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O pecado dos espiões

Inalterável – Comentários sobre a Porção Semanal de Shelach

Rabino Nissan Ben Avraham

O pecado dos espiões é sem dúvida um dos mais conhecidos e está entre aqueles pecados que marcaram, da maneira mais significativa, a história do povo de Israel.

Recapitulemos os eventos que transcorreram desde o Êxodo do Egito: 50 dias após saírem do Egito, chegaram aos pés do Monte Sinai, onde lhes foi entregue a Torá. Moisés passou 40 dias no monte, e desceu no dia 17 de Tamuz para descobrir que o povo construiu um bezerro de ouro. 

No dia seguinte, subiu ao monte, novamente, por mais 40 dias, para se desculpar por este triste acontecimento, como conta a Torá no capítulo 32 do livro do Êxodo, descendo, desta vez, no último dia do mês de Av. Voltou, então, a subir no dia seguinte, o primeiro dia do mês de Elul, para mais 40 dias no monte, e assim, finalmente receber as segundas tábuas da Lei. Após este esforço impressionante, Moshe desce do Monte, triunfante, no dia do Yom Kipur, tendo conseguido não somente o perdão de D´us, mas também a restituição das Tábuas da Lei.

Nossos sábios contam que já no dia seguinte foi iniciada a construção do Tabernáculo. Sua inauguração foi no primeiro dia do mês de Nissan, e durou 12 dias, nos quais, em cada dia era oferecido uma oferenda especial por um dos líderes de cada uma das 12 tribos. O livro de Números relata então, sobre a primeira celebração do Êxodo do Egito, o primeiro aniversário do evento.

No décimo capítulo deste mesmo livro, que lemos na semana passada, é descrita a disposição das tribos para a viagem que ocorreria no vigésimo dia do segundo mês, no segundo ano do Êxodo do Egito.

Poderiam ter alcançado as fronteiras da Terra Prometida, em apenas 11 dias, mas após três dias de viagem (Números 10:33) foram castigados com mais 30 dias de peregrinação, por suas reclamações, como vimos no último capítulo 11, e sete dias mais que esperaram Miriam se recuperar da lepra e voltar a se juntar ao acampamento, como vimos no final da Parashá passada, Beha’alotechá. E assim, chegamos ao fim do mês de Sivan, quando foram enviados espiões para investigar a Terra Prometida e, na sequencia, seu retorno, após 40 dias, na véspera do dia 9 do mês de Av.

Neste momento, o povo é castigado e condenado a permanecer mais 40 anos no deserto, vagando sem rumo, seguindo as orientações da nuvem que cobria o Tabernáculo.

O castigo é refutado

Mas antes de chegar a este castigo, parece que o Criador havia “planejado”, por assim dizer, uma outra punição, como consta no capítulo 14 (versículo 12), quando lemos sobre sua intenção de ferir o povo com uma praga até que terminem por perecer no deserto, e, assim, D´us faria dos descendentes de Moisés, o novo Povo Escolhido.

A resposta de Moisés foi rápida e digna de um verdadeiro líder, cuja missão é defender sua população. Sabemos também que as palavras de Moisés refletiam a verdadeira intenção do Criador, a primeira proposição se trata apenas de uma condição ou axioma, que imediatamente é rebatido.

Poderíamos dizer que este axioma refutado é a visão do cristianismo e do islamismo, que acreditam que o povo de Israel, antes escolhido pelo Criador, foi abandonado em um momento determinado da história (e ‘trocado’ por um outro povo), pelo fato que não aceitaram Jesus ou Maomé, similar a esta situação, aonde o povo poderia ter sido abandonado para ser substituído pelo “povo de Moisés”.

Resposta de Moisés

Portanto, é muito importante entender qual a resposta de Moisés, nos sete versos que utiliza para de refutar esta idéia.

“13: E disse Moisés ao Senhor: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles.
14: E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó Senhor, estás no meio deste povo, que face a face, ó Senhor, lhes apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite.
15: E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo:
16: Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto.
17: Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo:
18: O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração.
19: Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui.”

Os comentaristas perguntam: por que Moisés não repetiu o que disse após o pecado do Bezerro de Ouro, quando também mencionou o juramento aos Patriarcas?

E, então, respondem que a frase começa com uma conjução que parece um pleonasmo, mas não é, ele simplesmente continua sobre o que foi dito na ocasião anterior e acrescenta outra coisa, que veremos a seguir. Ou seja, não é somente o juramento aos Patriarcas que faz do Povo de Israel, o povo escolhido, e o argumento que isto mostraria aos outros povos que o Criador é cruel, pois os tirou do Egito para matá-los no deserto, e, que é também o que argumenta Moisés no capítulo 32 de Êxodo. Aqui ele acrescenta que aniquilar o povo de Israel seria indicar que o Criador não tem forças (D´us nos livre) para trazer o povo para a terra que lhes havia prometido, a chamada Terra de Cná’an.

Não existem “trocas”

Os egípcios sabiam muito bem que o povo em si, não possuía nem os meios nem a força necessária para escapar do Egito, e que a sua liberdade aconteceu, somente porque receberam a ajuda de D´us. Portanto, se agora estes fossem destruídos no deserto, a conclusão destes povos, os egípcios e os cananeus, seria que para esta nova conquista, o Criador, já não tinha mais forças e isto se tornaria uma terrível profanação do Nome Divino.

Mesmo no caso que a proposta acima fosse mantida, e a família de Moisés seguissem como sucessores do povo de Israel, e esta conquistasse a Terra Prometida, isso significaria, igualmente, uma falta de poder do Criador, que “deixou escapar”, por assim dizer, o domínio no seu povo e teve que substituí-lo. Isso significaria (D´us nos Livre) que, apesar de todos os milagres no Egito e o fato de a Presença Divina repousar, continuamente, no Tabernáculo, o amor do Criador para o povo de Israel, não era forte o suficiente para manter e cumprir as promessas feitas aos patriarcas.

E, apesar de todas estas idéias não serem corretas, uma vez que os outros povos não são capazes de reconhecer o verdadeiro pecado de Israel e desviam seus pensamentos a outras direções, a razão que Moisés mencionou, já é suficiente para o Criador “não permitir” que algo assim aconteça.

Os caminhos do Criador

Nossos sábios ensinam que o mundo tem um objetivo, há uma missão a cumprir, e esta missão se resume no reconhecimento da humanidade no poder absoluto do Criador, e que nada pode se opor a este poder, até mesmo o “mau comportamento do seu povo”, para que, assim, Ele possa concretizar Seu plano. Este conhecimento é diretamente retratado das palavras do grande líder, Moisés, precisamente, em tempos de maiores crises, no decorrer da história de nosso povo. Quando os fatores mais brilhantes desaparecem e o povo aparece “nu”, é quando os fatores mais profundos que influenciaram a escolha deste maravilhoso povo, podem ser encontrados.

Nesta ‘nudez’ descrita nos versos que citamos, lemos que, a Presença Divina é visível no Tabernáculo, nas colunas de fogo e na nuvem que liderava o acampamento. E, portanto, a escolha do povo de Israel é um dos principais pontos para poder compreender “os caminhos do Criador’.

Os profetas posteriores tiveram que explicar que o suposto “desaparecimento” desta glória, manifestada na destruição do Templo, não significa em absoluto que Ele tenha “mudado seu ponto de vista”, como podemos claramente ver no capítulo 36 do livro de Yechezkel (Ezequiel), que comenta sobre a profanação do nome do Criador, quando Israel está na Diáspora.

A proposta prepotente do cristianismo e do islamismo de que eles substituíram o povo de Israel aparece num momento em que Israel está sendo punido, mas somente aqueles que não entendem os caminhos do Criador, que não conhecem as mensagens mais básicas da Sagrada Torá, poderiam ser capazes de afirmar tais coisas.

Quantas vezes já zombaram de nós, chamando-nos de “o Povo Eleito”, com desdém e desprezo?! Estes nunca entenderam o verdadeiro significado destas palavras, desta escolha divina, uma vez que desconhecem a história e não são capazes de entender os caminhos do Criador. Aqueles que pensam ser mais preparados, são capazes, inclusive de dizer que os caminhos do Criador são “inescrutáveis” quando, para nós, o estudo destes caminhos é a base da nossa existência, é o legado de Abraão, como aprendemos do Gênesis (18:19) “Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado”.

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