Apesar da perseguição implacável, os judeus encontraram uma maneira de observar o Purim durante a Inquisição espanhola.
Em 1391, massacres anti-judaicos varreram a Espanha, fazendo com que judeus fossem obrigados a escolher entre se converter ao cristianismo ou serem assassinados. Cerca de 20.000 judeus espanhóis se tornaram cristãos durante este período e muitos mais continuaram a converter ao longo do século 15, sob coerção. No entanto, muitos desses judeus que foram convertidos sob a espada continuaram a praticar o judaísmo em segredo. Isso perturbou muito os espanhóis, que viram que muitos judeus “escondidos” continuavam a fazer parte dos altos escalões da sociedade espanhola, como já eram desde a Idade de Ouro da Espanha muçulmana.
Deste modo, em 1492, a rainha Isabel e D. Fernando expulsaram do seu reino todos aqueles judeus acusados de seguirem praticando a fé judaica. Em um primeiro momento, a Inquisição espanhola foi criada para caçar os judeus que continuavam a praticar sua fé em segredo. Cerca de 165.000 judeus fugiram da Espanha, 50.000 foram batizados e algo como 20.000 morrem, tentando deixar a Espanha em 1492. Enquanto isso, 31,912 “hereges” foram queimados nas fogueiras da Espanha, e outros 17.659 foram queimados em efígie – ou seja, simbolicamente, substituídos por um boneco de pano. Para os judeus secretos, conhecidos como “Anussim” – conversos ou marranos – que viviam sob o jugo da Inquisição e, portanto, em constante medo de que seriam descobertos, a festa de Purim tinha um significado especial, já que a Rainha Esther também foi forçado a praticar o judaísmo em segredo.
Para os Anussim da Espanha, Portugal e América Latina, Purim não era um dia de festa com crianças fazendo barulho e adultos consumindo álcool. Pois, se celebrassem desta forma, seriam descobertos pela Inquisição. Ao invés disso, os Anussim, que corriam perigo de vida, jejuavam por três dias, assim como a Rainha Ester jejuou quando os judeus da Pérsia foram ameaçados de aniquilação.
Como resultado, a Inquisição utilizou o Jejum de Esther como um indicador de judeus engajando-se em atividades religiosas “proibidas”. Além disso, um jejum de três dias não era considerado saudável. De acordo com Gabriel de Granada, um garoto de 13 anos de idade, interrogado pela Inquisição no México em 1643, as mulheres de sua família dividiam os três dias de jejum entre elas. Leonor de Pina, que foi preso pela Inquisição portuguesa em 1619, registrou que suas filhas jejuavam por três dias, durante o dia, enquanto durante a noite, comiam. Contudo, quando comiam, se abstinham de comer carne.
Estudiosos dos Anussim sustentam a idéia de que os judeus secretos de Espanha, Portugal e América Latina viram no jejum particular de três dias como um substituto para as Mitzvot públicas de: ler a Megilá na sinagoga e enviar presentes com comida para familiares e amigos – sendo estas ações que chamavam a atenção da Inquisição. O professor Moshe Orfali da Universidade Bar Ilan afirma que os Anussim jejuavam, muitas vezes, como uma forma de demonstrar o seu remorso por serem forçados a violar a Torá.
Curiosamente, os Anussim também transformaram a rainha Esther em “Santa Esther,” como um meio de disfarçar sua fé judaica durante a Inquisição. Os Anussim frequentemente ofereciam todas as suas orações para esta “santa”. Assim, mesmo que os Anussim hajam perdido muito de sua herança judaica ao longo dos séculos, eles nunca esqueceram a Rainha Esther, ou as palavras da Megilá que proclamam: “E esses dias de Purim nunca deixarão os judeus, e sua lembrança jamais será perdida entre seus descendentes”.
Por: Rachel Avraham, traduzido do site UnitedWithIsrael.org