
A fundação da Wizo é, em prosa, um grande marco na vida judaica mundial. Porém, em verso, ela representa uma nova e grandiosa etapa na vida e no status da mulher judia de todas as nações e de todos os tempos. Angustiadas e atentas à problemática judaica, com os valores sionistas apregoados por Herzl desde o final do século IX em suas mentes, e testemunhas oculares do total estado de penúria e más condições com que viviam os judeus oriundos da Europa na então Palestina, o pequeno grupo de amigas, liderado por Rebeca Sieff Z’L, resolveu que era chegada a hora.
A hora não só de se zelar e preservar com maior fervor e responsabilidade por seus semelhantes, mas a vez e a hora de se dar à mulher o seu devido lugar na sociedade judaica daqueles tempos e de se delegar a esta mulher que tão bem se desempenhava da tarefa em seu lar a de repeti-la e com sucesso pelo mundo afora.

Rebecca e seu grupo de amigas inglesas eram em sua maioria mulheres cultas e que, apesar de uma infância e juventude remediadas, passaram aos poucos a observar o acesso a um patamar mais abastado de suas famílias graças ao empenho e grande dedicação ao trabalho por parte de seus pais. Poderiam àquela altura de suas vidas, embora ainda jovens, usufruir de uma vida tranquila sob o aspecto financeiro e até limitar seus papéis ao que era o tradicional à mulher daquela época.
Porém, desmistificando preconceitos, conseguiram, com força, inteligência e idealismo, apoio de seus maridos e de outros, homens e mulheres, que a elas vieram a juntar-se para transformar aquele pequeno sonho de proporcionar melhores condições de vida aos judeus imigrantes em uma geração de judeus fortes o bastante para fincar suas vidas em uma terra que um dia viria a ser a terra de todos os homens, mulheres e crianças do povo de Israel. E, bem sucedidas na tarefa, através de um árduo caminho a que se propuseram trilhar, fomentaram as bases que fortaleceram o novo Estado Judeu dando igualmente um lugar ao sol a mulheres judias de diversas nações.
A fundação da Wizo é por tudo isto, um acontecimento histórico, um marco na valorização da mulher que, outrora sufocada em seus anseios em sua sensibilidade, não consentiu mais com que a mantivessem calada, muda e impassível diante das necessidades primordiais de seus semelhantes. Seu judaísmo falou mais alto e o ideal sionista proporcionou-lhe sair de suas redomas e lançar-se mundo a fora, estimulando outras a compactuar de sua causa e de repente a milhares, a unirem-se em uma só voz, clamando vida, liberdade, bem estar e voz para o povo judeu.
Idealista e já casada com Israel Sieff, Rebecca Doro Marks viu a ela se unir em propostas as Dra. Vera Veitzman e a Sra. Edith Eder e um pouco mais adiante Romana Goodman e Henrietta Irwell.
Juntas, em 11 de julho de 1920, fundaram na Inglaterra a Wizo que hoje festejamos. Diante de tantos desafios a serem vencidos, não foi necessário muito tempo para terem certeza absoluta que seus sonhos não poderiam ser só seus e que, apenas com o apoio dos judeus, e principalmente das mulheres judias da diáspora, poderiam torná-los realidade. E foram à luta. Procuraram no mundo inteiro quem lhes estendesse as mãos e ao povo judeu em seu desejo milenar de uma pátria. Mas, e principalmente, uma pátria formada por mulheres capacitadas, crianças bem educadas, alimentadas de amor e carinho, e dos frutos e flores por elas próprias e de suas famílias, plantadas e cultivadas através dos ensinamentos obtidos nas instituições Wizo que, pouco a pouco, foram sendo fundadas com esta missão.
Era o sonho de Herzl sendo concretizado passo a passo, graças às mãos da mulher: era a Palestina tornando-se viável, possível de ser habitada, eram os seus habitantes tornando aquela terra inóspita e pantanosa um terreno próspero e verde. Era a cultura, a informação através da educação, a possibilidade gerada para que a mulher colaborasse, com uma profissão definida e um local quente e afetuoso onde poderiam seus filhos se abrigar e estudar enquanto ela estivesse fora. Era aquele curso profissionalizante tão importante em uma nova nação, que ainda era projeto, mas que, com todo aquele empenho e com toda aquela força, um dia, quem sabe, haveria de existir! E realmente, ele foi criado.
E tão logo isso aconteceu, Israel passou a ser a casa Wizo, e a Wizo, a casa e a mãe de Israel. A estrada foi aberta por uma mulher de um tempo e que, felizmente, sempre esteve à frente de seu tempo. Sabemos, entretanto, que ainda há um longo caminho a percorrer. Com Rebecca Sieff deverão sempre estar nossos anseios e, por ela, a promessa de nos desempenharmos com fervor da nobre missão que nos legou. Parabéns Wizo, por seus 95 anos; parabéns a nossas líderes, Tova Ben Dov e Rivka Lazovsky, hoje à frente desta grande travessia a percorrer; Kol a Kavod a cada voluntária em mais de 50 países do mundo que, como tochas, permitem com que a chama jamais se apague! E parabéns antecipados pelos muitos e muitos anos que teremos a comemorar, trazendo cada vez mais mulheres a agir, atuar, crescer e mostrar seu valor. Temos certeza absoluta de que conseguiremos e, mais uma vez, provaremos que, afinal, “Para a Wizo, tudo sempre será possível”!