O que diz a Lei Judaica sobre a pena de morte?

O que diz a Lei Judaica sobre a pena de morte?

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O que diz a Lei Judaica sobre a pena de morte?A maioria dos paĆ­ses ocidentais aboliu a pena de morte. Os Estados Unidos sĆ£o uma das poucas exceƧƵes. Os defensores da pena de morte freqĆ¼entemente citam a BĆ­blia como a fonte para justificar seu uso, mas serĆ” uma surpresa para muitos que, sob a lei judaica, a pena de morte Ć© praticamente impossĆ­vel de aplicar. 

Isso ocorre porque, alĆ©m dos Cinco Livros de MoshĆŖ (a Lei Escrita) a lei judaica consiste tambĆ©m da Lei Oral, que explica e interpreta a Lei Escrita. Enquanto a TorĆ” nos dĆ” uma lista de crimes capitais, o Talmud (Lei Oral) estabelece os requisitos necessĆ”rios para se provar a culpa. Antes que a culpa possa ser estabelecida e uma execuĆ§Ć£o levada a cabo, numerosos requerimentos legais devem ser satisfeitos: 
1 - Duas testemunhas versus prova circunstancial. 
A cĆ©lebre histĆ³ria de Rabi Shimon ben Shetach (San'hedrin 37b) ilustra atĆ© que ponto a prova circunstancial nĆ£o Ć© considerada pela lei judaica. Ele testemunhou ter visto um homem perseguir seu amigo atĆ© umas ruĆ­nas. Correu atrĆ”s dele e encontrou o amigo morto, enquanto o perseguidor segurava uma espada banhada em sangue. Rabi Shimon disse: "Ɠ perverso, quem matou este homem? Ou fui eu ou foi vocĆŖ. Mas o que posso fazer - seu sangue nĆ£o foi entregue Ć s minhas mĆ£os, porque a TorĆ” diz: 'Com base em duas testemunhas, ele serĆ” condenado Ć  morte.'" A faca podia estar suja de sangue, o homem que ali estava podia ser o Ćŗnico que possivelmente cometera o assassinato. Mas enquanto nĆ£o houvesse duas testemunhas que realmente presenciaram o crime, as cortes nĆ£o poderiam condenar. 

2 - Requisitos para testemunhas. As testemunhas devem ser "casher". Isso significa, por exemplo, que nĆ£o podem ser parentes umas das outras ou de qualquer outra pessoa envolvida no crime. AlĆ©m disso, o Talmud relaciona uma vasta quantidade de razƵes que desqualificam uma testemunha, baseada em personalidade, ocupaĆ§Ć£o, etc. Por exemplo, uma pessoa que aposta em jogos de azar Ć© desqualificado como testemunha. 

3 - AdvertĆŖncia. Na lei judaica, ninguĆ©m pode ser condenado por um crime, a menos que tenha sido advertido adequadamente. Isso significa que as duas testemunhas que vĆŖem uma pessoa prestes a cometer um crime devem bradar ao criminoso em potencial tanto o texto bĆ­blico proibindo o ato quanto a penalidade para tal infraĆ§Ć£o em particular. 

4 - "No prazo". Uma advertĆŖncia nĆ£o Ć© suficiente se for feita mais de quatro segundos antes do crime ser cometido. Ɖ possĆ­vel que o infrator tenha esquecido a advertĆŖncia ou nĆ£o a esteja mais levando a sĆ©rio, caso mais que quatro segundos se passarem entre o sinal de alerta e o crime! 

5 - AceitaĆ§Ć£o da advertĆŖncia. O Ćŗltimo requisito Ć© provavelmente o mais "chocante" e "ilĆ³gico" da sĆ©rie. Para que tudo que foi dito acima tenha validade, o criminoso prestes a cometer um crime deve indicar verbalmente que ouviu a advertĆŖncia e optou por ignorĆ”-la. Somente se o criminoso responder : "Apesar disso, farei", o tribunal pode prosseguir com suas deliberaƧƵes para a pena de morte. 

Devemos lembrar que o sistema legal que reconhece D'us como Juiz Supremo nĆ£o estĆ” afirmando que este homem deva permanecer impune. Ao contrĆ”rio, quer dizer que uma corte humana Ć© apenas designada por D'us para executar a retribuiĆ§Ć£o quando existe certeza absoluta. De outra forma, devemos deixar que D'us cuide para que os perversos recebam o que lhes Ć© devido. Dadas as restriƧƵes acima, Ć© compreensĆ­vel que Rabi Elazar ben AzaryĆ” dissesse que um tribunal que pronuncia uma sentenƧa de morte a cada setenta anos Ć© um tribunal assassino (Talmud, Tratado Macot 7a). Os padrƵes que explicamos - do requisito de duas testemunhas atĆ© a aceitaĆ§Ć£o da advertĆŖncia - derivam todos da TorĆ”. 

No entanto, a prĆ³pria TorĆ”, em termos que nĆ£o deixam dĆŗvida, ordena: "Certamente deve ser morto." Como pode a Lei Escrita ordenar uma sentenƧa que a Lei Oral torna impossĆ­vel impor? Como esta contradiĆ§Ć£o pode ser resolvida? Qual Ć©, entĆ£o, a vontade de D'us? Melhor prevenir que remediar HĆ” uma grande diferenƧa entre a lei judaica e outros sistemas legais. Enquanto outros se concentram na situaĆ§Ć£o apĆ³s o crime ter sido cometido, a lei judaica tenta impedir que o crime seja cometido. Apesar das alegaƧƵes daqueles que propƵem puniƧƵes pesadas, a estatĆ­stica indica que os criminosos muitas vezes nĆ£o sĆ£o impedidos pela ameaƧa de uma sentenƧa severa. No mĆ”ximo, sentenƧas severas afastam os criminosos da sociedade por algum tempo. Quanto ao crime capital, e na verdade todas as formas de crime, o objetivo da lei judaica Ć© prevenir o crime. 

No Ɗxodus, o sistema legal do judaĆ­smo Ć© introduzido com o seguinte versĆ­culo: "E estes sĆ£o os estatutos que deverĆ”s colocar perante eles" (Shemot 21:1). Este Ć© o Ćŗnico lugar em que a frase "perante eles" (LifnehĆŖm) Ć© usada. Em qualquer outro lugar da TorĆ”, as ordens sĆ£o dadas "a eles" (LahĆŖm). Por que entĆ£o a TorĆ” usa as palavras "perante eles" quando apresenta o sistema legal? 

O famoso orador, o Maguid de Dubno, respondeu com uma parĆ”bola: "Os sĆ”bios de Chelm" - conhecidos mundialmente por possuĆ­rem a sabedoria que exemplifica a estupidez da humanidade - depararam-se com um sĆ©rio problema. Uma das estradas da cidade tinha um aclive muito Ć­ngreme no ponto em que fazia a curva em torno da encosta da montanha. NĆ£o havia defensas. Quando cavalos e carruagens desciam em alta velocidade, eram incapazes de acompanhar a curva e se precipitavam no despenhadeiro, ficando gravemente feridos. "O que deveria fazer a cidade de Chelm quanto a esta situaĆ§Ć£o terrivelmente perigosa? Durante vinte e quatro horas reuniram-se e deliberaram. Uma curva acentuada, sem proteĆ§Ć£o, pessoas, cavalos e carruagens constantemente se ferindo. O que fazer? 

E entĆ£o a resposta veio num clarĆ£o de brilhante discernimento. A cidade de Chelm votou unanimemente pela construĆ§Ć£o de um hospital sob o desfiladeiro." O mundo tem demonstrado uma reaĆ§Ć£o de "Chelm" a seus problemas. Uma onda de crimes? Construa mais prisƵes. Uma epidemia de drogas? Comece mais campanhas contra os tĆ³xicos. 

ViolĆŖncia, perversidade, corrupĆ§Ć£o? Construa hospitais que lidem com os efeitos, mas nunca com as causas. PrevenĆ§Ć£o, nĆ£o puniĆ§Ć£o A essĆŖncia da lei judaica Ć© preventiva. Estas ordens sĆ£o colocadas "perante eles" porque visam lidar com o crime "antes" e nĆ£o apĆ³s o ato. 

A lei judaica foi feita para ser estudada por todos, nĆ£o somente advogados. O judaĆ­smo afirma que quando uma crianƧa Ć© criada com o conhecimento da lei de D'us e com amor pela TorĆ”, esta crianƧa provavelmente nĆ£o transgredirĆ”. A declaraĆ§Ć£o de que um malfeitor "certamente deve ser condenado Ć  morte," nĆ£o significa uma puniĆ§Ć£o a ser posta em prĆ”tica depois que o crime foi cometido, mas uma doutrina educacional, a ser estudada por todos, de que aos olhos de D'us isso Ć© um crime hediondo. Como podemos transmitir aos filhos o grau de severidade implĆ­cito em diferentes tipos de comportamento errado? 

Se o filho perturba com um pequeno ruĆ­do, o pai diz: "Pare com isso." Se ele, inadvertidamente, brinca com uma chave de fenda e comeƧa a colocĆ”-la numa tomada, os pais gritam a plenos pulmƵes e talvez atĆ© digam: "Se fizer isso de novo, vou matĆ”-lo." Obviamente, a ameaƧa nĆ£o deve ser levada a sĆ©rio, pois seu propĆ³sito Ć© assegurar que aquilo nĆ£o aconteƧa. Afinal, os pais nĆ£o querem que a crianƧa perca a vida. Quando D'us estabeleceu estas leis perante o povo de Israel, Ele estava, na verdade, intercedendo em uma linguagem similar de amor e preocupaĆ§Ć£o. 

Quando D'us diz: "ele certamente serĆ” morto", estĆ” dizendo que se a pessoa cometer este crime, merece morrer, nĆ£o que Ele realmente deseja que seja executada. Para enfatizar isso ainda mais, estas palavras sĆ£o seguidas pela ordem de D'us aos tribunais: "E o tribunal julgarĆ” e o tribunal salvarĆ”" (Bamidbar 35:25), ordenando aos juĆ­zes que faƧam tudo ao seu alcance para conseguir um veredicto de "inocente". 

Alternativa para a pena de morte O judaĆ­smo encontrou uma notĆ”vel alternativa para a pena capital. De fato, reunir pessoas em praƧa pĆŗblica Ć s segundas e quintas-feiras pela manhĆ£, bem como no Shabat. Que a praƧa seja a sinagoga. Em vez de enforcar ou guilhotinar, eletrocutar ou decapitar, que todos ouƧam as palavras do prĆ³prio D'us: "Aquele que fizer tal e tal coisa certamente serĆ” morto." 

Imagine uma crianƧa que, desde os primeiros dias, vem ouvindo em nome do Onipotente que amaldiƧoar ou ferir os pais Ć© um crime capital e quem fizer assim deve morrer. Ɖ difĆ­cil acreditar que um dia considere displicentemente a perpetraĆ§Ć£o destes crimes. 

O que outras culturas fazem apĆ³s o crime, via execuƧƵes pĆŗblicas, o judaĆ­smo consegue com uma metodologia de instruĆ§Ć£o pĆŗblica. Medidas de emergĆŖncia Existe ainda uma admoestaĆ§Ć£o final, a de medidas de emergĆŖncia. Se os criminosos souberem que sempre conseguirĆ£o escapar impunes, se os castigos bĆ­blicos forem vistos como universalmente inaplicĆ”veis, nĆ£o Ć© possĆ­vel que a compaixĆ£o acabe sendo inĆŗtil? 

Os SĆ”bios estavam claramente conscientes desta possibilidade. Portanto, em situaƧƵes extremas, o San'hedrin (Tribunal Supremo de 71 juĆ­zes), recebeu a autoridade de fazer vista grossa Ć s benesses das leis de pena capital e impor uma sentenƧa de morte, apesar da falta de advertĆŖncia total e evidĆŖncia incontestĆ”vel. A pessoa se pergunta como o San'hedrin lidaria com a sociedade moderna. 

Chegamos ao ponto em que medidas de lei de emergĆŖncia deveriam ser consideradas aplicĆ”veis? Seria bom sentir que nĆ£o fomos tĆ£o longe a ponto de nossa sociedade nĆ£o poder ser trazida de volta Ć  lei de D'us. Entretanto, algo fica muito claro na lei judaica. Antes que os tribunais pudessem ignorar as leis de puniĆ§Ć£o capital, deveriam ser feitos todos os esforƧos para assegurar que toda a sociedade entendeu, desde tenra idade, o que D'us deseja de nĆ³s.

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