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Os Espiões de Moisés

Os Espiões de MoisésPor Rabino Eliahu Birnbaum  - Parashat: Bamidbar 

Esta parashá nos apresenta um dos acontecimentos mais dramáticos e decisivos que aconteceram aos nossos patriarcas no deserto, em seu caminho desde Egito a terra prometida. O trajeto entre o Monte Sinai e Eretz Israel deveria durar alguns dias apenas. O povo saiu do Egito acompanhado pela nuvem Divina e através de grandes milagres se encaminhava para Ertz Israel.

No entanto, pouco antes de entrarem na terra, D-us ordenou a Moshê: "Envia a homens para que explorem a terra de Canaãn, que dei aos filhos de Israel..." Por que era necessário enviar espiões para conhecer o país antes de que o povo entrasse nele? Para que era necessário dispor dessa informação estratégica?  Por acaso não saíram do Egito para o deserto confiando apenas no Criador sem dispor de informação alguma baseada em espionagem?

Não há dúvida de que o Criador conhecia perfeitamente a situação de Eretz Israel e bem podia ter informado ao povo sobre ela. Também Moshê, que cresceu na casa do Faraó, devia ter informações acerca da terra de Canaãn tão próxima do Egito. Devemos supor, então, que o envio desta delegação almejava propósitos muito especiais. A Torá disse: "Envia a homens", não disse "espiões" mas "homens". A Torá não propõe a Moshê o envio de espiões profissionais, mas simplesmente homens do povo. Parecia que a Torá não deseja estudar as características da terra, senão analisar a conduta dos homens. Conhecer os homens e seus costumes, revelando a situação espiritual e psicológica do povo.

Moshê envia doze homens. Um homem de cada tribo, com o objetivo de que todas as tribos se sintam representadas de forma adequada, e também para que o fracasso ou o êxito da missão não recaísse somente sobre membros de uma tribo em particular. Eretz Israel pertence igualmente a todas as tribos do povo. Por outro lado, representantes de todo o povo deviam estudar a terra e emitir posteriormente seu parecer com respeito a mesma. Os enviados não eram pessoas comuns, mas os chefes de cada uma das tribos, a fim de que seu parecer não gerasse discórdia entre toda a tribo.

Parecia que o objetivo desta delegação era fortalecer a relação com a terra de Eretz Israel, ainda antes que o povo adentrasse nela. O destino do povo judeu está ligado de forma indissolúvel com essa terra. É possível comparar o contrato que existe entre o povo de Israel e Eretz Israel com um contrato de casamento. Cria-se uma relação profunda para enfrentar alegrias e desgraças, e a relação é eterna. Moshê ordenou aos homens percorrer a terra. Não se trata de reunir informações, senão de brindar aos chefes das tribos a oportunidade de percorrer o país e avaliar suas características tão especiais. As instruções que Moshê deu aos homens definiram o caráter de sua missão: conhecer o país, fortalecer o elo com ele, inclusive antes da entrada de todo o povo. Entretanto, os chefes das distintas tribos não entenderam sua missão e nem a executaram.

Moshê não se relacionava com a terra apenas em seu aspecto de entidade política ou física; mas considerava que entrar na terra representava também um encontro repleto de significação. No entanto, os chefes estudaram a terra da mesma forma em que uma pessoa avalia as perspectivas de um negócio que está para se fechar. Analisaram as possibilidades de ganhos e perdas eventuais, para resolver finalmente que a empresa não oferecia nenhuma possibilidade de êxito.

Ao observarmos as instruções que Moshê Rabenu deu aos espiões, veremos que solicitou deles informação com respeito a situação demográfica e a agricultura. Não solicitou a analise da situação militar. Na realidade, a delegação parece ter objetivos "turísticos" e não militares.

Os representantes das tribos são enviados a Eretz Israel em uma missão que não possui conotações profissionais, mas que tem por objetivo estimular o povo e fazê-lo consciente de sua próxima redenção.

Após o regresso, os membros da delegação se dividem em grupos. Dez homens relatam fatos negativos e predizem que não será possível a conquista dessa terra pelo povo de Israel. Dois homens expressam opiniões otimistas com respeito as possibilidades de estabelecer-se nessa terra. Na realidade, não havia nenhuma diferença entre os fatos que os doze homens relataram, apenas na forma em que cada um dos grupos avaliou a situação. Não se trata de que os espiões mentiram. Pode ser que descreveram uma situação real, porém sua atitude era negativa.

É possível contemplar todo o fato de distintos ângulos. Logo, os espiões descreveram os fatos segundo eles apareciam diante de seus olhos. A discussão entre os dois grupos não está em torno das características geográficas ou políticas da terra, mas em torno da atitude do povo em relação a própria terra; na possibilidade de conquistá-la e as forças com as quais o povo contava para entrar nela, depois de um período tão prolongado de escravidão. Os espiões não foram enviados para descobrir o verdadeiro caráter da terra, senão o verdadeiro caráter do povo que adentraria na terra. Os chefes das tribos prestaram atenção apenas nas características objetivas, os gigantes, as cidades com muralhas, e não contemplaram mais adiante, empregando a visão e a esperança, a perspectiva e a fé. Mediante a fé, é possível enxergar mais além do horizonte. Porém os chefes das tribos não utilizaram-se da fé. O pecado dos espiões foi a impossibilidade do povo de ver o futuro.

A reação de Moshê diante do pecado dos espiões foi estranha de certa forma. Moshê se rende. Sua reação não é severa de modo algum. Na realidade, quase não reage. O líder não pôde dar uma resposta ao pecado dos espiões. Estava  vencido. Como não pode destruir o povo que tanto ama, em nome desse amor se dirige ao Criador para solicitar seu perdão. No entanto, desta vez, D-us não está disposto a mudar sua decisão e por isso responde a Moshê duramente: "O povo terá que permanecer no deserto até que morram todos os que não foram capazes de ter fé e esperança na chegada a terra".

A geração dos patriarcas, a geração daqueles que saíram do Egito, terá que permanecer no deserto. Esta geração que cresceu, por um lado, imersa na escravidão e por outro lado, rodeada de milagres, acostumando-se a passividade, não entrará na terra prometida. É necessário esperar o desaparecimento da geração do sofrimento, a geração que deseja retornar ao Egito, a geração do pranto, até que surja uma nova geração que saiba viver dentro da fé, da esperança e da visão. É necessário deixar de confiar nesta geração de escravos, porém seguir confiando, entretanto, no futuro do povo e na realização de seu destino.

 Tradução: David Salgado

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