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Barros Basto - Coisas Judaicas |
Parlamento vota lei para reintegrar capitão judeu
Os grupos parlamentares do PSD e do CDS apresentaram, nesta quarta-feira, no parlamento um projeto de lei para reintegrar o capitão Barros Basto no exército português. Em causa, está o sucessivo adiamento da reintegração do militar judeu por parte do Ministério da Defesa, que alega ter dúvidas sobre o enquadramento jurídico em que a reintegração deve acontecer.
A votação do novo projeto de lei ocorrerá no dia 22 de Julho e deve merecer o acolhimento das demais bancadas, tal como aconteceu em 2012 aquando da reabilitação moral do capitão pelo parlamento. O projeto prevê que Barros Basto deverá ser de imediato reintegrado, no posto que teria previsivelmente alcançado se não houvesse sido separado do exército no ano de 1937.
Em declarações ao JN, Débora Elijah, da direção da Comunidade Israelita do Porto, diz que "a iniciativa do parlamento, a ser aprovada, terá o condão de pôr fim à inércia do Ministério da Defesa durante 3 anos. Essa inércia só foi quebrada recentemente, quando a Liga Anti-Difamação instou o governo a explicar-se. O Ministério da Defesa descobriu então que tinha dúvidas sobre o enquadramento legal da reintegração."
A iniciativa parlamentar é semelhante à que aconteceu com Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Bordéus que salvou milhares de judeus do extermínio. Também neste caso, por demoras várias do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o parlamento avançou com uma "lei medida".
Débora Elijah lembra que Barros Basto é coronel desde Novembro de 1945. "Não só o parlamento declarou, em 2012, que ele foi perseguido por ser judeu, como o exército reconheceu em 2013 que a patente que lhe é devida é a de coronel. Os documentos oficiais do parlamento e do exército estão expostos no Museu Judaico do Porto. Até a farda de coronel já ali se encontra. Falta a oficialização da reintegração, como é de direito."
O capitão Barros Basto foi um militar português que lutou nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, onde sobreviveu até mesmo a um ataque de gás venenoso. Em 1923 tornou-se o fundador da Comunidade Israelita do Porto, em conjunto com comerciantes judeus oriundos da Lituânia, Polônia, Alemanha e Rússia.
Depois de anos de intensa atividade em prol do judaísmo, o capitão foi separado do Exército. Em causa o facto de ter intervindo em operações de circuncisão dos seus alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto.
O Conselho Superior de Disciplina do Exército deu como provado que ele "realizava a operação da circuncisão a vários alunos segundo um preceito da religião israelita", pelo que não possuía "capacidade moral para prestígio da sua função e decoro da sua farda". O caso tornou-se conhecido em todo o mundo como o caso "Dreyfus português".
Barros Basto nunca perdeu a esperança de ser reintegrado de pleno direito no serviço militar e de ver limpo o seu nome maculado, tendo afirmado na véspera de falecer: "Um dia ainda me farão justiça!"