A Origem do Dia dos
Namorados e de Valentine's Day
© JANE BICHMACHER DE
GLASMAN*
Desde tempos bíblicos, o
dia 15 de Av (Tu beAv) tem sido celebrado como o Feriado do Amor e do Afeto.
Da mesma forma que em
Tishá be Av tantos fatos trágicos aconteceram aos judeus, em Tu beAv foram
vários fatos positivos, ao longo da história, marcando o fim de negativos que
vinham ocorrendo conosco, como povo.
Alguns Exemplos:
O fim das mortes da
geração do êxodo
Após o caso dos espiões,
quando o povo não quis entrar em Canaã, sua geração foi condenada a uma jornada
de 40 anos no deserto, até que todos falecessem e uma nova entraria na Terra.
Segundo a agadá, isto ocorreu em Tishá beAv e as mortes ocorriam neste dia; as
pessoas cavavam covas para si e dormiam dentro delas; todo ano morriam 15.000.
No último ano no deserto, todos acordaram vivos. A princípio, pensaram que
haviam errado a contagem de dias e continuaram a dormir nas covas nas noites
seguintes até que no dia 15 viram a lua cheia e tiveram certeza que Tishá beAv
havia passado sem ninguém morrer.
O enterro dos mortos de
Betar
O imperador romano Adriano após o genocídio em
Betar deixou os corpos dos judeus abandonados, jogados em um vinhedo. Após um
tempo, um novo rei permitiu que fossem finalmente enterrados. Todo o povo
uniu-se para cuidar do enterro, que ocorreu em Tu beAv. Nossos Sábios
acrescentaram a bênção Hatov Vehametiv -o "Bom que faz o bem", no
Bircat Hamazon, explicando :"O Bom"-pois os corpos não apodreceram
enquanto não haviam sido enterrados e "que faz o bem"-pois fez com
que acabassem sendo enterrados.
O dia em que terminavam
de trazer lenha ao Templo
Este também era o dia da
oferenda de madeira quando as pessoas traziam gravetos de madeira para o altar
do Templo (Nehemias,10:35). O festival foi instituído pelos Fariseus celebrando
a sua vitória sobre os Saduceus neste dia.
Após a reconstrução do Segundo Templo, no
tempo de Ezra e Nehemia, era grande a dificuldade de encontrar árvores para
utilizar a madeira na queima dos sacrifícios no altar, pois a terra
encontrava-se devastada. Quando alguém doava lenha ao Templo, era muito
festejado, pois sem lenha o ofício do Templo teria que ser cancelado. Inimigos
impediam pessoas de chegar com lenha a Jerusalém. O último dia de corte para o
Templo era 15 de Av. Depois, o calor já não era tão intenso e as madeiras que
não estavam secas corriam o risco de serem infestadas por insetos, invalidando
sua utilização no altar. Por isso, o último dia de verão era festejado com
grande alegria.
O Talmud dá uma razão
adicional e curiosa para a importância deste dia: daí em diante nenhuma madeira
mais foi cortada para o Templo porque o sol não era mais bastante forte para
secá-la (Bavli:Taanit,30b-31a; Tratado 121a-b; Ierushalmi:Taanit 4:11,69c).
Teria havido uma mudança de clima súbita e drástica? Se o sol não fosse mais
forte bastante para secar madeira, uma forte névoa teria se formado, bloqueando
os raios do sol? A terra teria esfriado, pelo menos na região? Talvez nunca saibamos
a resposta desta intrigante questão.
Amor fraterno
Há outras razões para a
causa e o valor do Feriado do Amor.
O rei de Israel Ierovam
ben Nevat, havia retirado o trono de Jerusalém e colocado dois bezerros de
ouro, em Dan e Bet El, para o povo idolatrar. Mas muitos continuaram indo a
Jerusalém. Para impedi-los, Ierovam espalhou várias barreiras e guardas nos
caminhos.
Num Tu beAv também, o
último rei de Israel, Hoshea ben Elá, removeu as chancelas que Ierovam instalou
e declarou: "Quem quiser peregrinar a Jerusalém, pode ir".
Neste dia foi permitido
às tribos casarem-se pela primeira vez entre si (Números, 36:8ss). Havia dois
tipos de casamento proibidos: entre tribos e entre qualquer uma e a de
Benjamin.
A primeira proibição foi
transmitida por Moisés, para garantir os direitos sobre a terra de cada tribo.
Se uma filha tivesse herdado um terreno de seu pai, ao casar-se com um homem de
outra tribo, o terreno passaria a pertencer também ao marido, prejudicando a
tribo dela. Quanto à tribo de Benjamin, após o episódio da Pileguesh Baguiva, o
povo fez a promessa: "Nenhum de nós dará sua filha a Benjamin por
esposa".
Anos depois, os sábios
analisaram as proibições e concluíram que os casamentos eram proibidos apenas
por um período. Os primeiros quatorze anos após a entrada em Canaã foram
dedicados à conquista e distribuição de terras. Casamentos entre tribos eram
proibidos durante estes anos, devido à ausência de demarcação da terra que
seria destinada a cada tribo, que impossibilitava transferências; depois,
tornou-se viável. A promessa de não casar-se com a tribo de Benjamin era apenas
para aquela geração, pois disseram "Nenhum de nós" - não "Nenhum
de nosso filhos". Os Benjaminitas foram readmitidos na comunidade
(Juízes,21:18 ss). As permissões foram dadas em Tu Beav, dia de alegria e união
do povo.
Deduzimos que o Feriado
do Amor também era um Feriado de Amor Fraterno.
Em Israel, tornou-se o
feriado das flores, porque nele é costume dar flores de presente a quem se ama.
O Feriado do Amor era conhecido na época do Segundo Templo. O Talmud diz que as
"filhas de Jerusalém vestiam-se de roupas brancas e iam dançar nos
vinhedos, cantando" em 15 de Av e "quem não tivesse uma esposa podia
ir até lá" para encontrar uma noiva. (Taanit, 4:8, Talmud Bavli).
Em tempos bíblicos, o
Feriado do Amor era celebrado com tochas e fogueiras. Hoje em dia, em Israel, é
costume enviar flores a quem se ama ou para os parentes mais íntimos. A
significação e a importância do feriado aumentaram em anos recentes. Canções
românticas são tocadas no rádio e festas 'Feriado do Amor' são celebrados à
noite, em todo o país.
Não há halakhot,
preceitos para esta data, exceto a orientação que, a partir de 15 de Av,
devemos aumentar o estudo de Torá, pois nesta época do ano as noites começam a
alongar-se e "a noite foi criada para o estudo." Uma ótima noite para vocês!
O amor no judaísmo é
essencial. Rabi Haim Vital, cabalista, comparou por guemátria amor em hebraico,
ahavá, (valor numérico 13) com o Nome de Deus (26), concluindo que, quando duas
pessoas se amam, a combinação de seu amor (13+13) intensifica a presença divina
entre eles (Deus=26=13+13). Portanto, procure o amor e ame intensamente!
Cônjuges, namorados, amigos, pais, família... Quando duas pessoas compartilham
suas existências, com troca e harmonia, Deus se faz presente!
Publicado em Visão
Judaica, agosto de 2005.
*Doutora em Língua
Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica- USP, Fundadora e ex-Diretora do
Programa de Estudos Judaicos–UERJ, Professora Coordenadora do Setor de
Hebraico-UFRJ (aposentada), escritora
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Linda a explicação da origem do dia dos namorados pelos judeus. Adorei!
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