Jan Karski, o homem que tentou deter o nazismo
"Estado secreto", publicado em 1944 nos Estados Unidos, se tornou um best-seller instantâneo. É lançado agora no Brasil.
Karski era um diplomata e oficial do Exército polonês. Assim que seu país foi ocupado, em setembro de 1939, foi capturado pelos soviéticos e, numa troca de prisioneiros, devolvido aos nazistas. Fugiu deles e se tornou militante da resistência, sob o codinome Witold. Passou a trabalhar como emissário e a transmitir informações na clandestinidade. Dono de uma memória prodigiosa, era uma espécie de “gravador humano” das mensagens trocadas entre os resistentes. Capturado pela Gestapo ao tentar cruzar a fronteira para a Hungria, foi torturado e tentou o suicídio – sem sucesso. Resgatado, a resistência o designou em 1942 como emissário ao governo polonês exilado em Londres. Ouviu o desespero das lideranças judaicas, testemunhou o horror no gueto de Varsóvia e, disfarçado de soldado ucraniano, num campo de extermínio.Ao chegar a Londres, relatou o que vira não apenas ao governo exilado e a líderes judeus. Encontrou-se duas vezes com o ministro britânico das Relações Exteriores, Anthony Eden – que vetou seu acesso ao primeiro-ministro Winston Churchill. Em maio de 1943, foi para os Estados Unidos, onde passou a circular entre as autoridades americanas. Proferiu palestras e, depois do encontro com Roosevelt, decidiu escrever um livro com seu testemunho sobre a resistência polonesa e seu papel na guerra. Publicado nos Estados Unidos em 1944, Estado secreto se tornou um best-seller instantâneo, com mais de 400 mil exemplares vendidos na primeira edição. No fim da guerra, com o domínio soviético sobre seu país, Karski se radicou como acadêmico nos Estados Unidos. Ele era um democrata, anticomunista, e seu livro só pôde ser lançado na Polônia em 1991, depois da queda do Muro de Berlim. No Brasil, sai nesta semana, 15 anos depois de sua morte.
O alerta de mensageiros como Karski foi insuficiente para deter a política nazista de extermínio. Nos anos 1980, ele voltou a ser reconhecido graças às palavras que pronunciou numa conferência nos Estados Unidos e a seu testemunho no filme Shoah, de Claude Lanzmann. “Quando a guerra chegou ao fim, entendi que nem os governos, nem os líderes, nem os intelectuais, nem os escritores sabiam o que tinha acontecido com os judeus. O assassinato de 6 milhões de seres inocentes era um segredo”, disse Karski. “Nesse dia, me tornei judeu, como a família de minha mulher (…) Sou um judeu cristão. Um católico praticante. E, embora não seja um herege, acredito que a humanidade cometeu um segundo pecado original: cumprindo ordens, por negligência, por ignorância autoimposta ou por insensibilidade, por egoísmo ou por hipocrisia ou, ainda, por frieza calculista. Esse pecado assombrará a humanidade até o fim do mundo. Esse pecado me assombra. E quero que seja assim.”
Tags: nazismo, Polônia, 2ª Guerra Mundial
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