Bernie Sanders fez história. Mas isso é bom para os judeus?
Na terça-feira (9) o senador Bernie Sanders, de Vermont, tornou-se o primeiro candidato judeu da história a vencer uma primária da eleição presidencial nos EUA, desencadeando um misto já conhecido de comemoração e ansiedade entre judeus nos EUA e fora do país, com reflexões sobre o significado maior que sua vitória inusitada terá para a comunidade judaica.
"Bernie Sanders acaba de conquistar a coroa judaica em New Hampshire?" indagou uma manchete do "The Forward".
O jornal perguntou por que a vitória de Sanders recebeu menos atenção como símbolo de aceitação e conquista que a escolha de Joe Lieberman como candidato democrata à vice-presidência em 2000.
A razão provável: Sanders foi criado como judeu e chegou a passar tempo em um kibutz israelense nos anos 1960, mas dá pouca ênfase à religião.
"De modo geral, o senador do Vermont parece sentir-se incomodado com os esforços para impor um viés judaico à sua candidatura", observou o "The Forward", em artigo reproduzido da agência de notícias Jewish Telegraphic.
Órgãos de imprensa israelenses e judaicos deram grande destaque à notícia de sua vitória, analisando-a para discernir significados positivos e negativos.
O jornal israelense "Haaretz" destacou que Sanders frequentemente se descreve como filho de um imigrante polonês, não de um imigrante judeu.
"O establishment judaico tem dificuldade em considerá-lo um dos seus", observou o jornal.
Outro comentarista do "Haaretz", Chemi Salev, teme que a vitória de Sanders e sua política liberal incendiária possam alimentar o antissemitismo: "Mais que qualquer outro candidato democrata, Sanders se enquadra na imagem de Saul Alinsky, o bicho-papão judeu favorito do Partido Republicano".
Visto como o pai da organização comunitária, Alinsky foi evocado com frequência pelos conservadores na eleição presidencial de 2008 para criticar o presidente Barack Obama e Hillary Clinton, que escreveu sua tese universitária sobre ele.
E, apesar do simbolismo da vitória inusitada de Sanders na primária, a Jewish Telegraphic minimizou o significado do fato.
A agência de notícias destacou antes da votação que New Hampshire é um dos menores e menos diversificados Estados americanos.
Depois de Bernie Sanders vencer a eleição, ela notou que "estimados 10 mil judeus vivem em New Hampshire".
Em seu discurso de vitória na noite de terça, o próprio Bernie Sanders não ressaltou a natureza histórica de sua conquista.
Mas o "Haaretz" considerou a noite memorável. "A noite de terça-feira ficará na história como a primeira vez que um judeu venceu uma primária presidencial", escreveu o jornal.
Fonte: Folha On Line