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Shutterstock/Borya Galperin |
A cidade mais espiritual de Israel e quiçá do mundo oferece um pacote completo de experiências – das místicas às arqueológicas. Saiba o que fazer em Jerusalém.
1. Se perder nas ruelas da Cidade Velha
O centro nevrálgico da cidade de 3 mil anos e sagrada para as três principais religiões monoteístas é o emaranhado de ruelas no interior das muralhas erguidas pelo Sultão Suleiman, no século 16. É ali, em um espaço de cerca de 1 quilômetro quadrado, dividido em bairros – Muçulmano, Cristão, Armênio e Judeu — que está concentrada a maior parte dos lugares santos. Como também o Souq, o mercado árabe, e ruínas romanas. Zanzar ao léu por estas ruelas é por si só uma experiência intensa. No bairro Judeu, no final da rua Chabad há uma escadaria que leva a telhados de onde se pode ver a Cidade Velha do alto, com belas vistas para a Mesquita Dourada e para o Souq.
Siga, estação a estação, a Via Dolorosa, por mais que demande uma paciência de Jó. O caminho que Jesus percorreu com a cruz corta o Souq, e há trânsito de gente e filas, por exemplo, para tocar a pedra que Jesus encostou, na quinta estação. As últimas estações ficam dentro da igreja do Santo Sepulcro, onde Cristo teria sido crucificado e sepultado. Recentemente, um projeto arqueológico retirou a laje que cobriu nos últimos 500 anos a pedra em que deitaram seu corpo. Cuidado: esta experiência é tão forte que foi responsabilizada por uma doença catalogada pela psiquiatria, a Síndrome de Jerusalém. Não raro alguém acredita ser Jesus Cristo ou Maria Madalena neste labirinto de pedra carregado de história e fé.
Para os judeus, o lugar mais sagrado em Jerusalém e no mundo é o Muro das Lamentações. Trata-se do que restou do muro de contenção que segurava a esplanada sobre o bíblico Monte Moriá onde foi erguido e derrubado o Templo de Salomão e, séculos depois, o Segundo Templo, pelo Rei Herodes, também destruído, desta vez pelos romanos no ano 70. Ao entardecer de sexta-feira, a entrada do Shabat, dia sagrado para os judeus, o Muro fica repleto de fiéis, de diversos graus de ortodoxia. Vista-se adequadamente. Saias longas e algo para cobrir os ombros, para mulheres; e nada de bermuda para homens. Fotografar não é bem visto no Shabat.
Pode-se subir no alto da esplanada, mas não muçulmanos não têm acesso ao interior das mesquitas de Al Aqsa e a do Domo da Rocha, com sua cúpula dourada, ambas construídas no século 7 e que representa o terceiro lugar mais sagrado para o islamismo, depois de Meca e Medina. A entrada fica à direita do Dung Gate. Também é preciso vestir-se adequadamente.
A parte do Muro das Lamentações em que todos rezam e colocam bilhetinhos é apenas um pequeno pedaço. Apenas no século 19 descobriu-se que ele continuava nos subterrâneos da cidade que cresceu ao redor. As escavações continuam até hoje e pode-se percorrer, em tour guiado, túneis que acompanham sua extensão por 488 metros debaixo da terra. Em alguns trechos chega-se no nível do calçamento original da cidade na época do Segundo Templo. Convém agendar com antecedência (www.thekotel.org).
À partir da Porta de Jaffa, é possível andar sobre as muralhas nas duas direções, bisbilhotando, sem culpa, os quintais dos moradores. Do alto, enxerga-se a vida real que de fato existe dentro da Cidade Velha de Jerusalém, até mesmo os hábitos de freiras secando no varal. Bilhetes para os Ramparts Walk são comprados na hora, à esquerda da Porta de Jaffa. Leve água e lanchinho.
7. Soltar a voz na ‘igreja do eco’
Da época dos Cruzados, a Igreja de Santana, bem no início da Via Dolorosa, perto da Porta dos Leões, tem uma particularidade: a acústica perfeita. Que pode ser testada por qualquer um que queira soltar a voz em seu interior. Só há uma regra: devem ser cantos religiosos, mas não necessariamente cristãos. Fica no mesmo complexo das bíblicas Piscinas de Bathesda, citadas no Velho Testamento e também no Novo, como o lugar de um dos milagres de Jesus.
Sítio arqueológico importantíssimo, a Cidade de David era onde de fato ficava Jerusalém na época do rei judeu, do lado de fora das muralhas da Cidade Velha atual. Tinha um sofisticado sistema de armazenamento de água, cujos túneis podem ser percorridos, num programa bem a la Indiana Jones – com água pelo joelho e às vezes mais – e que acabam na bíblica piscina de Siloé, mencionada no Novo Testamento. Experiência não recomendada para quem sofre de claustrofobia.
No gigantesco mercado fora da Cidade Velha, vende-se de kipá a melancias passando pelos mais maravilhosos queijos, castanhas, frutas secas e peixes defumados. Paraíso de gourmands, os melhores momentos para ir ao Mercado Mahane Yehuda é sexta feira de manhã, quando a cidade inteira baixa para comprar víveres que garantam a sobrevivência durante o Shabat; e de noite, quando as barracas estão fechadas, mas há baladinha nos bares e restaurantes. No site do mercado (en.machne.co.il) é possível comprar um cartão, o Bite Card (ILS 99) que dá direito a degustar várias especialidades dos restaurantes dali, como homus, Sopa de Kubbeh, etc. Fechado às sextas à tarde e sábados.
A terra trazida do Monte do Templo, onde hoje está a Esplanada das Mesquitas, e descartada no Vale de Kidron pelo Waqf, departamento que cuida dos locais sagrados muçulmanos, está sendo analisada no campus da Universidade Hebraica de Jerusalém. Turistas podem ajudar por algumas horas. Trata-se do Temple Mount Sifting Project (www.mountofolives.co.il, 02-6275050). Após uma explicação histórica, pega-se um balde de terra para separar, com ajuda dos monitores, o que é lixo do que podem ser fragmentos da época do Primeiro Templo (século 10 a.C) ou até antes. Destes baldes já saíram 5 mil moedas, pedaços de jóias, contas e cerâmicas.