Recebendo de volta os Anussim

Recebendo de volta os Anussim

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"ApĆ³s a conclusĆ£o de todos os passos de estudo da TorĆ”, a aceitaĆ§Ć£o do jugo da TorĆ” e seus mandamentos, a circuncisĆ£o e a imersĆ£o, ele deverĆ” receber um certificado com o tĆ­tulo, `Certificado para ele que retornou aos caminhos dos seus antepassados". Mordechai Eliyahu (1929-2010) Ex-Rabino-Chefe sefaradĆ­ de Israel




Uma TeshuvƔ HalƔchica do Rabino David A Kunin

Esta manhĆ£ minha apresentaĆ§Ć£o serĆ” dividida em cinco seƧƵes. Na primeira examinarei as responsas rabĆ­nicas existentes. Na segunda voltarei aos elementos das leis de conversĆ£o conforme elas afetam os anussim. Na terceira examinarei dois temas de status. Na quarta examinarei alguns temas extra-halĆ”chicos relevantes Ć  decisĆ£o de fazer o processo. Finalmente, apresentarei minhas visƵes de como eu espero que a halachĆ” irĆ” se desenvolver no futuro.

Ano passado, na minha apresentaĆ§Ć£o apresentada no encontro de Pueblo, examinei as principais tendĆŖncias encontradas nas responsas ashkenazis e sefaradis acerca do retorno dos convertidos forƧados (ao cristianismo e ao islamismo) para o judaĆ­smo. Aquela apresentaĆ§Ć£o pretendia apresentar um exame histĆ³rico da opiniĆ£o rabĆ­nica e como esta se desenvolveu com o passar do tempo. Este ano, embora eu discuta muitos dos mesmos textos rabĆ­nicos, meu papel serve a uma funĆ§Ć£o muito diferente. Em vez de simplesmente apresentar e examinar as fontes judaicas legais do passado, esta apresentaĆ§Ć£o pretende ser uma teshuvĆ” (responsa) halĆ”chica Ć  qual espero que seja um inĆ­cio para uma nova responsa judaica legal para o presente.

Dentro da tradiĆ§Ć£o legal rabĆ­nica, os rabinos quase sempre emitem decisƵes halĆ”chicas (legais) como responsas para perguntas a eles enviadas por pessoas seculares ou atĆ© mesmo por outros rabinos. As perguntas sĆ£o denominadas sheelot, e as respostas teshuvot; a literatura como um todo Ć© denominada responsa halĆ”chica. As teshuvot (respostas) podem ser respostas curtas e simples a uma pergunta, ou podem ser respostas elaboradas; ambas apresentam respostas Ć  questĆ£o e as fontes sobre as quais a resposta estĆ” baseada. As opiniƵes halĆ”chicas em geral estĆ£o constituĆ­das de precedentes, construĆ­das sobre as decisƵes e opiniƵes do passado. PorĆ©m, elas nĆ£o se limitam Ć s opiniƵes majoritĆ”rias de qualquer geraĆ§Ć£o, mas nas palavras da MishnĆ”, que pode selecionar atĆ© mesmo uma opiniĆ£o minoritĆ”ria ou uma opiniĆ£o individual de um rabino do passado. Dito isto, devo acrescentar que esta apresentaĆ§Ć£o representa a minha opiniĆ£o pessoal como um rabino individual acerca das perguntas feitas, e de forma alguma estĆ” vinculada Ć  minha congregaĆ§Ć£o ou ao movimento Conservativo. Agora devemos retornar Ć  pergunta feita nesta responsa halĆ”chica; quais sĆ£o os requisitos judaicos legais para o retorno dos anussim, os cripto-judeus, para a integraĆ§Ć£o Ć  comunidade judaica religiosa? Embora esta pergunta possa nĆ£o parecer relevante, justa ou tampouco razoĆ”vel para muitos anussim, Ć© uma pergunta essencial dentro da formataĆ§Ć£o legal judaica. Em essĆŖncia, estĆ” relacionada Ć  questĆ£o do status bĆ”sico: Quem Ć© judeu, e quais sĆ£o os elementos essenciais da identidade judaica? As respostas dadas a esta pergunta afetarĆ£o cada aspecto da participaĆ§Ć£o no seio da vida religiosa judaica, desde a participaĆ§Ć£o na sinagoga ao matrimonio com outro judeu.

Antes de apresentar a minha prĆ³pria resposta, examinaremos duas teshuvot modernas, responsas rabĆ­nicas que, de forma estrita, tambĆ©m encaminham a questĆ£o das exigĆŖncias para o retorno dos anussim. A primeira destas foi escrito pelo rabino Mordechai Eliahu (1994), ex-Rabino-Chefe sefaradĆ­ de Israel, e o segundo pelo rabino Aaron Soloveichik (1994), Rosh Yeshiva do Brisk Rabbinical College de Chicago. Ambos sĆ£o proeminentes rabinos ortodoxos.

Ambas as teshuvot foram escritas como respostas para perguntas submetidas pela Dra. Shulamith Halevy, e publicadas no website dela. *A teshuvĆ” do rabino Eliahu Ć© muito simples e direta; ele declara que os seguintes passos sĆ£o exigidos para o retorno de um anĆŗs ao povo judeu: "ApĆ³s a conclusĆ£o de todos os passos de estudo da TorĆ”, a aceitaĆ§Ć£o do jugo da TorĆ” e seus mandamentos, a circuncisĆ£o e a imersĆ£o, ele deveria receber um certificado com o tĆ­tulo, `Certificado para ele/ela que retornou aos caminhos dos seus antepassados". 

Em outras palavras, alĆ©m do certificado, Eliahu impƵe todas as exigĆŖncias de conversĆ£o ao anĆŗs em processo de retorno. Eliahu explica que estas exigĆŖncias sĆ£o necessĆ”rias por causa do longo tempo desde as conversƵes forƧadas, e por causa da preocupaĆ§Ć£o acerca doas casamentos inter-religiosos por sucessivas geraƧƵes. PorĆ©m, talvez o aspecto mais notĆ”vel da teshuvĆ” de Eliahu Ć© a sua aceitaĆ§Ć£o da conexĆ£o judaica dos anussim, apesar do longo tempo e das suas dĆŗvidas relativas Ć” linha matrilinear de descendĆŖncia. 

Ao falar dos rituais exigidos ele usa termos de retorno em vez de conversĆ£o, e como notado acima, o certificado que ele acredita que deveria ser emitido nĆ£o Ć© um "Certificado de ConversĆ£o", mas em vez disso, um "Certificado de Retorno". Por outro lado, a responsa de Soloveichik tambĆ©m pode ser curta, mas nĆ£o Ć© nada simples. Inicialmente ele declara: "Eles (os anussim) devem ser tratados como judeus plenos em todos os sentidos (contados para um miniĆ”n, receberem aliot, etc.)". Os rituais escolhidos sĆ£o importantes, porque ambas as mitsvot (observĆ¢ncias religiosas) exigem que o participante seja tĆ£o obrigado pela lei judaica como os demais participantes do serviƧo religioso. Ao permitir que os anussim as realizem, sem qualquer conversĆ£o ou ritual de retorno da parte de uma congregaĆ§Ć£o, Ć© um reconhecimento explĆ­cito e pĆŗblico de que eles sĆ£o completamente judeus. 

Todavia, em seguida ele nega a inserĆ§Ć£o deles na comunidade de todos os modos, medidas ou formas, ao exigir conversĆ£o plena se o anĆŗs desejar se casar dentro da comunidade judaica. Diferente de Eliahu, Soloveichic usa explicitamente o termo conversĆ£o em lugar de retorno: "Ele ou ela tĆŖm que passar por conversĆ£o plena". Esta exigĆŖncia ritual usando o termo "conversĆ£o" contradiz a sua contenĆ§Ć£o anterior de identidade judaica dos anussim uma vez que a exigĆŖncia explĆ­cita de "conversĆ£o" implica que eles nĆ£o sĆ£o judeus de modo algum e que, assim sendo, nĆ£o deveriam ter permissĆ£o para contar em um miniĆ”n ou para receber uma aliĆ” na TorĆ”. 

Esta responsa Ć© extremamente confusa. NĆ£o hĆ” precedente na tradiĆ§Ć£o judaica legal para uma pessoa por um lado ser tratada como completamente judia e explicitamente capaz de cumprir as exigĆŖncias judaicas legais ao lado de outros judeus, e por outro lado ser tratada como nĆ£o judia e ser obrigada a "passar por conversĆ£o plena", ao desejar se casar um judeu. A teshuvĆ” de Eliahu se enquadra bem na estrita tradiĆ§Ć£o halĆ”chica ashkenazĆ­ relativa ao retorno dos anussim. 

Figuras ashkenzazis legais de Rashi ao Rama, ao reconhecerem a condiĆ§Ć£o judaica dos anussim, exigem que eles passem por rituais idĆŖnticos aos exigidos para um convertido ao judaĆ­smo. Eliyahu se remete Ć  responsa sefaradĆ­ de Solomon ben Simon Duran (1400-1467). PorĆ©m, ele sĆ³ aceita a responsa de Duran na medida em que declara que o anĆŗs deve ser "aceito com bondade", e como a base do conceito de que a cerimĆ“nia deveria ser a de retorno em vez de conversĆ£o. Ele rejeita a opiniĆ£o bĆ”sica de Duran, e de fato a de todas as demais autoridades sefaradĆ­s medievais, que exigem os rituais de conversĆ£o. Estas duas respostas representam a soma total do pensamento rabĆ­nico moderno que eu pude encontrar ao examinar o retorno dos anussim Ć  comunidade judaica. PorĆ©m, eles nĆ£o representam todas as respostas halĆ”chicas possĆ­veis e legĆ­timas Ć s exigĆŖncias para o retorno dos anussim.

Examinaremos agora outra abordagem, minha sugestĆ£o pessoal, sobre uma resposta halĆ”chica adequada para esta pergunta. Conforme verificado acima, ambas as responsas rabĆ­nicas existentes seguem exigĆŖncias ashkenazĆ­s estipuladas no que diz respeito ao retorno dos anussim. Todavia, a comunidade que retorna nĆ£o Ć© de ashkenazi, mas de sefaradi. Ɖ sabido que as vivĆŖncias histĆ³ricas das duas comunidades nĆ£o foram idĆŖnticas, e nĆ£o deveria ser surpreendente, portanto, que as respostas halĆ”chicas para situaƧƵes discrepantes tambĆ©m nĆ£o sejam idĆŖnticas. Isto ocorre graƧas ao fato de que a halachĆ” Ć©, por natureza, situacional e dinĆ¢mica, em vez de universal e estĆ”tica (estas abordagens discrepantes e as razƵes para as mesmas foram examinadas no trabalho que apresentei ano passado). Por isso eu acredito que Ć© apropriado nos voltarmos inicialmente para a responsa halĆ”chica dos rabinos sefaradĆ­s em vez dos ashkenazĆ­s, uma vez que eles escreviam para, e basearam-se nas realidades da comunidade Ć  qual estamos nos referindo. 

Em essĆŖncia, a pergunta que faremos poderia ser reformulada para: "SerĆ” que os anussim em processo de retorno devem se submeter aos rituais de conversĆ£o antes de receberem permissĆ£o para participar plenamente como parte da comunidade judaica como um todo?" NĆ³s examinaremos entĆ£o, em princĆ­pio, a exigĆŖncia aos anussim vis-a-vis as leis de conversĆ£o. Tradicionalmente, a conversĆ£o ao judaĆ­smo (para judeus conservadores e ortodoxos) Ć© composta de trĆŖs (para um homem) ou dois (para uma mulher) passos essenciais, conforme esboƧados no Shulchan Aruch YorĆŖ DeĆ” 268, escrito por Iossef Caro. 

Um homem convertido deve passar por Brit MilĆ”, TevilĆ” e CabalĆ”t MitsvĆ”, ou seja, ser circuncidado, ser imergido em uma micvĆ”, e aceitar o jugo dos mandamentos na presenƧa de um Bet Din (um tribunal de pelo menos trĆŖs rabinos - tecnicamente exige-se de um Bet Din testemunhar todos os aspectos da conversĆ£o, mas Caro declara que, na prĆ”tica, se o Bet Din estiver presente apenas na AceitaĆ§Ć£o das Mitsvot, a conversĆ£o permanece vĆ”lida). Da mulher exige-se que passe por tevilĆ” (imersĆ£o) e CabalĆ”t MitsvĆ” (aceitaĆ§Ć£o das mitsvot). Todos estes passos sĆ£o necessĆ”rios ou a conversĆ£o Ć© considerada invĆ”lida; a Ćŗnica excepĆ§Ć£o Ć© que se um homem jĆ” for anteriormente circuncidado, entĆ£o se retira uma gota de sangue, em um ritual denominado hatafĆ”t dĆ”m brit. 

TambĆ©m Ć© tradicional repelir por trĆŖs vezes o convertido potencial, e hoje a maioria dos rabinos requer um perĆ­odo extenso de estudo, por um ano ou mais, antes que os rituais de conversĆ£o possam ser executados. Cada passo do ritual, conforme estĆ£o apresentados no Shulchan Aruch, serĆ” examinado em relaĆ§Ć£o ao retorno dos anussim. O primeiro passo da conversĆ£o Ć© a exigĆŖncia de repelir o convertido potencial. O Shulchan Aruch registra que se deve dizer a um convertido: "VocĆŖ nĆ£o sabe que os israelitas sĆ£o um povo oprimido e menosprezado?". Se ele ainda desejar se converter, entĆ£o serĆ” aceito e o processo Ć© iniciado. 

Este passo do processo de conversĆ£o estĆ” ausente das fontes ashkenazĆ­s e sefaradĆ­s. NĆ£o hĆ” qualquer exigĆŖncia para repelir um anĆŗs em processo de retorno, uma vez que ambas as responsas ashkenazĆ­s e sefaradĆ­s medievais reconhecem a conexĆ£o histĆ³rica doa anussim Ć  comunidade judaica. ApĆ³s resistir ao desestĆ­mulo, o prosĆ©lito serĆ” educado na lei judaica como preparaĆ§Ć£o para o cabalĆ”t mitsvĆ”, a aceitaĆ§Ć£o do jugo da lei. A cabalĆ”t mitsvĆ” serĆ” feita na presenƧa de um Bet Din. Ɖ interessante notar que Caro nĆ£o exige que o prosĆ©lito passe por uma educaĆ§Ć£o detalhada da lei; em vez disso, ele ou ela somente serĆ£o educados nos fundamentos da observĆ¢ncia e da convicĆ§Ć£o judaicas. As fontes sobre os anussim apresentam uma interessante variedade de abordagens relativas Ć  exigĆŖncia da educaĆ§Ć£o e da cabalĆ”t mitsvĆ”. As fontes ashkenazĆ­s silenciam sobre a exigĆŖncia para educaĆ§Ć£o, mas universalmente exigem cabalĆ”t mitsvĆ”. Mas as fontes sefaradĆ­s declaram explicitamente que nenhuma educaĆ§Ć£o ou cabalĆ”t mitsvĆ” Ć© necessĆ”ria. Nas palavras de Solomon ben Simon Duran: "Uma vez que estĆ” claro que estes (anussim) nĆ£o devem ser considerados prosĆ©litos, nĆ³s entĆ£o nĆ£o precisamos lhes enumerar todos os mandamentos e suas puniƧƵes (como deve ser feito a um gentio que deseja se tornar um prosĆ©lito). Isto Ć© Ć³bvio, uma vez que se vocĆŖ fosse lhe dizer que (como vocĆŖ faria com um candidato gentio para conversĆ£o), se ele (o anĆŗs) nĆ£o desejar aceitar os mandamentos, nĆ³s o afastarĆ­amos e ele estaria livre delas como se fosse um gentio - Deus proĆ­ba que isto sequer passe pela mente. 

Porque ele jĆ” tem o pleno dever de cumpri-los da mesma maneira que nĆ³s". Duran explica que a educaĆ§Ć£o e a aceitaĆ§Ć£o das mitsvot sĆ£o desnecessĆ”rias porque o anĆŗs jĆ” Ć©, nas suas palavras, parte da casa de Israel. ApĆ³s o ensino das mitsvot, o prĆ³ximo passo no processo listado por Caro Ć© a tevilĆ”, a imersĆ£o na micvĆ”. 

Tradicionalmente o prosĆ©lito imerge uma vez, recita as brachĆ³t (bĆŖnĆ§Ć£os) apropriadas e entĆ£o imerge mais uma ou duas vezes. Todas as fontes ashkenazĆ­s exigem que um anĆŗs em processo de retorno passe por tevilĆ”. Fontes sefaradĆ­s, de RambĆ”m (MaimĆ“nides) em diante sustentam que a imersĆ£o Ć© desnecessĆ”ria. Duran declara: "Uma vez que ele (o anĆŗs em processo de retorno) Ć© um israelita, nĆ£o precisa do banho ritual". 

O estĆ”gio final da conversĆ£o mencionada pelo Shulchan Aruch como parte de conversĆ£o Ć© o brit milĆ”, a circuncisĆ£o. A circuncisĆ£o de um prosĆ©lito serĆ” acompanhada pela brachĆ”: "Baruch atĆ” Adonai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m, asher kideshĆ”nu bemitsvotĆ”v vetsivĆ”nu lamul et guerim (AbenƧoado Ć©s Tu, Adonai, nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste a circuncisĆ£o dos prosĆ©litos)". Caro acrescenta que se o candidato jĆ” Ć© circuncidado entĆ£o deve ser feita a hatafĆ”t dĆ”m brit. Brit MilĆ” Ć© traduzido literalmente como Sinal do Pacto, e Ć© uma mitsvĆ” obrigatĆ³ria para todos os homens judeus. 

Assim, todas as fontes exigem que os anussim em processo de retorno sejam circuncidados ou faƧam hatafĆ”t dĆ”m brit. A maior parte das fontes silencia sobre o teor da brachĆ”, mas Duran declara que as mesmas brachot usadas para os homens recĆ©m-nascidos no brit milĆ” no oitavo dia devem ser usados para os anussim em processo de retorno. SĆ£o estas: "Baruch atĆ” Ad-nai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m, asher kideshĆ”nu bemitsvotĆ”v vetsivĆ”nu al hamilĆ” (AbenƧoado Ć©s Tu, Ad-nai, nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste sobre a milĆ”)", antes da circuncisĆ£o, e "Baruch atĆ” Ad-nai, ElohĆŖnu Melech HaolĆ”m, asher kideshĆ”nu bemitsvotĆ”v vetsivĆ”nu lehachnissĆ“ bevritĆ“ shel Avraham Avinu (AbenƧoado Ć©s Tu, Adonai, nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificaste com Tuas mitsvot e nos ordenaste inseri-lo [o anĆŗs] no Pacto do nosso Patriarca AbrahĆ£o)". Embora a circuncisĆ£o seja exigida tanto para o prosĆ©lito quanto para o anĆŗs, e de fato para qualquer homem judeu nĆ£o circuncidado, o teor da brachĆ” Ć© novamente uma indicaĆ§Ć£o do status pleno do anĆŗs como membro do povo judeu.

Duas Perguntas Finais: Sinceridade e DescendĆŖncia HĆ” duas perguntas finais que devem ser feitas. SerĆ” que devemos nos preocupar com a sinceridade da conversĆ£o inicial ao catolicismo pelo antepassado do anĆŗs na Espanha dos sĆ©culos XIV e XV, e deverĆ­amos aceitar apenas aqueles anussim que podem demonstrar descendĆŖncia matrilinear atĆ©... eu imagino que atĆ© MoshĆ© RabĆŖnu? Antigas autoridades sefaradĆ­s, tais como o Rivash, rabino Itschac ben Shesht, exigiram que fossem feitas cuidadosas avaliaƧƵes dos anussim em processo de retorno (Responsa 11). 

Eles acreditavam que sĆ³ aqueles que foram convertidos violentamente e que nunca abraƧaram o cristianismo com qualquer grau de sinceridade deveriam ser aceitos de volta Ć  comunidade judaica. Shesht declara que hĆ” dois tipos de anussim, "aqueles que escolheram a conversĆ£o, abandonaram o jugo da TorĆ”, cortaram os elos da TorĆ” deles mesmos, e de prĆ³pria vontade seguem os caminhos dos idĆ³latras e estĆ£o transgredindo todas as mitsvot da TorĆ”", e "aqueles que teriam deixado a Espanha, mas foram incapazes de fazer isso... e tiveram o cuidado de nĆ£o se sujarem com a impureza dos pecados, excepto em tempos e lugares de perigo". 

O primeiro grupo, com efeito, nĆ£o era mais parte do povo judeu, e seus membros tornaram-se inelegĆ­veis como testemunhas, enquanto os do segundo grupo permaneceram como judeus e cashercomo testemunhas. A responsa do Rivash tratava apenas daquelas pessoas que fizeram as escolhas iniciais relativas Ć  conversĆ£o (ao cristianismo). 

Isto nĆ£o dizia respeito aos filhos destes. Mais tarde as autoridades rabĆ­nicas sefaradĆ­s se dirigiram aos descendentes destes anussim e nĆ£o fizeram qualquer distinĆ§Ć£o entre os dois grupos do Rivash, uma vez que mesmo os filhos destes anussim que caĆ­ram no primeiro nĆ£o eram responsĆ”veis pelas decisƵes dos seus pais. Sadaya ibn Danan e outras autoridades sefaradĆ­s igualam os filhos como filhos judeus criados por gentios, portanto sem qualquer culpa pela prĆ”tica cristĆ£ dos seus pais. A resposta para a segunda destas duas perguntas Ć© mais complexa. Por mais de dois milĆŖnios os judeus traƧaram a sua identidade religiosa/nacional pela linha matrilinear. 

Todavia, exigir isto dos anussim Ć©, essencialmente, uma placa dizendo "nĆ£o entre" - a nĆ£o ser por uma conversĆ£o plena no sentido pleno da palavra. PorĆ©m, a responsa sefaradĆ­ provĆŖ um meio de criar um atalho. Enquanto Duran, que por outro lado oferece uma das mais liberais responsas sefaradĆ­s, declare que os anussim que podem traƧar uma linha materna devem ser aceitos "atĆ© o fim de todas as geraƧƵes". Ibn Danan Ć© muito mais liberal neste ponto. Danan declara que "nenhum cuidado especial deveria ser tomado para investigar a genealogia dos anussim, sobre a mĆ£e dele ou dela era judia". 

TambĆ©m deve se destacar que quase todas as responsas sefaradĆ­s tornam quase uma obrigaƧƵes receber os anussim de volta. Duran declara: "NĆ³s nĆ£o devemos aterrorizĆ”-lo ou confundi-lo, mas atraĆ­-lo a nĆ³s com bondade, porque ele estĆ” de pĆ© como nĆ³s sob o juramento feito no Sinai". Danan de fato captura os sentimentos modernos dos anussim ao declarar: "Se os marranos", diz ele, "sĆ£o considerados gentios e aqueles que querem retornar sĆ£o considerados prosĆ©litos, o desejo deles de retornar Ć  comunidade judaica serĆ” enfraquecido... os marranos nĆ£o devem ser recebidos como estranhos, mas como irmĆ£os. Eles devem ter o sentimento de que estĆ£o voltando para casa... de fato, dentro da linhagem todo o povo de Israel sĆ£o irmĆ£os. NĆ³s todos somos filhos de um pai. 

O jugo da lei ainda estĆ” nos ombros deles e jamais pode ser removido deles". Iossef Caro, em Bet Iossef, declara que os anussim "nĆ£o devem ser desencorajados de forma alguma de retornarem ao judaĆ­smo". Alguns rabinos modernos tĆŖm exigido ketubot (documento matrimonial judaico) ou outros documentos como instrumentos de prova da identidade judaica dos anussim. NĆ£o se pode estar em sĆ£ consciĆŖncia achar que aqueles que mantĆŖm a sua identidade oralmente e por atos devam ser punidos quando o material escrito estava nas mĆ£os do opressor (por exemplo, o governo real espanhol ou o Santo Tribunal da InquisiĆ§Ć£o). A ironia neste caso foi que o opressor estava de posse dos registros exigidos por alguns rabinos. Mais adiante, conforme destacado por Hordes, a prĆ³pria existĆŖncia destes registros Ć© precĆ”ria, em geral desaparecida ou destruĆ­da com o passar do tempo. Os seguintes factores extra-halĆ”chicos tambĆ©m devem ser levados em conta. A histĆ³ria de perseguiĆ§Ć£o e segredo dos anussim sĆ£o conhecidas hĆ” mais de 600 anos. 

EntĆ£o o seguinte pode ser demonstrado claramente: 

1) Os anussim tem sido um segmento identificĆ”vel, ainda que oculto, da comunidade judaica por mais de meio milĆŖnio. 

2) Os anussim consideram-se parte do povo judeu apesar do perigo e apesar de estarem apartados do mundo judeu. Os anussim tambĆ©m tĆŖm mantido uma notĆ”vel dedicaĆ§Ć£o aos ensinamentos e rituais da tradiĆ§Ć£o judaica o mĆ”ximo que podem, apesar do perigo e do isolamento. E a comummente severa resposta da comunidade judaica Ć© uma pobre retribuiĆ§Ć£o para uma sobrevivĆŖncia assim tĆ£o heroica diante da perseguiĆ§Ć£o, do medo e do teste do tempo. Baseado na discussĆ£o acima, segue a minha opiniĆ£o. Devido Ć  histĆ³ria particular dos anussim que mantiveram a sua identidade, convicƧƵes e prĆ”ticas judaicas secretamente e em geral colocando-os em risco, e a partir das palavras do rabino Solomon Duran, os anussim devem sempre ser considerados parte do povo judeu; nenhuma cerimĆ“nia Ć© necessĆ”ria de conversĆ£o Ć© necessĆ”ria, tampouco Ć© necessĆ”rio investigar a genealogia dos anussim em processo de retorno para demonstrar uma clara linha matrilinear de descendĆŖncia. PorĆ©m, Ć© aconselhĆ”vel prover e encorajar a educaĆ§Ć£o contĆ­nua de adultos assim como fazemos para todos os judeus, de forma que os anussim em processo de retorno podem exercer um papel pleno na vida sinagogal. TambĆ©m pode ser Ćŗtil desenvolver um ritual de retorno dentro da congregaĆ§Ć£o como uma forma de celebraĆ§Ć£o e formalizaĆ§Ć£o do retorno.


Como todos os homens judeus, aqueles anussim que desejam retornar devem ser circuncidados ou passar por hatafĆ”t dĆ”m brit, usando as mesmas bĆŖnĆ§Ć£os utilizadas para o brit milĆ” no oitavo dia apĆ³s o nascimento de um menino judeu.



Ɖ uma obrigaĆ§Ć£o de todos os judeus alcanƧar os nossos irmĆ£os e irmĆ£s da comunidade de anussim a fim de facilitar o retorno Ć  comunidade judaica de todo aquele que desejar retornar.


David Kunin Ć© rabino do Templo Ohr Shalom em San Diego, uma congregaĆ§Ć£o com muitos membros cripto-judeus.


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