bem nossa busca pelo espírito cotidiano”, afirma Lui. O longa acompanha a Banda Cerimonial da Polícia de Alexandria, chefiada por Tawfiq, em uma viagem do Egito para Israel para tocar na inauguração de um centro cultural árabe. Após um mal entendido no aeroporto, os membros da banda tomam o ônibus errado e se veem obrigados a passar a noite, sem dinheiro, numa comunidade isolada.
Dina é a dona do restaurante local e lidera a iniciativa de abrigar os visitantes inesperados – e é aí que o choque entre as culturas começa. “É neste ponto que o conhecimento prévio da história sobre os conflitos entre israelenses e palestinos serve como um elemento extra para a compreensão do filme, mas não é nada que atrapalhe a apreciação da obra”, diz. Apesar da rivalidade histórica e ainda latente, A Banda é uma comédia sobre a convivência amistosa de dois povos.
Também estão presentes na mostra nomes como Eytan Fox e Eran Riklis, que ganharam destaque ao dirigirem produções que entraram no circuito comercial brasileiro. Como eles, os demais cineastas da mesma época, preferiram simplesmente tratar sobre o dia a dia, em vez de escancarar as questões políticas e religiosas de sua terra. “A mostra é uma excelente porta de entrada para o público pouco ou não familiarizado com o cinema israelense. Não precisa ser cinéfilo para apreciá-los”, diz Lui.
Serviço
- Mostra A vida em Israel. De 3 de maio a 21 de junho. Entrada gratuita. Os ingressos podem ser reservados antecipadamente pelo Meu Sesi (www.sesisp.org.br/meu-sesi). Informações: (17) 3224-6611
Programação
Hoje, às 16h30. A Banda. Comédia. A Banda Cerimonial da Polícia de Alexandria, chefiada pelo exigente e recatado Tawfiq, viaja do Egito para Israel, para tocar na inauguração de um centro cultural árabe. Após um mal entendido no aeroporto, tomam o ônibus errado e se veem obrigados a passar a noite, sem dinheiro, numa comunidade isolada.
Dia 11 de maio, às 10h. As Aparências Enganam. Suspense. Yara é uma jovem cega que deixou a família em Israel para perseguir carreira científica em uma conceituada universidade norte-americana. Quando fica sabendo que sua prima Talia se matou, corre de volta para casa. Porém, ao hospedar-se com seus tios para o Shivá, Yara começa a desvendar segredos de sua prima.
Dia 17 de maio, às 10h. A Enchente. Drama. O Bar Mitzvah de Yoni está chegando, mas seus pais mal se falam e não parecem ser capazes de dar a atenção que esse evento pede. Na escola, os outros alunos o tratam na base de ameaças e intimidação. O desafio maior vem quando a instituição onde seu irmão mais velho está internado para tratar de um autismo fecha as portas e o manda de volta para casa.
Dia 24 de maio, às 16h30. Aviva, Meu Amor. Comédia. Outras pessoas poderiam entrar em desespero se, como Aviva, tivessem que lidar com três filhos apáticos, um marido desempregado, uma irmã cheia de ambições irrealizáveis e uma mãe que perde a sanidade a cada dia. Ela faz diferente: resolve transformar seus conflitos em histórias onde a personagem tem que costurar belos vestidos enquanto sua cabeça se transforma em uma melancia.
Dia 31 de maio, às 19h30. Dias Congelados. Suspense. Uma jovem solitária se esgueira pelas noites e clubes de Tel Aviv, nunca revelando seu próprio nome. Após sobreviver a um atentado a bomba, ela ocupa o apartamento de outra vítima, que está hospitalizada em coma, e passa a viver a vida desta pessoa.
Dia 7 de junho, às 19h30. As Medusas. Drama. O filme acompanha três mulheres em Tel Aviv, cujas histórias se cruzam de forma a compor um retrato inusitado da vida moderna em Israel. Batya, uma garçonete em festas de casamentos; Keren, que quebra a perna saindo do banheiro em seu próprio casamento; e Joy, uma doméstica filipina enfrentando barreiras linguísticas
Dia 14 de junho, às 10h. A Missão do Gerente de Recursos Humanos. Comédia. O gerente de RH da maior empresa panificadora de Jerusalém está com problemas. Ele se separou da mulher, não vê a filha e está preso a um trabalho que odeia. Quando uma de suas funcionárias morre num atentado terrorista, ele é chamado de insensível e desumano. O gerente então embarca numa missão para honrar uma mulher que nem conhecia, mas que começa a cativá-lo
Dia 21 de junho, ás 16h30. Delicada Relação. Drama. Yossi é o comandante em um posto avançado do exército israelense. Ele e o seu subordinado, Lior – a quem os soldados apelidam de Jagger – estão apaixonados. No entanto, a ambição de Yossi em seguir a carreira militar impede que vivam seu romance abertamente
Influência de Hollywood e cinema francês
O cinema israelense nasceu com um propósito muito bem definido antes de se libertar das amarras e atingir sucesso comercial no restante do mundo. Foi um processo de evolução década a década. Nos anos 1950, as primeiras produções são filmes heroicos e patrióticos feitos com o incentivo do Estado. O primeiro filme israelense a ter sucesso internacional é de 1964.
Sallah Shabati foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Na década de 1970, surgem as primeiras produções do país que abordam questões políticas e históricas, com assuntos como o holocausto. Em 1980, diretores e atores israelenses começam a aparecer e a língua nacional, hebraica, passa a ser utilizada.
Já nos anos de 1990, os filmes privilegiaram o humano, os tabus e temas da vida cotidiana, arraigados de valores e questões religiosas e sociais. Dispensando a figura maniqueísta de heróis e vilões, os filmes buscaram registrar as minorias e aqueles que estavam à margem e conquistaram maior interesse internacional.
Dessa forma, o cinema israelense passa a receber atenção dos coprodutores internacionais, maior investimento do governo e as TVs locais começaram a participar da produção cinematográfica. Nos anos 2000, o que mudou foi a forma do audiovisual abarcar os conflitos que permeiam a vida cotidiana.
Os filmes mantiveram a característica de retratar a realidade do país, mas de maneira não panfletária, sem assumir lados e opiniões e sem fugir dos temas polêmicos, mas deixando-os nas entrelinhas, para conclusão e reflexão do público. “O cinema israelense não tem uma cara muito definida, algo determinado como típico dele.
Podemos dizer que ele dialoga muito com duas vertentes cinematográficas: a hollywoodiana e o cinema francês. Duas vertentes visíveis nas produções vindas do país. Temos o vínculo emocional muito próximo ao que é feito no cinema norte-americano, mas sem o tempo acelerado comum a ele. O tom mais contemplativo do cinema francês domina neste ponto”, explica Lucas Lui, analista de atividades culturais do Sesi.