Fontes do Governo de Benjamin Netanyahu dizem que o primeiro-ministro israelense antecipava, como a maioria dos líderes políticos mundiais, que fosse Hillary Clinton a ser eleita Presidente dos Estados Unidos na passada terça-feira. Confrontado com a vitória de Donald Trump – o homem sem experiência política que o Partido Republicano não queria aceitar como seu candidato mas que conseguiu devolver a Casa Branca aos conservadores, para além de os manter sob controle das duas câmaras do Congresso – Netanyahu e os seus ministros, a par de várias figuras políticas de Israel, estão agora dos empenhados e forçar o Presidente eleito a cumprir as promessas relativas à estratégia norte-americana para Israel e a Palestina.
Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu "reconhecer Jerusalém como a capital de Israel", a cidade que tanto os hebraicos como os palestinianos clamam para si e que está dividida em dois pelos acordos de Oslo de 1993. Agora que foi eleito, os políticos israelitas querem que cumpra a promessa e que transfira a embaixada dos EUA de Telavive, capital de facto de Israel, para a disputada cidade. Ao "Jerusalem Post", um dos conselheiros de Trump para Israel e o Médio Oriente, David Friedman, garantiu esta quarta-feira que o próximo líder norte-americano vai fazê-lo. "Foi uma promessa de campanha e ele tem toda a intenção de a cumprir", disse ao diário israelita. "Vamos assistir a uma relação muito diferente entre a América e Israel de uma forma positiva."
O "The Guardian" nota esta manhã, no rescaldo da eleição surpreendente de Trump, que algumas figuras da política israelense, incluindo o controverso ministro da Educação Naftali Bennett, nacionalista de extrema direita, veem na vitória de Trump um sinal de que as negociações de uma solução de dois Estados vão chegar ao fim e que o apoio à autodeterminação do povo palestiniano se vai extinguir.
A campanha eleitoral norte-americana foi seguida atentamente em Israel, entre outras razões pelo facto de Trump ter prometido alterar profundamente a postura dos EUA face à Palestina e também anular o histórico acordo nuclear com o Irão que Barack Obama conseguiu alcançar no final de 2015 – e que foi ferozmente criticado por Netanyahu. Durante a corrida, o candidato republicano descreveu esse acordo como "o mais estúpido de todos os tempos" e indicou que, enquanto Presidente dos EUA, iria considerar Israel o seu "amigo mais próximo" e apoiar a expansão dos colonatos hebraicos em território palestiniano, há muito condenada pelos sucessivos Governos norte-americanos e pela comunidade internacional.
Apesar de muitos israelitas de direita estarem contentes com a eleição de Trump, outros comentadores e figuras do país continuam desconfortáveis com a perceção de que Trump, ou no mínimo alguns membros da sua equipa, foram responsáveis por vaias e tweets antissemitas durante a campanha. Depois de uma conversa telefónica entre Netanyahu e Trump, esta quarta-feira, horas depois de confirmada a vitória do controverso magnata, o gabinete do primeiro-ministro israelita disse que "o Presidente eleito dos EUA convidou Netanayhu a encontrar-se com ele nos Estados Unidos à primeira oportunidade".
Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, que as forças hebraicas têm perseguido e expulsado os palestinianos dos seus territórios, onde continuam a construir enormes colonatos até hoje, em desrespeito dos acordos de paz de Oslo, assinados em 1993, para tentar resolver o conflito e implementar uma solução de dois Estados, em que são reconhecidos os direitos dos dois povos à autodeterminação.
Sob esse tratado, Israel aceitou ficar com a parte ocidental de Jerusalém e dar aos palestinianos o controlo parcial de Jerusalém Oriental e de grande parte da Cisjordânia. Contudo, as linhas definidas nesse mapa têm sido apagadas pelos sucessivos Governos israelitas, que continuam a implementar no terreno políticas de ocupação e domínio da Palestina sem reconhecer a sua existência.