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Judeu, abaixe suas calças!

Judeu, abaixe suas calças!JUDEU, ABAIXE SUAS CALÇAS! 

Roberto Ponczek

 Em 1942, depois do seu casamento em Cracóvia, meus pais Wanda e Tadeusz Ponczek decidiram passar a Lua de Mel, numa estação de esqui em Lanckorona, uma pequena aldeia, escondida nas montanhas, entre Varsóvia e Cracóvia. 

Quando a maioria dos judeus vivia cercada nos Guetos poloneses, meus pais, graças aos falsos documentos cristãos - que conseguiram junto ao movimento clandesࢢno de resistência do Gueto de Varsóvia - ainda podiam viajar pela Polónia. Pelo menos, era o que pensavam ate o momento em voltavam ao pequeno albergue onde estavam hospedados. Quando entraram no alojamento, receberam ordem de prisão da Polícia polonesa. 

Alto lá! - Gritou o chefe do destacamento policial - 
Parszywy Żydzi! (Judeus sarnentos!) Vocês estão presos! 

 - Nós não somos judeus, eu posso mostrar-lhe os nossos documentos - disse minha mãe. 

 - É claro que você não é realmente polonesa. Você tem cabelos pretos, pele morena e olhos castanhos! Como você pode ser uma verdadeira mulher polonesa ?! Claro, que você é uma judia! - Gritou o policial enfurecido com a minha mãe. 

 - Quanto ao seu marido vai ser muito fácil de identificar! Imediatamente para a prisão! 

 Quando chegaram na delegacia ele gritou para meu pai: 

 - Abaixe suas calças e mostre o pênis! 

 - Aha! Está vendo que eu estava certo! Ele é circuncidado, um judeu, é claro! Vá para o inferno! 

 Meu pai tentou tergiversar que quando criança fizera uma operação de fimose, mas o policial polonês enlouquecido de raiva urrava: 

 - Cale-se! - Parszywy Żyd!! (Judeu sarnento!)-Vocês serão presos aqui até que a Gestapo decida o que fazer com vocês. 

 Ele atirou os meus pais em uma cela imunda, onde passaram a noite já sem nenhuma esperança de salvação. Eles sabiam que era o fim da linha para eles. Nesses casos de “judaísmo flagrante” assim que a Gestapo chegava, aࢢrava a sangue frio ou enviava os “culpados” para Auschwitz. Até então meu pai que nunca tinha rezado antes começou a repetir incessantemente e com toda a força do seu coração, algo há muito tempo esquecido: "Shema Israel Adonai Eloheinu, Adonai Ehad” 

 Na manhã seguinte, eles foram acordados com uma balbúrdia de gritos e risadas. Era um destacamento da Gestapo, que ࢢnha acabado de chegar a mando da polícia polaca. Eles estavam mais bêbados que gambás... Uivavam e riam como idiotas. Meus pais se entreolharam e pensaram: "agora será o nosso fim". 

No entanto um dos oficiais da Gestapo não conseguia desgrudar os olhos da minha mãe. E, em seguida, perguntou-lhe: 

 - É verdade que você é judia? 

 Ela, então, prontamente respondeu em alemão fluente: 

 Ich bin nicht natürlich jüdisch. Ich bin polnischen Katholischen! ("É claro que eu não sou judia! Eu sou católica polonesa"). 

 - - E como você fala alemão tão bem? - perguntou o oficial. 

 - -Porque Eu estudava Medicina em Viena. - Em Viena? Eu sou de Viena! - Disse-lhe o oficial encantado. 

 Naquele momento, uma centelha de esperança brilhou na mente de minha mãe que começou a cantar Valsas vienenses, terminando seu recital privado com a famosa canção alemã "Lili Marlen". Ela cantou elegantemente como Marlene Dietrich, recitando cada palavra pausadamente, com sua voz grave de contralto:  

Vor der Kaserne
 Vor dem großen Tor 
 Fique eine Laterne 
 Und davor noch sie steht 
 Então woll'n wir uns da wieder seh'n 
 Bei der Laterne wollen wir steh'n: 
 Wie Einst Lili Marleen. 
 Wie Einst Lili Marleen. 

 Neste ponto, o oficial da Gestapo quase hipnotizado, chamou o policial polonês:  
- Kommen hier polish Schweine "("Venha cá seu porco polonês!) Por que você diz que eles são judeus!? É claro que eles não são judeus! - Deixe-os livres! 

Caso contrário, vou te prender! 

 Uma vez que meus pais foram liberados, não voltaram mais para o hotel para pegar seus pertences. Eles foram diretamente para a estação e pegaram o primeiro trem de volta para Cracóvia. "Vamos correndo! É melhor cairmos fora antes que a bebedeira do cara da Gestapo tenha terminado!" 

 Esta foi a lua de mel romântica que meus pais desfrutaram em Lanckorona! A grande ironia desta história real é que eles foram condenados à morte por um subalterno policial polonês e, paradoxalmente, foram salvos por um oficial da Gestapo bêbado!

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2 Comentários
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  1. Muito interessante a história de sobrevivência do casal ré-cem casado. Coisas deste tipo acontecem, não é coincidência, como costumo dizer, é Providência!

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  2. Histórias como essas nos fazem pensar e refletir quem somos e o que nossos antepassados passaram para que nós estivessemos aqui. Parabéns Professor.

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