De acordo com um documento de posicionamento publicado recentemente pela ONG israelense não-partidária Instituto para Estratégias Sionistas, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) está sendo ativamente contraproducente para a resolução do conflito Israel-Palestina.
O jornal, que foi publicado pelo grupo político independente, o Instituto para Estratégias Sionistas (IZS), argumenta que as instalações da UNRWA têm sido usadas para atividades terroristas contra civis e que funcionários da Agência da ONU são muitas vezes membros de grupos terroristas, o que levanta dúvidas a respeito da neutralidade da Agência. Além disso, o jornal afirmou que a UNRWA é financeiramente e politicamente dependente da continuidade do status-quo do conflito e que, por este motivo, não há por parte dela desejo real de que os problemas dos refugiados sejam resolvidos.
O documento foi pesquisado e produzido pelo tenente-coronel Nir Naaman, atualmente um estudante de doutorado na Universidade de Bar-Ilan, em Tel Aviv. Ele cita reportagens da última década, resoluções das Nações Unidas, bases de dados nacionais e governamentais, além de literatura acadêmica relacionada.
O jornal cita casos em que a UNRWA foi supostamente flagrada fazendo vista grossa para atividades terroristas ou até mesmo onde ela estava totalmente envolvida em tais atividades, datando desde 1968, quando, por exemplo, um acampamento da UNRWA foi usado como base de treinamento para a Organização Para a Libertação da Palestina (OLP) , até então, segundo ele, uma organização terrorista oficial.
Mais recentemente, o jornal menciona casos durante a operação Margem Protetora em Gaza, quando terroristas do Hamas abriram fogo contra as tropas israelenses a partir de instalações da UNRWA, e armazenaram mísseis e munições nas escolas da UNRWA e onde esta organização empregou sistematicamente membros ativos do grupo terrorista Hamas em Gaza. Assim, ele concluiu que o funcionamento da UNRWA ocorre fortemente atrelado a interesses políticos e atividades terroristas.
O documento revela pelo menos 10 exemplos específicos de casos que lançam dúvidas sobre a parcialidade da Agência da ONU de assistência a refugiados palestinoas e mostra as ligações entre a organização e o grupo terrorista Hamas. O jornal conclui que as atividades da UNRWA deveria ser interrompida, pelo menos na Judéia, Samaria e Gaza, e fundos e recursos deveriam ser transferidos para a Autoridade Palestina legítima e para a Organização Internacional de Refugiados (ACNUR).
O gerente de projeto para o Instituto de Estratégias Sionistas, Adi Arbel, falou à Agência de Notícias Tazpit sobre o relatório. "Nossa conclusão é que a UNRWA causa mais dano do que benefício", disse Arbel. "Em Gaza, a UNRWA se tornou um ator claro do conflito, ao invés de uma organização de ajuda internacional imparcial".
"O relatório apresenta casos comprovados factuais de funcionários da UNRWA, professores, e funcionários diretamente ligados ao Hamas, que foram apanhados pelas autoridades israelenses no ato", disse Arbel. Um dos casos citados pelo artigo é um incidente de 2003, em que palestinos foram presos e condenados por jogar coquetéis molotov em um ônibus israelense e por posse de material explosivo, que acabou por ser empregada pela UNRWA.
De acordo com o jornal, um relatório do FBI foi publicado este ano alegando que dezenas e até centenas de funcionários da UNRWA estão diretamente envolvidos em terrorismo. No entanto, o relatório do FBI não foi citado ou apresentado no jornal de posicionamento. "A maior parte dos dados foi coletada ao longo dos anos pelas Forças de Segurança israelense, bem como durante as operações militares como a operação Pilar de Defesa e a operação Chumbo Fundido, corroborando com a ligação existente entre a Agência [UNRWA] e atividades anti-israelenses altamente agressivas, especialmente o terrorismo", afirmou o gerente do Instituto para Estratégias Sionistas, Arbel. Ele também destacou que desde que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em 2006, a agência se tornou uma espécie de poder executivo do Hamas, empregando muitas das pessoas da organização terrorista.
Arbel explicou à Agência de Notícias Tazpit que "uma organização que tem desenvolvido uma dependência financeira e estrutural nas suas próprias definições do Estatuto de Refugiados, bem como suas ligações profundas com ativistas políticas palestinas em Gaza, supostamente ligadas ao terrorismo, são contraproducentes para uma solução do conflito."
"A UNRWA já existe há 65 anos com o mandato para resolver e aliviar os problemas dos refugiados da guerra de independência [a guerra de 1948], no entanto, tudo o que fez foi sustentar o status de refugiados indefinidamente, perpetuando-o. Pior ainda, eles estão de fato criando mais e mais refugiados", criticou.
De acordo com o direito internacional, o status de refugiado é concedido a pessoas deslocadas e incapazes de voltar para casa como resultado de um conflito armado ou de desastres que os colocam em perigo de morte. O status é revertido com o retorno do indivíduo para sua casa ou com sua naturalização e cidadania em um novo local, não sendo portanto um status hereditário.
A UNRWA não tem definição para o termo "refugiado" em sua carta fundadora e tem sido capaz de definir os refugiados de forma ad hoc, por anos, concedendo o status de refugiado a filhos e netos de refugiados e mesmo a pessoas que tenham sido aceitas como cidadãs em outros países desde a guerra. Arbel exemplificou este ponto, dizendo que por meio da UNRWA, uma pessoa pode ser bisneto de um árabe jordaniano que chegou na Palestina em 1946, voltou a Jordania em 1948, tendo cidadania jordaniana completa, e ainda assim ser considerado um refugiado palestino com todos os direitos.
Christopher Gunness, diretor de Defesa e Comunicação Estratégica para a UNRWA, falou à Agência de NotíciasTazpit, em respostas ao Instituto para Estratégias Sionistas. "Quanto aos mísseis e munições armazenadas nas nossas instalações durante a operação Margem Protetora, a única razão pela qual se sabe sobre isso, é porque fomos nós que os descobrimos, e lançamos esta informação ao público. Nós ficamos tão chocados e horrorizados com esta descoberta, que agimos com integridade e emitimos um comunicado de imprensa forte sobre o assunto".
Sobre a acusação de ser conscientemente ligada à atividade militante terrorista, Gunness disse à Tazpit que isso é um disparate. "Estas afirmações são lixo. Assim como qualquer outra organização, nossos funcionários agem de acordo com certos padrões. Se houver suspeita contra quaisquer funcionários da UNRWA, que eles sejam investigados, e se forem encontradas quaisquer violações, que sejam tomadas medidas imediatas, incluindo até mesmo a rescisão", disse.
Fonte: Tazpit Brasil / Texto: Michael Zeff / Tradução: Bruno Scala