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Ser anti-Israel

Ser anti-Israel agora é “cool”!


Bruno Lima é brasileiro e vive em Israel desde 2008.
É mestre em Ciência Política pela Universidade
Hebraica de Jerusalém. O texto foi publicado
originalmente no site “Conexão Israel”

A grande vitória da campanha anti-Israel ao redor do mundo não é um suposto ganho de consciência sobre a causa palestina. Na realidade, a vitória reflete a criação de uma narrativa dicotômica, que oferece aos observadores do conflito árabe-israelense apenas duas alternativas: ser anti ou pró-Israel. Essa retórica binária possui dois impactos. Primeiro, ela suprime posições equilibradas que visam uma avaliação mais objetiva e menos ideológica do conflito. Segundo, ela coloca Israel (não o conflito em si) como ponto de referência, expondo suas políticas e protegendo a causa palestina de possíveis críticas. Do ponto de vista estratégico, não poderia haver pior situação para Israel – o país está constantemente na defensiva, buscando incessantemente justificar-se e sem qualquer poder de trazer os erros cometidos pelo lado palestino para o centro do debate.

A derrota israelense na luta pelo controle da narrativa sobre o conflito é fruto da fragilidade de sua diplomacia pública e da sagacidade do movimento anti-Israel em construir um discurso que favorecesse seus interesses. Obviamente, há outros fatores envolvidos nesse processo, como a contínua construção em assentamentos. No entanto, a política de construção nos territórios ocupados existe há muito tempo e apenas nos últimos anos observa-se uma retórica anti-Israel tornando-se norma no mundo ocidental. A questão é: por que justo agora? Por que a crítica ao governo israelense tornou-se a nova narrativa do conflito árabe-israelense? Especificamente a essa pergunta minha resposta é o desgaste da estratégia diplomática de Israel junto ao uso inteligente das fragilidades da mesma por parte de movimentos anti-Israel.

Há tempos que a diplomacia israelense baseia-se na ideia de “hasbará”, explicação em hebraico. Pensemos por um instante na lógica por trás da ideia de “explicar-se”. Em geral, a necessidade por explicações se faz presente quando um erro é cometido ou quando certas atitudes tornam-se ininteligíveis aos olhos daqueles que observam. Nos dois casos a mensagem é negativa e indica um sério problema de comunicação. Nem sempre foi assim, deve-se dizer. A estratégia de “explicação” por muitos anos preservou Israel como a vítima do conflito e permitiu ao país determinar a narrativa histórica a ser adotada. No entanto, por tanto explicar-se, Israel terminou por dar margem a perguntas que afetariam completamente o psicológico ocidental. A principal delas é “por que israelenses estão sempre se justificando perante o mundo?”

O movimento anti-Israel entendeu o poder desse questionamento, inerente à estratégia diplomática israelense, e construiu sua narrativa baseada em uma resposta a ele – “Israel está sempre se justificando porque constantemente comete crimes que exigem retratação”. Nada mais claro e objetivo. Explorando os pontos fracos da “explicação” israelense, esse movimento (que por muitas vezes apresenta-se pelo nome de BDS) transformou a então vítima do conflito no vilão de um novo discurso. O impacto dessa inversão retórica vai além. Atualmente, Israel não mais explica-se porque assim deseja, mas porque o mundo passou a exigir essas “explicações”. O que antes era uma iniciativa – Israel explicava-se para determinar a narrativa sobre o conflito – tornou-se uma reação por necessidade – “Israel explica-se porque assim é exigido”. Essa é, certamente, uma dinâmica problemática do ponto de vista israelense. Nela Israel perdeu seu papel de agente da história.

O quadro torna-se ainda mais grave se considerarmos que nessa nova dinâmica os objetos de análise mudaram. Terrorismo, Autoridade Palestina, Mahmmoud Abbas e Hamas tornaram-se aspectos periféricos, meros assuntos tangenciais no debate sobre a política israelense. Na avaliação que o mundo faz sobre o “conflito” a discussão é centrada no bloqueio a Gaza, na ocupação de territórios, na questão de Jerusalém, nas operações militares e em um suposto apartheid perpetuado pelo governo israelense. Não há como negar; o ponto de referência nas perguntas que o mundo ocidental faz sobre o conflito árabe-israelense pendulou para “o lado sionista”. Hoje, a demanda é por análises das atitudes de Israel, pressupondo que o governo israelense age num vácuo geopolítico. No entanto, o mais perigoso dos aspectos envolvidos nessa nova retórica é a ausência de soluções. Por basear-se em um par binário – pró ou anti-Israel – a narrativa que se consolidou tornou a situação em um jogo de soma zero. Ou ganham os prós ou os antis, sem possibilidade de empate. O problema é que nesse jogo Israel está fadado à derrota. 

Atualmente, ser favorável às políticas israelenses apenas fomenta o extremismo do outro lado, mas o contrário não é verdadeiro. O movimento anti-Israel não já não atrai mais pessoas para o campo israelense, pois os termos do debate já não o favorecem. Infelizmente para aqueles de opiniões equilibradas, ser anti-Israel agora é “cool”.

Como explicado anteriormente, a retórica atual é centrada na ideia de que Israel é quem deve explicar-se por supostos erros que comete, favorecendo a crítica ao país. Nessa retórica não há espaço para convencimento, apenas para defesa. No canto do ringue, Israel se defende dos ataques que sofre, e o oponente parece dar apenas uma opção: render-se, o que em termos práticos significa esperar pela completa deslegitimação do Estado de Israel na esfera internacional. Qual é a lição que se deve tirar dessa análise? Primeiro, que é difícil esquivar-se do discurso maniqueísta. Ele é tentador pois constitui um modelo de simples entendimento da realidade, na medida que a reduz e a deturpa. Segundo, a retórica “preto-e-branco” suprime o espaço para questionamento e equlíbrio. 

Por fim, deve-se entender que ser anti ou pró-Israel não ajuda na solução do conflito, apenas afasta qualquer possibilidade de diálogo e coexistência. Para aqueles que visam a paz, o primeiro passo é romper com os discursos extremos. Somente assim, uma nova retórica, mais genuína e objetiva, poderá emergir. Nela, ser “cool” não constitui ser pró ou anti, mas simplesmente evitar posições absolutas que mais alienam do que ajudam.

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