Top model palestino faz carreira em Israel

Top model palestino faz carreira em Israel

0
Natural de JerusalĆ©m, Qaher Harhash consegue fazer sucesso como modelo, estudar e servir de inspiraĆ§Ć£o para muitos jovens em meio Ć s tensƵes entre israelenses e palestinos. Aos 17 anos, ele quer ajudar a mudar vidas.
Qaher Harhash, primeiro top model palestino, ainda se mostra nervoso ao falar de seu sucesso recente - como se esperaria de um rapaz de 17 anos, ainda cursando o ensino mƩdio. Nascido em JerusalƩm Oriental numa famƭlia muƧulmana, a suas aspiraƧƵes de modelo foram frequentemente podadas pela dura realidade social Ơ sua volta.
Soldados armados eram presenƧa comum em seu bairro. Quando ainda estava na escola primƔria, jantando com a famƭlia, Harbash notou pontos vermelhos de laser nas cabeƧas de seus parentes. Na mesma noite, o ExƩrcito israelense invadiu a casa e prendeu seu tio.
No esforƧo para fazer carreira no mundo da moda, ele teve que superar vĆ”rias barreiras - Ć s vezes literalmente, viajando entre JerusalĆ©m e Tel Aviv, e passando por postos de controle e guardas de seguranƧa. Mas contra todos os infortĆŗnios, Harhash estĆ” determinado a realizar seu sonho. "Eu nĆ£o vou parar e vou trabalhar para alcanƧƔ-lo a qualquer custo", assegurou Ć  DW.
Enviar em vĆ£o fotos para agĆŖncias de modelos gerou grandes decepƧƵes, mas o jovem nĆ£o desistiu. Depois de mĆŗltiplas tentativas, foi contratado pela Roberto Models, do renomado agente de modelos israelense Robert Ben-Shoshan.
Rosto e origem
A princĆ­pio, Harhash foi rejeitado principalmente sob a desculpa de que o pĆŗblico israelense ainda nĆ£o estava preparado para um modelo palestino. Muitas vezes os clientes ficavam tentados a usar sua aparĆŖncia inocente e visual andrĆ³gino, mas recuavam na Ćŗltima hora, temendo que nĆ£o fosse totalmente aceito pelos israelenses, depois que soubessem de sua origem.
"Fui rejeitado tantas vezes", explica o modelo. "Eu era esquecido logo que alguma coisa acontecesse [politicamente]. Isso me fez sentir como nĆ³s, palestinos, somos ignorados e generalizados."
As rejeiƧƵes iniciais foram, obviamente, uma decepĆ§Ć£o para o jovem talento. "HĆ” sempre esse debate interno: se eu nĆ£o consegui o contrato por ser palestino, ou simplesmente por nĆ£o ter o rosto certo. Muitos clientes me diziam que gostariam de trabalhar comigo, mas que nĆ£o podiam, por eu ser palestino. Isso se tornou mais frequente apĆ³s os confrontos recentes, mas nĆ£o vejo como algo racista, pois sei que Ć© assim que funciona esta indĆŗstria."
Sem ter perdido as esperanƧas, Harhash revelou que nĆ£o culpa os israelenses por sua desconfianƧa. "Acontece a mesma coisa com eles, os israelenses sĆ£o o tempo todo generalizados. A Ćŗnica forma de romper esse cĆ­rculo vicioso Ć© ter gente boa falando de paz."
InspiraĆ§Ć£o de verdade
Harhash Ć© o caƧula de cinco filhos. Seus pais se divorciaram quando ele tinha apenas sete anos. Foi mais ou menos nessa idade que ele comeƧou a pensar numa carreira no mundo da moda. "Minhas irmĆ£s eram adolescentes que assistiam Ć  Fashion TV o tempo todo.". Inspirado pelos desfiles, ele percebeu que tambĆ©m poderia ter uma chance como modelo.
"Num dos desfiles, Tyson Beckford [modelo de ascendĆŖncia jamaicana e chinesa e que depois trabalhou como ator] apareceu e achei que ele era sem igual. Ele foi uma verdadeira inspiraĆ§Ć£o para mim." Harhash conta que sempre se interessou por moda. "Gosto de fazer desenhos e de recortar papel, por isso meus pais sempre pensaram que eu queria ser estilista."
Mas somente aos 14 anos ele contou Ơ famƭlia que as passarelas eram seu real interesse. "Quando comecei a crescer, fiquei mais alto e meu rosto foi mudando. Pensei comigo: 'Talvez eu tenha uma chance, talvez eu tambƩm possa ter sucesso.'"
A famĆ­lia acabou aceitando seu desejo. "Eles achavam que, se era isso o que eu queria fazer, entĆ£o devia seguir em frente. Mas eles tambĆ©m disseram que eu deveria sempre me lembrar de onde venho, nunca perder o meu verdadeiro 'eu'."
Escola e trabalho
O israelense Ben-Shoshan, que descobriu Harhash e o contratou imediatamente para a sua agĆŖncia, sabe que alguns ainda sĆ£o conservadores ou racistas demais para aceitar um modelo palestino. Mas tambĆ©m estĆ” convencido que hĆ” muita gente curiosa e de mente aberta. "Pessoalmente, eu nĆ£o olho a origem de ninguĆ©m. Vejo um modelo como uma pessoa, observo suas habilidades, seu talento e seu visual", contou Ć  DW.
"Qaher tem uma aparĆŖncia muito especial. Ele Ć© bem alto, com o rosto muito distinto e, desde o primeiro segundo em que abriu a boca, pude notar seu charme. NĆ³s nos entendemos logo. Ele Ć© muito inteligente e sabe exatamente o que quer, Ć© muito motivado e ambicioso. Acho que tem uma boa chance de fazer uma grande carreira, tanto em nĆ­vel nacional quanto internacional."
Estudando na Escola Internacional Americana de JerusalĆ©m, seu inglĆŖs Ć© quase impecĆ”vel. De algum modo, ele tem conseguido conciliar bem trabalho e escola. "Sempre fui uma pessoa multitarefas", comenta, "especialmente desde o divĆ³rcio dos meus pais, quando tive de manobrar entre essa situaĆ§Ć£o e a minha infĆ¢ncia.
"Eu ainda faƧo dever de casa, algumas vezes tenho que sair da escola no meio do dia, se tenho uma reuniĆ£o na agĆŖncia. ƀs vezes chego atĆ© a fazer a tarefa escolar enquanto espero na agĆŖncia, mas no geral sou capaz de fazer as duas coisas."
Um diamante dentro
Harhash espera que um dia venha a aparecer na capa de revistas de renome, ou desfilar nas passarelas para as grandes marcas. "Basicamente vivenciar o mundo da moda, viajar, encontrar novas pessoas, compreender narrativas diferentes. Queria ser um rosto reconhecido como modelo." No entanto, Harhash tambƩm tem uma mensagem mais profunda: "Quero ser o sonho de todo adolescente, e alguƩm respeitado e admirado."
"Sei que represento paixĆ£o, amor e convivĆŖncia, mas tambĆ©m adoraria ser essa figura que diz Ć s pessoas para fazerem aquilo de que gostam, e pararem de escutar essa pessoinha falando nas cabeƧas delas que elas nĆ£o sĆ£o boas o suficiente. Se vocĆŖ transformar palavras em aƧƵes, nada Ć© capaz detĆŖ-lo."
"NĆ£o importa o que lhe dizem e nĆ£o importa quantas pessoas tentaram botar vocĆŖ para baixo devido Ć  sua nacionalidade, cor, raƧa, por causa do que vocĆŖ Ć©: nĆ£o pare. NĆ£o dĆŖ ouvidos a essa gente, porque basta uma pessoa ver o diamante que hĆ” dentro de vocĆŖ", encoraja Qaher Harhash.

Postar um comentƔrio

0ComentƔrios
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.

Os comentĆ”rios sĆ£o de responsabilidade exclusiva de seus autores e nĆ£o do Blog. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.NĆ£o publicamos comentĆ”rios anĆ“nimos. Coloque teu URL que divulgamos

Os comentĆ”rios sĆ£o de responsabilidade exclusiva de seus autores e nĆ£o do Blog. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.NĆ£o publicamos comentĆ”rios anĆ“nimos. Coloque teu URL que divulgamos

Postar um comentƔrio (0)

#buttons=(Accept !) #days=(20)

Our website uses cookies to enhance your experience. Learn More
Accept !