Desejo sueco de interferir em assuntos internos israelenses é ultrajante.
Mais de 70 anos após o fim da II Guerra Mundial, os judeus franceses
atravessam um momento delicado. O medo de um ataque está presente no dia-a-dia
de uma comunidade também no alvo dos extremistas islâmicos, seja Mohamed Merah
a alvejar crianças numa escola hebraica ou Amedy Coulibaly a matar clientes de
um supermercado judeu. Por causa destes casos, muitos são os judeus franceses a
aceitar a oferta de proteção de Benjamin Netanyahu em Israel.
A jornalista inglesa Lesley Alexander recebeu a visita nos estúdios da
euronews da primeira mulher a liderar a Embaixada de Israel em França. Aliza Bin-Noun falou conosco sobre os ataques diretos de radicais islâmicos à
comunidade judaica em França, as medidas de segurança proporcionadas neste país
para a maior comunidade hebraica na Europa, mas também sobre o processo de paz
no Médio Oriente, o conflito Israel palestino e a alegada pressão internacional
sobre a forma como estará a ser gerida a revolta de alguns palestinos.
Leslie Alexander, euronews: Assumiu a embaixada em Paris há 5 ou 6
meses.
Como é ser o principal representante de Israel num país onde há soldados
à porta das sinagogas e pessoas a serem atacadas, e até mortas, só por serem
judias?

Em Paris, 130 pessoas foram assassinadas. O seu marido quase foi
apanhado pelo ataque junto ao Estádio de França, não foi?
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Servindo na IDF |
Esconder a fé judaica, sim ou não?
Existe um debate no seio da comunidade judaica depois do ataque a um
professor judeu com uma catana. Tantos anos depois do Holocausto, os judeus
franceses perguntam-se se devem esconder a religião em público e abdicar do
tradicional chapéu, o ‘kipa’, em nome da segurança pessoal. O que pensa disto?
É uma questão muito pessoal. Deve partir de cada um a decisão de usar ou não o
“kipá”. Seja como for, para mim, é triste que as pessoas, e os judeus neste
caso em particular, tenham sequer de pensar nisto, que tenham de ponderar em
correr ou não esse risco. O Governo francês está a fazer o máximo para
proporcionar segurança à comunidade judaica. Foram mobilizados polícias e
soldados para escolas, infantis e sinagogas. Agradecemos muito o esforço que o
Governo francês está a fazer a este respeito.
Neste contexto, a oferta do primeiro-ministro de Israel Benjamin
Netanyahu, de receber de braços abertos os judeus franceses em Israel teve
agora mais receptividade. Milhares já se mudaram para Israel.
Recomendaria que
mais o fizessem?
De novo, penso que a decisão de cumprir a ‘Aliyah’, a migração
para Israel, deve ser pessoal. Deve partir de cada judeu a decisão de onde quer
viver.
Israel, claro, dá as boas vindas a todos os que desejem ir porque este é
o único país judaico do Mundo. Para mim, porém, o fato de que os judeus queiram
mudar-se para Israel porque não se sentem seguros ou porque têm medo não é o
caminho. Esta não deveria ser a razão.
Antes da França, a senhora foi embaixadora de
Israel na Hungria, onde o antissemitismo tem sido um problema desde a guerra.
Foi um posto difícil, não foi?

Enquanto os atos antissemitas em França foram cerca de 800, o
número de atos islamofóbicos triplicaram para cerca de 400. Considera que as
duas partes estão a fazer o suficiente pelo mútuo respeito e contra todo este
ódio?
Penso que as duas partes estão a fazer muito. O diálogo inter-religioso
existe, aqui e em toda a parte. Acredito que talvez se possa fazer mais. É
importante que as sociedades se possam conhecer, conviver e cooperar contra estas
ameaças, contra o ódio, contra o antissemitismo e a islamofobia, contra as
pessoas que de fato lutam contra as democracias e os direitos humanos.
Israel,
de momento, não está contente com a decisão da União Europeia em etiquetar os
produtos oriundos dos colonos israelitas. Se a maior parte do mundo considera
os colonos ilegais, porque não deveriam os consumidores europeus poder escolher
a origem do que compram?
Porque entendo não ser justo discriminar Israel neste
particular. Existem mais de 200 disputas territoriais no mundo e a União
Europeia decidiu focar-se em Israel, na Judeia e na Samaria. O conflito que
temos com os palestinos é conhecido e a única forma de o tentarmos resolver é
sentarmo-nos à mesa de negociações e conversar. O fato de os palestinos se
recusarem — e o nosso primeiro-ministro já os chamou várias vezes nos últimos
meses — mostra que não há vontade de conversar. E o fato também é que Mahmoud
Abbas (n.r.: líder da Autoridade Palestina) tomou uma decisão estratégica, há 2
ou 3 anos, quando decidiu apelar à comunidade internacional para pressionar
Israel, esperando que, ao encurralar Israel, conseguisse concessões.
Infelizmente, os israelenses não se deixam pressionar e já o mostramos no
passado. Quando nos sentimos prontos a fazer concessões territoriais com o
Egito e com a Jordânia foi porque o povo israelense percebeu que o outro lado
vinha de boa-fé.
Quando se percebe que o outro lado não vem de boa-fé, não há
grandes hipóteses de concessões. Obviamente, essa é uma forma muito israelense de ver a questão…
Claro, eu represento o Governo israelense. Os palestinos terão
outra forma de ver a questão muito diferente e alegam que é devido à
inflexibilidade de Israel que as negociações de paz não avançam. Por fim, sei
que a relação com a Suécia tem sido particularmente difícil desde que aquele
país reconheceu a Palestina como um Estado. Agora, a ministra dos negócios
estrangeiros sueca pede uma investigação independente à morte de mais de 150 palestinos
durante a vaga de ataques à faca contra israelitas. O que está errado nesta
pretensão? Porque não podemos apurar se as forças de segurança de Israel não
poderiam ter sido mais comedidas? Parece-me ultrajante. A expectativa ou o
desejo de interferirem em assuntos internos, em algo que não se está a passar
em mais lado nenhum da Europa, é ultrajante.
Independentemente do que se passa em Israel, não terá o resto do mundo o
direito de…? Todos têm direto a tudo, mas há um limite para a implicação com
Israel, um país democrático que está a lutar pelos seus valores democráticos. É
o único país democrático do Médio Oriente. O contexto pelo qual temos de
analisar o que se passa é muito, muito preocupante. A situação no Médio Oriente
está a deteriorar-se. Israel está rodeado de inimigos, por isso, chegar alguém
e começar a pedir ou a exigir a Israel que abra uma investigação internacional
porque não tem confiança ou porque não acredita o suficiente no nosso sistema
democrático, para mim, isto é um insulto.
Reprodução da Euronews