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Lassana Bathily - Coisas Judaicas |
Heróis contemporâneos da causa judaica são homenageados pelo AJC, em Washington, EUA.
Nas sinagogas de todo o mundo, guardas de segurança estão postados na entrada. Um triste lembrete de que, como nos últimos 2.000 anos, os judeus continuam vulneráveis. “Ainda somos alvos, mesmo quando oramos”, afirma o rabino e filósofo britânico Samuel Lebens. Em alguns países, as sinagogas são projetadas para que não possam ser identificadas como tal.
É como se o exílio milenar perdurasse: mesmo em Israel, os judeus que rezam em um templo não estão a salvo, como mostrou tristemente o atentado a uma sinagoga em Jerusalém, em novembro de 2014. Em fevereiro deste ano, uma sinagoga em Copenhague foi atacada, durante uma cerimônia de bar mitzvá. Em janeiro, um supermercado casher, em Paris.
Os três eventos, que marcaram profundamente a comunidade judaica, também deixaram heróis, homenageados neste mês no Fórum Global do American Jewish Committee. A entidade entregou ao malinês Lassana Bathily, muçulmano, e aos familiares de Dan Uzan, judeu dinamarquês, e de Zidan Nahad Seif, druso israelense, o Prêmio da Coragem Moral.
A história do antissemitismo foi sempre acompanhada por histórias inspiradoras de não judeus corajosos, que arriscaram sua vida para nos salvar. O Jardim dos Justos, no Yad Vashem, em Jerusalém, homenageia dezenas de milhares daqueles que salvaram vidas de judeus durante o Holocausto. Mas os heróis existem também nos dias de hoje.
Lassana Bathily, o muçulmano que salvou judeus em Paris
Não foi fácil para o malinês Lassana Bathily, de 24 anos, nove dos quais em Paris, obter o emprego no Hypercacher, supermercado casher.
Durante anos, ele frequentou escolas noturnas, na esperança de construir uma vida. Estudou para ser encanador, mas, sem status legal, não conseguia encontrar trabalho. Dormia no chão entre as camas de dois amigos muçulmanos e comia frugalmente. Se os colegas de quarto tinham comida, compartilhavam; senão, ele bebia água e ia dormir.
Um voluntário francês, Dennis Mercier, decidiu ajudá-lo, e em 2010 ele conseguiu a permissão de trabalho. Um amigo muçulmano de um primo dele tinha relacionamento de longa data com o fornecedor de carne casher da loja, e conseguiu arrumar uma entrevista para Bathily. Quando lhe perguntaram sobre suas qualificações, ele respondeu: "Nunca fiz isso antes. Me deem uma chance e vejam se gostam de mim." Gostaram tanto, que o promoveram: quando os suprimentos chegam ao mercado e devem ser inspecionados, ele é o homem no comando.
Sua explicação para o ato heroico no dia 9 de janeiro de 2015: "O que fiz foi colocar as pessoas fora de perigo e garantir a sua segurança - algo que todo mundo pode fazer quando se encontra em uma situação extrema", disse Bathily ao AJC. "Se voltasse a acontecer novamente amanhã, faria exatamente a mesma coisa, porque, para mim, esta é a resposta normal e humana"
Em 21 de janeiro, a França lhe concedeu a cidadania. Bathily havia feito a aplicação em 2014, e uma campanha pública em seu nome acelerou o processo.
Dan Uzan, a “mezuzá ambulante” de Copenhague
Dan Uzan, judeu dinamarquês, frequentou escola judaica, jogou basquete - e, graças ao tamanho, também foi goleiro-, estudou economia. Viveu brevemente em Israel, ficou fluente em hebraico, voltou para Copenhague e tornou-se ativo na comunidade judaica local.
Ele prestava serviço voluntário como segurança na principal sinagoga da cidade, em Kristalgade. Na noite de 14 de fevereiro, acontecia um bat mitzvá, com a presença de 80 pessoas, muitas adolescentes. Desarmado, ele era a única barreira entre a congregação e o terror.
Centenas de pessoas, incluindo a primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, foram ao seu funeral. “Um ataque aos judeus da Dinamarca é um ataque à Dinamarca”, declarou a ministra. Dan tinha 37 anos de idade. Era carinhoso e carismático, segundo seus amigos.
O Beit Chabad comparou Dan a uma “mezuzá ambulante”, sempre orgulhoso à porta da sinagoga.
Veja a homenagem do AJC.
Zidan Nahad Seif, um policial israelense
Zidan Nahad Seif, policial de 30 anos de idade, não era judeu, não fez parte do exílio de 2.000 anos. Era um oficial druso da polícia de trânsito de Jerusalém. Sua história é parte integrante da história israelense. Não um gentio que veio salvar judeus indefesos em uma sinagoga, mas um policial israelense que veio defender seus compatriotas. Tinha sua própria religião e sua herança orgulhosa.
Os drusos são uma minoria étnica-religiosa de cerca de 130 mil pessoas, caracterizados pela lealdade ao Estado de Israel, convocados para o exército (com exceção das comunidades na fronteira com a Síria), onde têm uma representação desproporcional em unidades de combate e escola oficial; 94% deles sedefinem como israelenses drusos, de acordo com um estudo da Universidade de Tel Aviv, em 2008. O embaixador de Israel no Brasil, Reda Mansour, é druso.
Milhares de pessoas compareceram ao funeral de Seif, incluindo o presidente de Israel, e moradores ultraortodoxos do bairro em que ele morreu. Deixou a mulher e o filho recém-nascido.