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Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia, fala na avertura do evento.Foto: Divulgação. |
“O boicote a Israel prejudica nossa causa”, diz representante palestino em encontro com israelenses em SP
A conferência "Encontros e Diálogos entre Palestinos e Israelenses – Dilemas e Perspectivas nos Caminhos Para a Paz", trouxe ao país de 27 a 30 de agosto acadêmicos, autoridades e estudantes israelenses e palestinos. unidos pelo compromisso de pensar soluções para o conflito. O evento foi promovido pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, com o apoio da FGV, do clube A Hebraica de São Paulo, do Fórum 18 e do Midrash Cultural, no Rio de Janeiro. Veja aqui a programação e relação de participantes.
Oito jovens universitários israelenses e palestinos vieram ao encontro. Eles fazem parte do projeto Youth Peace Initiative, criado no ano de 2014 em Haia, na Holanda.
Abaixo, alguns dos pontos de destaque dos debates.
Mohamed Amer Odeh Abdel Hadi, presidente do Comitê Ibero-Americano da Al Fatah, disse em alto e bom espanhol que o boicote a Israel prejudica a causa palestina. Segundo ele, os palestinos concordam apenas com o boicote aos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
“Lutei por 30 anos como guerrilheiro e compreendi que o uso da força não leva a nada”, disse ele, que também considera que a religião não pode solucionar um conflito que é político. Para ele, o Brasil pode ajudar no processo de paz.
O estudante palestino Bashar Farash é a favor da solução de dois Estados. Ele afirmou que os palestinos têm muitos problemas para viajar ao exterior, mas que o sacrifício vale a pena, para evitar que israelenses e palestinos “se encontrem apenas nos pontos de controle da Cisjordânia”. No entanto, ele encontra “apenas israelenses, não os colonos, que são ilegais”.
Para Nitzan Horowitz, jornalista, ex-deputado pelo partido social-democrata Meretz e membro da Associação por Direitos Civis em Israel, é um grande erro de Israel manter indefinidamente a situação atual, em que não há nem mesmo negociações. ‘Temos um problema de lideranças, de falta de ousadia. Israel não é um Estado apenas de judeus, temos que pensar nos outros cidadãos, que seriam muito beneficiados pela paz”.
O xeque Barakat Fawzi Hasan, diretor-geral do Centro Jerusalém de Estudos e Mídia Islâmica, considera que a religião não conseguirá resolver o conflito, mas poderá estreitar os laços entre os dois povos, assim que vier a solução pela via política. Após ouvi-lo, o rabino David Shlomo Stav, líder do Grupo Tzohar, disse: “Concordo com 95% do que o xeque falou. Temos muitos valores comuns, mas a situação política sobrepuja estes valores e compromete a confiança mútua”.
Para Horowitz, a constante referência ao passado dificulta a busca de uma solução para o conflito. Temos que olhar para o futuro”. Já Dan Meridor, ex-ministro israelense da Justiça e das Finanças, afirmou que “só haverá paz se for levada em conta a perspectiva histórica”. Leia mais.
Tratando do tema sob uma perspectiva econômica, Aziz Haidar, professor da Universidade Al-Quds, notou que há investimentos de países árabes e também de palestinos em Israel, mas isso não impacta a busca de uma solução para o conflito. “A cooperação entre indivíduos é grande, mas não afeta as negociações”.
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Participantes do encontro na FGV, em São Paulo. Foto: Paulo Abrão. |
“Mesmo assim, a condição econômica dos árabes-israelenses melhorou nos últimos 20 anos. Hoje, 25% deles são de classe média. A Lista Árabe [terceira colocada nas últimas eleições de Israel] é de classe média”, acrescentou. Outro motivo de comemoração: após tentar por 10 anos, ele conseguiu a aprovação de um curso acadêmico em instituição israelense, com o tema “A Sociedade Árabe”.
Para Horowitz, Israel pode ajudar o desenvolvimento da economia palestina, “se melhorar a legislação econômica e diminuir a burocracia, mas os projetos na Knesset [Parlamento] não avançam”. Haidar ponderou: “Os palestinos devem conversar com todos os israelenses, não apenas com a esquerda”.
O historiador e antropólogo Michel Gherman, um dos organizadores do evento, ressaltou a importância de se iniciar o diálogo.
Guilherme Casarões, professor da FGV e mediador em alguns dos debates, chegou à seguinte conclusão: “Ficou muito claro que, por trás das narrativas, há várias coisas em comum: o desejo de que as próximas gerações não sejam obrigadas a conviver com essa ferida aberta e a aceitar o conflito e a ocupação como algo normal ou cotidiano”.
“Também estou convencido do papel que o Brasil, por meio do governo, das comunidades judaica e árabe-palestina, dos acadêmicos e da sociedade civil em geral, pode desempenhar em busca de acordos justos e duradouros para este conflito. Afinal de contas, conversas sérias e frutíferas entre israelenses e palestinos não ocorrem em qualquer lugar - ou num lugar qualquer”, completou.
Rina Lipsky, estudante israelense, lançou a pergunta: “De onde virá a mudança?” E respondeu: "Não sabemos, mas estamos lutando por ela”.