Uma TeshuvƔ HalƔchica do Rabino David A Kunin
Esta manhĆ£ minha apresentaĆ§Ć£o serĆ” dividida em cinco seƧƵes.
Na primeira examinarei as responsas rabĆnicas existentes. Na segunda voltarei
aos elementos das leis de conversĆ£o conforme elas afetam os anussim. Na
terceira examinarei dois temas de status. Na quarta examinarei alguns temas
extra-halĆ”chicos relevantes Ć decisĆ£o de fazer o processo. Finalmente,
apresentarei minhas visƵes de como eu espero que a halachƔ irƔ se desenvolver
no futuro.
Ano passado, na minha apresentaĆ§Ć£o apresentada no encontro
de Pueblo, examinei as principais tendĆŖncias encontradas nas responsas
ashkenazis e sefaradis acerca do retorno dos convertidos forƧados (ao
cristianismo e ao islamismo) para o judaĆsmo. Aquela apresentaĆ§Ć£o pretendia
apresentar um exame histĆ³rico da opiniĆ£o rabĆnica e como esta se desenvolveu
com o passar do tempo. Este ano, embora eu discuta muitos dos mesmos textos
rabĆnicos, meu papel serve a uma funĆ§Ć£o muito diferente. Em vez de simplesmente
apresentar e examinar as fontes judaicas legais do passado, esta apresentaĆ§Ć£o
pretende ser uma teshuvĆ” (responsa) halĆ”chica Ć qual espero que seja um inĆcio
para uma nova responsa judaica legal para o presente.
Dentro da tradiĆ§Ć£o legal rabĆnica, os rabinos quase sempre
emitem decisƵes halƔchicas (legais) como responsas para perguntas a eles
enviadas por pessoas seculares ou atƩ mesmo por outros rabinos. As perguntas
sĆ£o denominadas sheelot, e as respostas teshuvot; a literatura como um todo Ć©
denominada responsa halƔchica. As teshuvot (respostas) podem ser respostas
curtas e simples a uma pergunta, ou podem ser respostas elaboradas; ambas
apresentam respostas Ć questĆ£o e as fontes sobre as quais a resposta estĆ”
baseada. As opiniƵes halĆ”chicas em geral estĆ£o constituĆdas de precedentes,
construĆdas sobre as decisƵes e opiniƵes do passado. PorĆ©m, elas nĆ£o se limitam
Ć s opiniƵes majoritĆ”rias de qualquer geraĆ§Ć£o, mas nas palavras da MishnĆ”, que
pode selecionar atĆ© mesmo uma opiniĆ£o minoritĆ”ria ou uma opiniĆ£o individual de
um rabino do passado. Dito isto, devo acrescentar que esta apresentaĆ§Ć£o
representa a minha opiniĆ£o pessoal como um rabino individual acerca das
perguntas feitas, e de forma alguma estĆ” vinculada Ć minha congregaĆ§Ć£o ou ao
movimento Conservativo. Agora devemos retornar Ć pergunta feita nesta responsa
halĆ”chica; quais sĆ£o os requisitos judaicos legais para o retorno dos anussim,
os cripto-judeus, para a integraĆ§Ć£o Ć comunidade judaica religiosa? Embora esta
pergunta possa nĆ£o parecer relevante, justa ou tampouco razoĆ”vel para muitos
anussim, Ć© uma pergunta essencial dentro da formataĆ§Ć£o legal judaica. Em
essĆŖncia, estĆ” relacionada Ć questĆ£o do status bĆ”sico: Quem Ć© judeu, e quais
sĆ£o os elementos essenciais da identidade judaica? As respostas dadas a esta
pergunta afetarĆ£o cada aspecto da participaĆ§Ć£o no seio da vida religiosa
judaica, desde a participaĆ§Ć£o na sinagoga ao matrimonio com outro judeu.
Antes de apresentar a minha prĆ³pria resposta, examinaremos
duas teshuvot modernas, responsas rabĆnicas que, de forma estrita, tambĆ©m
encaminham a questĆ£o das exigĆŖncias para o retorno dos anussim. A primeira
destas foi escrito pelo rabino Mordechai Eliahu (1994), ex-Rabino-Chefe
sefaradĆ de Israel, e o segundo pelo rabino Aaron Soloveichik (1994), Rosh
Yeshiva do Brisk Rabbinical College de Chicago. Ambos sĆ£o proeminentes rabinos
ortodoxos.
Ambas as teshuvot foram escritas como respostas para
perguntas submetidas pela Dra. Shulamith Halevy, e publicadas no website dela.
*A teshuvĆ” do rabino Eliahu Ć© muito simples e direta; ele declara que os
seguintes passos sĆ£o exigidos para o retorno de um anĆŗs ao povo judeu:
"ApĆ³s a conclusĆ£o de todos os passos de estudo da TorĆ”, a aceitaĆ§Ć£o do
jugo da TorĆ” e seus mandamentos, a circuncisĆ£o e a imersĆ£o, ele deveria receber
um certificado com o tĆtulo, `Certificado para ele/ela que retornou aos
caminhos dos seus antepassados".
Em outras palavras, alƩm do certificado,
Eliahu impƵe todas as exigĆŖncias de conversĆ£o ao anĆŗs em processo de retorno.
Eliahu explica que estas exigĆŖncias sĆ£o necessĆ”rias por causa do longo tempo
desde as conversƵes forƧadas, e por causa da preocupaĆ§Ć£o acerca doas casamentos
inter-religiosos por sucessivas geraƧƵes. PorƩm, talvez o aspecto mais notƔvel
da teshuvĆ” de Eliahu Ć© a sua aceitaĆ§Ć£o da conexĆ£o judaica dos anussim, apesar
do longo tempo e das suas dĆŗvidas relativas Ć” linha matrilinear de
descendĆŖncia.
Ao falar dos rituais exigidos ele usa termos de retorno em vez de
conversĆ£o, e como notado acima, o certificado que ele acredita que deveria ser emitido
nĆ£o Ć© um "Certificado de ConversĆ£o", mas em vez disso, um
"Certificado de Retorno". Por outro lado, a responsa de Soloveichik
tambĆ©m pode ser curta, mas nĆ£o Ć© nada simples. Inicialmente ele declara:
"Eles (os anussim) devem ser tratados como judeus plenos em todos os
sentidos (contados para um miniƔn, receberem aliot, etc.)". Os rituais
escolhidos sĆ£o importantes, porque ambas as mitsvot (observĆ¢ncias religiosas)
exigem que o participante seja tĆ£o obrigado pela lei judaica como os demais
participantes do serviƧo religioso. Ao permitir que os anussim as realizem, sem
qualquer conversĆ£o ou ritual de retorno da parte de uma congregaĆ§Ć£o, Ć© um
reconhecimento explĆcito e pĆŗblico de que eles sĆ£o completamente judeus.
Todavia, em seguida ele nega a inserĆ§Ć£o deles na comunidade de todos os modos,
medidas ou formas, ao exigir conversĆ£o plena se o anĆŗs desejar se casar dentro
da comunidade judaica. Diferente de Eliahu, Soloveichic usa explicitamente o
termo conversĆ£o em lugar de retorno: "Ele ou ela tĆŖm que passar por
conversĆ£o plena". Esta exigĆŖncia ritual usando o termo
"conversĆ£o" contradiz a sua contenĆ§Ć£o anterior de identidade judaica
dos anussim uma vez que a exigĆŖncia explĆcita de "conversĆ£o" implica
que eles nĆ£o sĆ£o judeus de modo algum e que, assim sendo, nĆ£o deveriam ter
permissĆ£o para contar em um miniĆ”n ou para receber uma aliĆ” na TorĆ”.
Esta responsa Ć© extremamente confusa. NĆ£o hĆ” precedente na tradiĆ§Ć£o judaica legal
para uma pessoa por um lado ser tratada como completamente judia e
explicitamente capaz de cumprir as exigĆŖncias judaicas legais ao lado de outros
judeus, e por outro lado ser tratada como nĆ£o judia e ser obrigada a
"passar por conversĆ£o plena", ao desejar se casar um judeu. A teshuvĆ”
de Eliahu se enquadra bem na estrita tradiĆ§Ć£o halĆ”chica ashkenazĆ relativa ao
retorno dos anussim.
Figuras ashkenzazis legais de Rashi ao Rama, ao
reconhecerem a condiĆ§Ć£o judaica dos anussim, exigem que eles passem por rituais
idĆŖnticos aos exigidos para um convertido ao judaĆsmo. Eliyahu se remete Ć
responsa sefaradĆ de Solomon ben Simon Duran (1400-1467). PorĆ©m, ele sĆ³ aceita
a responsa de Duran na medida em que declara que o anĆŗs deve ser "aceito
com bondade", e como a base do conceito de que a cerimƓnia deveria ser a
de retorno em vez de conversĆ£o. Ele rejeita a opiniĆ£o bĆ”sica de Duran, e de
fato a de todas as demais autoridades sefaradĆs medievais, que exigem os
rituais de conversĆ£o. Estas duas respostas representam a soma total do
pensamento rabĆnico moderno que eu pude encontrar ao examinar o retorno dos anussim
Ć comunidade judaica. PorĆ©m, eles nĆ£o representam todas as respostas halĆ”chicas
possĆveis e legĆtimas Ć s exigĆŖncias para o retorno dos anussim.
Examinaremos agora outra abordagem, minha sugestĆ£o pessoal,
sobre uma resposta halƔchica adequada para esta pergunta. Conforme verificado
acima, ambas as responsas rabĆnicas existentes seguem exigĆŖncias ashkenazĆs
estipuladas no que diz respeito ao retorno dos anussim. Todavia, a comunidade
que retorna nĆ£o Ć© de ashkenazi, mas de sefaradi. Ć sabido que as vivĆŖncias
histĆ³ricas das duas comunidades nĆ£o foram idĆŖnticas, e nĆ£o deveria ser
surpreendente, portanto, que as respostas halƔchicas para situaƧƵes discrepantes
tambĆ©m nĆ£o sejam idĆŖnticas. Isto ocorre graƧas ao fato de que a halachĆ” Ć©, por
natureza, situacional e dinĆ¢mica, em vez de universal e estĆ”tica (estas
abordagens discrepantes e as razƵes para as mesmas foram examinadas no trabalho
que apresentei ano passado). Por isso eu acredito que Ć© apropriado nos
voltarmos inicialmente para a responsa halĆ”chica dos rabinos sefaradĆs em vez
dos ashkenazĆs, uma vez que eles escreviam para, e basearam-se nas realidades
da comunidade Ć qual estamos nos referindo.
Em essĆŖncia, a pergunta que faremos
poderia ser reformulada para: "SerĆ” que os anussim em processo de retorno
devem se submeter aos rituais de conversĆ£o antes de receberem permissĆ£o para
participar plenamente como parte da comunidade judaica como um todo?" NĆ³s
examinaremos entĆ£o, em princĆpio, a exigĆŖncia aos anussim vis-a-vis as leis de
conversĆ£o. Tradicionalmente, a conversĆ£o ao judaĆsmo (para judeus conservadores
e ortodoxos) Ć© composta de trĆŖs (para um homem) ou dois (para uma mulher)
passos essenciais, conforme esboƧados no Shulchan Aruch YorĆŖ DeĆ” 268, escrito
por Iossef Caro.
Um homem convertido deve passar por Brit MilĆ”, TevilĆ” e
CabalƔt MitsvƔ, ou seja, ser circuncidado, ser imergido em uma micvƔ, e aceitar
o jugo dos mandamentos na presenƧa de um Bet Din (um tribunal de pelo menos
trĆŖs rabinos - tecnicamente exige-se de um Bet Din testemunhar todos os
aspectos da conversĆ£o, mas Caro declara que, na prĆ”tica, se o Bet Din estiver
presente apenas na AceitaĆ§Ć£o das Mitsvot, a conversĆ£o permanece vĆ”lida). Da mulher
exige-se que passe por tevilĆ” (imersĆ£o) e CabalĆ”t MitsvĆ” (aceitaĆ§Ć£o das
mitsvot). Todos estes passos sĆ£o necessĆ”rios ou a conversĆ£o Ć© considerada
invĆ”lida; a Ćŗnica excepĆ§Ć£o Ć© que se um homem jĆ” for anteriormente circuncidado,
entĆ£o se retira uma gota de sangue, em um ritual denominado hatafĆ”t dĆ”m brit.
TambĆ©m Ć© tradicional repelir por trĆŖs vezes o convertido potencial, e hoje a
maioria dos rabinos requer um perĆodo extenso de estudo, por um ano ou mais,
antes que os rituais de conversĆ£o possam ser executados. Cada passo do ritual,
conforme estĆ£o apresentados no Shulchan Aruch, serĆ” examinado em relaĆ§Ć£o ao
retorno dos anussim. O primeiro passo da conversĆ£o Ć© a exigĆŖncia de repelir o
convertido potencial. O Shulchan Aruch registra que se deve dizer a um convertido:
"VocĆŖ nĆ£o sabe que os israelitas sĆ£o um povo oprimido e
menosprezado?". Se ele ainda desejar se converter, entĆ£o serĆ” aceito e o
processo Ć© iniciado.
Este passo do processo de conversĆ£o estĆ” ausente das
fontes ashkenazĆs e sefaradĆs. NĆ£o hĆ” qualquer exigĆŖncia para repelir um anĆŗs
em processo de retorno, uma vez que ambas as responsas ashkenazĆs e sefaradĆs
medievais reconhecem a conexĆ£o histĆ³rica doa anussim Ć comunidade judaica. ApĆ³s
resistir ao desestĆmulo, o prosĆ©lito serĆ” educado na lei judaica como
preparaĆ§Ć£o para o cabalĆ”t mitsvĆ”, a aceitaĆ§Ć£o do jugo da lei. A cabalĆ”t mitsvĆ”
serĆ” feita na presenƧa de um Bet Din. Ć interessante notar que Caro nĆ£o exige
que o prosĆ©lito passe por uma educaĆ§Ć£o detalhada da lei; em vez disso, ele ou
ela somente serĆ£o educados nos fundamentos da observĆ¢ncia e da convicĆ§Ć£o
judaicas. As fontes sobre os anussim apresentam uma interessante variedade de
abordagens relativas Ć exigĆŖncia da educaĆ§Ć£o e da cabalĆ”t mitsvĆ”. As fontes
ashkenazĆs silenciam sobre a exigĆŖncia para educaĆ§Ć£o, mas universalmente exigem
cabalĆ”t mitsvĆ”. Mas as fontes sefaradĆs declaram explicitamente que nenhuma
educaĆ§Ć£o ou cabalĆ”t mitsvĆ” Ć© necessĆ”ria. Nas palavras de Solomon ben Simon
Duran: "Uma vez que estĆ” claro que estes (anussim) nĆ£o devem ser considerados
prosĆ©litos, nĆ³s entĆ£o nĆ£o precisamos lhes enumerar todos os mandamentos e suas
puniƧƵes (como deve ser feito a um gentio que deseja se tornar um prosƩlito).
Isto Ć© Ć³bvio, uma vez que se vocĆŖ fosse lhe dizer que (como vocĆŖ faria com um
candidato gentio para conversĆ£o), se ele (o anĆŗs) nĆ£o desejar aceitar os
mandamentos, nĆ³s o afastarĆamos e ele estaria livre delas como se fosse um
gentio - Deus proĆba que isto sequer passe pela mente.
Porque ele jĆ” tem o
pleno dever de cumpri-los da mesma maneira que nĆ³s". Duran explica que a
educaĆ§Ć£o e a aceitaĆ§Ć£o das mitsvot sĆ£o desnecessĆ”rias porque o anĆŗs jĆ” Ć©, nas
suas palavras, parte da casa de Israel. ApĆ³s o ensino das mitsvot, o prĆ³ximo
passo no processo listado por Caro Ć© a tevilĆ”, a imersĆ£o na micvĆ”.
Tradicionalmente
o prosĆ©lito imerge uma vez, recita as brachĆ³t (bĆŖnĆ§Ć£os) apropriadas e entĆ£o
imerge mais uma ou duas vezes. Todas as fontes ashkenazĆs exigem que um anĆŗs em
processo de retorno passe por tevilĆ”. Fontes sefaradĆs, de RambĆ”m (MaimĆ“nides)
em diante sustentam que a imersĆ£o Ć© desnecessĆ”ria. Duran declara: "Uma vez
que ele (o anĆŗs em processo de retorno) Ć© um israelita, nĆ£o precisa do banho
ritual".
O estĆ”gio final da conversĆ£o mencionada pelo Shulchan Aruch como
parte de conversĆ£o Ć© o brit milĆ”, a circuncisĆ£o. A circuncisĆ£o de um prosĆ©lito
serĆ” acompanhada pela brachĆ”: "Baruch atĆ” Adonai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m,
asher kideshƔnu bemitsvotƔv vetsivƔnu lamul et guerim (AbenƧoado Ʃs Tu, Adonai,
nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos
ordenaste a circuncisĆ£o dos prosĆ©litos)". Caro acrescenta que se o
candidato jĆ” Ć© circuncidado entĆ£o deve ser feita a hatafĆ”t dĆ”m brit. Brit MilĆ”
Ć© traduzido literalmente como Sinal do Pacto, e Ć© uma mitsvĆ” obrigatĆ³ria para
todos os homens judeus.
Assim, todas as fontes exigem que os anussim em
processo de retorno sejam circuncidados ou faƧam hatafƔt dƔm brit. A maior
parte das fontes silencia sobre o teor da brachĆ”, mas Duran declara que as
mesmas brachot usadas para os homens recƩm-nascidos no brit milƔ no oitavo dia
devem ser usados para os anussim em processo de retorno. SĆ£o estas:
"Baruch atĆ” Ad-nai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m, asher kideshĆ”nu bemitsvotĆ”v
vetsivƔnu al hamilƔ (AbenƧoado Ʃs Tu, Ad-nai, nosso Deus, Rei do Universo, que
nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste sobre a milĆ”)", antes da
circuncisĆ£o, e "Baruch atĆ” Ad-nai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m, asher kideshĆ”nu
bemitsvotƔv vetsivƔnu lehachnissƓ bevritƓ shel Avraham Avinu (AbenƧoado Ʃs Tu,
Adonai, nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e
nos ordenaste inseri-lo [o anĆŗs] no Pacto do nosso Patriarca AbrahĆ£o)".
Embora a circuncisĆ£o seja exigida tanto para o prosĆ©lito quanto para o anĆŗs, e
de fato para qualquer homem judeu nĆ£o circuncidado, o teor da brachĆ” Ć©
novamente uma indicaĆ§Ć£o do status pleno do anĆŗs como membro do povo judeu.
Duas Perguntas Finais: Sinceridade e DescendĆŖncia HĆ” duas
perguntas finais que devem ser feitas. SerĆ” que devemos nos preocupar com a
sinceridade da conversĆ£o inicial ao catolicismo pelo antepassado do anĆŗs na
Espanha dos sĆ©culos XIV e XV, e deverĆamos aceitar apenas aqueles anussim que
podem demonstrar descendĆŖncia matrilinear atĆ©... eu imagino que atĆ© MoshĆ©
RabĆŖnu? Antigas autoridades sefaradĆs, tais como o Rivash, rabino Itschac ben
Shesht, exigiram que fossem feitas cuidadosas avaliaƧƵes dos anussim em
processo de retorno (Responsa 11).
Eles acreditavam que sĆ³ aqueles que foram
convertidos violentamente e que nunca abraƧaram o cristianismo com qualquer
grau de sinceridade deveriam ser aceitos de volta Ć comunidade judaica. Shesht
declara que hĆ” dois tipos de anussim, "aqueles que escolheram a conversĆ£o,
abandonaram o jugo da TorĆ”, cortaram os elos da TorĆ” deles mesmos, e de prĆ³pria
vontade seguem os caminhos dos idĆ³latras e estĆ£o transgredindo todas as mitsvot
da TorĆ”", e "aqueles que teriam deixado a Espanha, mas foram
incapazes de fazer isso... e tiveram o cuidado de nĆ£o se sujarem com a impureza
dos pecados, excepto em tempos e lugares de perigo".
O primeiro grupo, com
efeito, nĆ£o era mais parte do povo judeu, e seus membros tornaram-se
inelegĆveis como testemunhas, enquanto os do segundo grupo permaneceram como
judeus e cashercomo testemunhas. A responsa do Rivash tratava apenas daquelas
pessoas que fizeram as escolhas iniciais relativas Ć conversĆ£o (ao
cristianismo).
Isto nĆ£o dizia respeito aos filhos destes. Mais tarde as
autoridades rabĆnicas sefaradĆs se dirigiram aos descendentes destes anussim e
nĆ£o fizeram qualquer distinĆ§Ć£o entre os dois grupos do Rivash, uma vez que mesmo
os filhos destes anussim que caĆram no primeiro nĆ£o eram responsĆ”veis pelas
decisƵes dos seus pais. Sadaya ibn Danan e outras autoridades sefaradĆs igualam
os filhos como filhos judeus criados por gentios, portanto sem qualquer culpa
pela prĆ”tica cristĆ£ dos seus pais. A resposta para a segunda destas duas
perguntas Ć© mais complexa. Por mais de dois milĆŖnios os judeus traƧaram a sua
identidade religiosa/nacional pela linha matrilinear.
Todavia, exigir isto dos
anussim Ć©, essencialmente, uma placa dizendo "nĆ£o entre" - a nĆ£o ser
por uma conversĆ£o plena no sentido pleno da palavra. PorĆ©m, a responsa sefaradĆ
provĆŖ um meio de criar um atalho. Enquanto Duran, que por outro lado oferece
uma das mais liberais responsas sefaradĆs, declare que os anussim que podem
traƧar uma linha materna devem ser aceitos "atƩ o fim de todas as
geraƧƵes". Ibn Danan Ʃ muito mais liberal neste ponto. Danan declara que
"nenhum cuidado especial deveria ser tomado para investigar a genealogia
dos anussim, sobre a mĆ£e dele ou dela era judia".
TambƩm deve se destacar
que quase todas as responsas sefaradĆs tornam quase uma obrigaƧƵes receber os
anussim de volta. Duran declara: "NĆ³s nĆ£o devemos aterrorizĆ”-lo ou
confundi-lo, mas atraĆ-lo a nĆ³s com bondade, porque ele estĆ” de pĆ© como nĆ³s sob
o juramento feito no Sinai". Danan de fato captura os sentimentos modernos
dos anussim ao declarar: "Se os marranos", diz ele, "sĆ£o
considerados gentios e aqueles que querem retornar sĆ£o considerados prosĆ©litos,
o desejo deles de retornar Ć comunidade judaica serĆ” enfraquecido... os
marranos nĆ£o devem ser recebidos como estranhos, mas como irmĆ£os. Eles devem
ter o sentimento de que estĆ£o voltando para casa... de fato, dentro da linhagem
todo o povo de Israel sĆ£o irmĆ£os. NĆ³s todos somos filhos de um pai.
O jugo da
lei ainda estĆ” nos ombros deles e jamais pode ser removido deles". Iossef
Caro, em Bet Iossef, declara que os anussim "nĆ£o devem ser desencorajados
de forma alguma de retornarem ao judaĆsmo". Alguns rabinos modernos tĆŖm
exigido ketubot (documento matrimonial judaico) ou outros documentos como
instrumentos de prova da identidade judaica dos anussim. NĆ£o se pode estar em
sĆ£ consciĆŖncia achar que aqueles que mantĆŖm a sua identidade oralmente e por atos
devam ser punidos quando o material escrito estava nas mĆ£os do opressor (por
exemplo, o governo real espanhol ou o Santo Tribunal da InquisiĆ§Ć£o). A ironia
neste caso foi que o opressor estava de posse dos registros exigidos por alguns
rabinos. Mais adiante, conforme destacado por Hordes, a prĆ³pria existĆŖncia
destes registros Ć© precĆ”ria, em geral desaparecida ou destruĆda com o passar do
tempo. Os seguintes factores extra-halƔchicos tambƩm devem ser levados em
conta. A histĆ³ria de perseguiĆ§Ć£o e segredo dos anussim sĆ£o conhecidas hĆ” mais
de 600 anos.
EntĆ£o o seguinte pode ser demonstrado claramente:
1) Os anussim
tem sido um segmento identificƔvel, ainda que oculto, da comunidade judaica por
mais de meio milĆŖnio.
2) Os anussim consideram-se parte do povo judeu apesar do
perigo e apesar de estarem apartados do mundo judeu. Os anussim tambĆ©m tĆŖm
mantido uma notĆ”vel dedicaĆ§Ć£o aos ensinamentos e rituais da tradiĆ§Ć£o judaica o
mƔximo que podem, apesar do perigo e do isolamento. E a comummente severa
resposta da comunidade judaica Ć© uma pobre retribuiĆ§Ć£o para uma sobrevivĆŖncia
assim tĆ£o heroica diante da perseguiĆ§Ć£o, do medo e do teste do tempo. Baseado
na discussĆ£o acima, segue a minha opiniĆ£o. Devido Ć histĆ³ria particular dos
anussim que mantiveram a sua identidade, convicƧƵes e prƔticas judaicas
secretamente e em geral colocando-os em risco, e a partir das palavras do
rabino Solomon Duran, os anussim devem sempre ser considerados parte do povo
judeu; nenhuma cerimĆ“nia Ć© necessĆ”ria de conversĆ£o Ć© necessĆ”ria, tampouco Ć©
necessƔrio investigar a genealogia dos anussim em processo de retorno para
demonstrar uma clara linha matrilinear de descendĆŖncia. PorĆ©m, Ć© aconselhĆ”vel
prover e encorajar a educaĆ§Ć£o contĆnua de adultos assim como fazemos para todos
os judeus, de forma que os anussim em processo de retorno podem exercer um
papel pleno na vida sinagogal. TambĆ©m pode ser Ćŗtil desenvolver um ritual de
retorno dentro da congregaĆ§Ć£o como uma forma de celebraĆ§Ć£o e formalizaĆ§Ć£o do
retorno.
Como todos os homens judeus, aqueles anussim que desejam retornar devem ser
circuncidados ou passar por hatafĆ”t dĆ”m brit, usando as mesmas bĆŖnĆ§Ć£os
utilizadas para o brit milĆ” no oitavo dia apĆ³s o nascimento de um menino judeu.
Ć uma obrigaĆ§Ć£o de todos os judeus alcanƧar os nossos irmĆ£os e irmĆ£s da
comunidade de anussim a fim de facilitar o retorno Ć comunidade judaica de todo
aquele que desejar retornar.
David Kunin Ć© rabino do Templo Ohr Shalom em San Diego, uma congregaĆ§Ć£o com
muitos membros cripto-judeus.
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