Uma fotogênica engenheira de informática de 39 anos e mãe de dois filhos, secular mas dirigente de um
partido religioso, Ayelet Shaked é uma improvável jovem estrela da direita
israelita que chega agora ao Governo de Benjamin Netanyahu como ministra da
Justiça. É o culminar – ou apenas mais um degrau? – de uma ascensão explosiva
que já gera ondas de choque no Médio Oriente.
O fenômeno nasceu no
Verão de 2014. Um post polêmico da então deputada da Casa Judaica tornava-se
viral no Facebook. Não era um texto da autoria de Ayelet, mas de um jornalista
entretanto falecido. Uri Elitzur, figura muito próxima de Benjamin Netanyahu,
comparava as crianças palestinas a “pequenas víboras” e apelava a uma guerra
total contra os árabes dos territórios ocupados.
No dia seguinte, Abu
Khudair, um adolescente palestino de 17 anos, era raptado em Jerusalém por
extremistas judeus e queimado vivo. Uma semana depois, começava mais uma
campanha das forças armadas hebraicas em Gaza – mais de 2.000 palestinos
mortos, incluindo cerca de 500 crianças.
“Isto é uma guerra entre
dois povos. Quem é o inimigo? O povo palestino. Por quê? Perguntem-lhes. Eles é
que começaram”, tinha postado Ayelet, citando Elitzur. (Dias antes, três jovens
colonos judeus também tinham sido raptados e assassinados).
Ayelet acabou por apagar
o post, mas não evitou a fama de extremista. Uma fama que atravessou
fronteiras: “Qual é a diferença entre esta mentalidade e a de Adolf Hitler?”,
perguntou Recep Tayyip Erdogan, o então primeiro-ministro turco.
Em vez do incidente ter
afundado a carreira de uma jovem deputada ao Knesset, a polemica tornou-a na
nova estrela da direita israelita.
Esta semana, o acordo de
coligação entre o Likud de Netanyahu e a Casa Judaica (Bayit Yehudi, o partido
de extrema-direita que a programadora integra) ditou a entrega da pasta da
Justiça a Ayelet. Naftali Bennett, o líder da formação radical, é o novo
ministro da Educação.
A entrega do Ministério
da Justiça foi o ponto decisivo para a viabilização pela Casa Judaica do quarto
Governo de Netanyahu, colocando nas mãos dos radicais a nomeação do próximo
procurador-geral da República, sublinha a Foreign Policy. Em Israel, essa é uma
nomeação que resulta tradicionalmente de intensas negociações e importantes credencias,
o que confere a Ayelet um imenso poder no seio do novo Executivo.
Para a Casa Judaica, é
uma win-win situation: ou garante com o seu PGR o controlo do sistema judicial
israelita, que tem sido considerado como o último obstáculo para a sionização
completa do Estado [lê-se na FP], ou consegue concessões significativas em
dossiês como o dos colonos – onde a fome se junta à vontade de comer.
A chegada da jovem
conservadora ao Governo fez soar alarmes em Ramallah.
Saeb Erekat,
negociador-chefe da Autoridade Palestina, declarou ainda na quinta-feira que o
novo Executivo israelita é “um Governo de guerra” e visou especificamente a
nova ministra da Justiça com as suas críticas.
“A presença da extremista
[Ayelet] Shaked, de ultra-ortodoxos e de colonos no Governo é a prova de que se
trata de um Governo de guerra, contra a paz e a estabilidade”, afirmou o
diplomata palestino, citado pela AFP.