Estudante indígena faz denúncia à PF após ter sido espancado no RS. Caso aconteceu em frente à Casa do Estudante da UFRGS em Porto Alegre. Gravação mostra Nerlei Fidelis, 30, recebendo chutes, socos e pontapés.
A Polícia Federal deve investigar o espancamento de um estudante indígena da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ocorrido na madrugada de sábado (19) em frente à Casa do Estudante, na Avenida João Pessoa, no Centro de Porto Alegre, e flagrado por uma câmera de segurança (veja o vídeo neste link). O aluno de medicina veterinária Nerlei Fidelis, de 30 anos, denunciou o fato à PF devido à suspeita de que sua origem silvícola ou a condição de cotista tenham motivado o crime.
Nerlei havia saído do Parque Harmonia, também no Centro da cidade, com dois sobrinhos e, juntos, foram para a Praça da Alfândega, na mesma região, como conta o advogado do estudante, Onir de Araújo. No caminho, um dos sobrinhos não foi mais visto. Preocupado, Nerlei e o outro familiar foram até a Casa do Estudante, onde mora, para ver se ele estava bem.
Ao chegarem ao prédio, se depararam com um grupo de cerca de seis pessoas. Eles abordaram Nerlei, que tentava conversar com o segurança vigilante. Uma câmera em frente à entrada do prédio captou a movimentação. Por volta dos 5 minutos de filmagem, o sobrinho de Nerlei levantou a camisa, para mostrar que não tinha nada com ele.
Poucos segundos depois, por volta da 1h45, o grupo começou a desferir socos e pontapés no estudante de medicina veterinária. O vídeo mostra o momento em que ele cai ao lado de uma lixeira e, mesmo no chão, segue sendo chutado. Um dos homens segura Nerlei pelas costas, enquanto outros dão chutes nele.
Após as agressões, ele foi levado pelo sobrinho até a Praça da Alfândega, onde estava parte da tribo da qual faz parte. Em seguida, foram para a aldeia indígena do Morro do Osso, no bairro Tristeza, na Zona Sul da cidade, onde se recuperou dos ferimentos.
Onir conta que o estudante está machucado e assustado com o que ocorreu. "Ele está tendo dificuldades para comparecer às aulas. Para ele é quase como um ambiente hostil." Para ele não há dúvida sobre a motivação das agressões. "Foi racismo. É uma realidade que a gente vive na sociedade, insistentemente."

Há um ano, o indígena fez uma prova para transferência interna para o atual curso.
Corregedoria da PF vai analisar o caso
Nerlei registrou ocorrência na Polícia Federal nesta terça (22). Conforme a assessoria de imprensa do órgão, ele foi ouvido e foi orientado a fazer o exame de corpo de delito. Em seguida, a ocorrência foi repassada para a corregedoria da corporação, para apreciação, e depois deve ser instalado o inquérito. Algumas diligências já foram feitas.
Em nota, a UFRGS informou que "todos os procedimentos para a apuração dos fatos estão sendo tomados, bem como as providências necessárias pelas instâncias pertinentes". Além disso, a instituição declarou que repudia "práticas violentas envolvendo a comunidade acadêmica, em seu ambiente ou fora dele"