Séries israelenses ganham das americanas

Séries israelenses ganham das americanas

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Cena de 'Fauda' (Foto: Divulgação)
“Homeland” é muito boa, ninguém duvida. Mas “Hatufim” (que aqui se chamou “Prisioneiros de guerra”), a série israelense que deu origem a ela, é melhor. A adaptação do canal Showtime tem, claro, a assinatura daqueles roteiristas de primeira linha que a televisão americana formou. Claire Danes como Carrie é maravilhosa. E o ritmo com que a ação se precipita é vertiginoso. Ainda assim, com tantos recursos, não supera “Hatufim”. É que falta uma certa dose de verdade que só uma produção 100% feita no Oriente Médio pode ter. Pensei nisso agora que estou assistindo a “Fauda”, também israelense.
A série (exibida no +Globosat e disponível na Netflix) tem 13 episódios curtos e irresistíveis. Ela conta a história de uma unidade secreta do exército, o Mistaaravim. Seus integrantes falam árabe perfeitamente e são treinados para capturar terroristas. Neste caso, o alvo é o palestino Tawfiq (Hisham Suleiman), líder do Hamas na Faixa de Gaza. O malvado fez inúmeras vítimas em ataques a bomba. O comandante da operação é Doron (Lior Raz), que acreditava ter matado Tawfic dois anos antes. Estava aposentado, mas volta à ativa depois que sua unidade descobre que a morte do palestino foi uma encenação do Hamas.
O roteiro eletriza. Há falhas, mas o realismo cortante faz com que todas elas sejam facilmente esquecidas. O fato de ser uma produção israelense se traduz em tudo e abraça a série com uma camada de legitimidade que humilha qualquer “Homeland”. Estão lá a aspereza no tratamento entre colegas, uma marca registrada local; as vielas palestinas; a ausência de luxo nas construções; a liberdade sexual do lado israelense em contraste com as mulheres de véu em Ramallah e em Nablus. As cenas exalam o cheiro da poeira do deserto. Isso abarca também, claro, as línguas usadas em cena (hebraico e árabe). Os atores não forçam aquele sotaque de “árabe falando inglês”, como é praxe nas séries americanas. E o physique du rôle do elenco também é mais genuíno. Finalmente, “Fauda” prescinde de cenografia: as gravações aconteceram em Kafr Qasim, uma cidade na Linha Verde, que separa Israel e Egito, Jordânia, Líbano e Síria. Uma curiosidade: lá pelo sétimo episódio, no fundo de um bar, vê-se uma bandeira nacional enfeitando uma parede. Na certa, é de algum palestino de origem brasileira, há muitos por lá.
“Fauda” — que quer dizer caos em hebraico — fez enorme sucesso no Oriente Médio. Quando exibida, no ano passado, ganhou espectadores tanto em Israel quanto na Palestina. Pouco após a estreia, o Hamas chegou a emitir uma nota acusando o programa de “propaganda sionista”. Porém, em seguida, em seu site oficial, colocou um link para a série. Depois, o canal de TV do grupo, o Al-Aqsa, produziu “Fida’i” (combatente, em árabe). É uma trama abertamente inspirada em “Fauda”, sobre militantes do Hamas que atacam o exército de Israel em Hebron, na Cisjordânia. Aval melhor que esse não há.

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