A “Hora” triste de Hannah Senesh
É uma das heroínas do Sionismo e do Judaísmo moderno.
Menina da classe media de Budapeste, Hungria, Hannah Senesh pertencia a uma família intelectualizada (o pai era jornalista e dramaturgo) de judeus cientes de suas origens, mas indiferentes a causa da construção do Estado de Israel. Já na adolescência, porem, Hannah engaja-se no movimento sionista e, em 1939, aos dezoito anos, acaba por emigrar para o então Mandato Britânico da Palestina, território herdeiro do antigo Israel bíblico, onde ela estuda numa escola agrícola e trabalha em kibutz.
Numa das cartas enviada a sua melhor amiga Miriam em 1943, Hannah Senesh escreveu:
"Shalom Miriam, vejo que estou esperando em vão sua visita tão prometida,
e também não recebo nenhuma carta sua. Que pena. Em nosso breve encontro não
pudemos falar de nada. É tão divertido falar muito. Às vezes eu quero te
consultar ou apenas conversar com você, e eu sinto mais do que pensei que a
nossa amizade não é somente o resultado das condições pelas quais ambas
passávamos, mas muito mais do que isso. Devo dizer que em Israel você talvez
seja a única com quem eu posso realmente me abrir. Eu também me tornei mais
fechada do que era. É verdade, eu não tenho aqui uma boa amiga ou bom amigo. É
difícil culpar algo ou alguém, e eu não estou procurando culpas. Aceito os
fatos e vivo assim. E ao mesmo tempo, eu me sinto ligada ao grupo, vejo a
necessidade, sob todos os aspectos, de viver aqui e não me arrependo de minha
escolha. "
Na carta que Senesh, aos 22 anos, enviou a Miriam havia uma poesia que ela
escreveu, descrevendo a tempestade em sua mente naquele momento, poucos meses
antes de sair para a missão da qual não regressou. A poesia se chama
"Hora” de uma jovem da diáspora."
“Hora” fervorosa, animada, ruidosa,
Irrompe agitada ao meu redor.
O ritmo é um encantamento
Que de idade e tormento
Livra meu corpo e meu coração.
O pé dá um passo, o ombro estremece,
Os versos se inflamam, o canto incandesce.
Dança e canção,
Muda oração,
Ao D-us do futuro, ao D-us da criação.
E então...
Uma imagem flutua na minha frente.
Do abraço amigo me solto de repente,
Alheio ao canto, meu coração acelera.
Próxima e distante ela me toma por inteira.
Olhos azuis, expressão inquisitiva,
Tristeza calada e boca altiva –
Parada quedei-me – o silêncio cresceu.
Sozinha entre centenas: ela – e eu.
Cesaréia, 27 de fevereiro de 1943