
Uma morena de olhos acinzentados está dando o que falar em Israel. Não nas revistas de moda: no governo. Política novata, Ayelet Shaked, 39, lidera desde domingo (17) um dos ministérios mais importantes do país, o da Justiça, apesar de estar no Knesset (o Parlamento) há apenas dois anos e não ter formação em direito.
Oposicionistas denunciam não só sua inexperiência como o lado de "fera" da bela analista de sistemas.
Shaked é ultranacionalista, contrária à criação de um Estado palestino e crítica do Supremo Tribunal (que considera esquerdista demais). Defende uma lei que classifica oficialmente Israel como "Estado de nacionalidade judaica", tida como discriminatória pela minoria árabe (20% da população).
Casada e mãe de dois filhos, Shaked também é uma estranha no ninho de seu próprio partido, o religioso "Casa Judaica", apoiado em boa parte por colonos israelenses, que vivem em áreas ocupadas na Cisjordânia. Ela é secular e mora em Tel Aviv.
Por conta de um post no Facebook, ela anda com escolta policial. Há cerca de um ano, a ministra escreveu que mães de terroristas palestinos (que chamou de "cobras") deveriam "ir para o inferno" com seus filhos. Desde então, recebe ameaças de morte.
A nomeação também trouxe à tona sentimentos machistas em Israel.
O ex-ministro da Infraestrutura Yosef Paritzky escreveu no Facebook que "pela primeira vez em Israel há uma ministra da Justiça capaz de estrelar num calendário de oficina mecânica".
Shaked vai administrar comitês responsáveis por novas leis e influenciar na escolha de juízes. Justamente por isso é que o premiê Binyamin Netanyahu tenta diminuir sua autonomia.
Não só por ideologia. Ela e o líder da "Casa Judaica", Naftali Bennet, trabalharam por dois anos (2006 a 2008) no comitê de Netanyahu e saíram de lá depois de uma briga pessoal que ecoa até hoje.
Não só por ideologia. Ela e o líder da "Casa Judaica", Naftali Bennet, trabalharam por dois anos (2006 a 2008) no comitê de Netanyahu e saíram de lá depois de uma briga pessoal que ecoa até hoje.
Netanyahu só aceitou a nomeação porque, apesar de ter recebido 25% dos votos nas eleições de 17 de março (30 das 120 cadeiras do Knesset), precisou atrair, a qualquer custo, aliados para formar um governo com 61 cadeiras.
Críticos definem a nomeação como um desastre que pode enfraquecer o Supremo e inviabilizar as negociações de paz com os palestinos.
É o caso do professor árabe-israelense As'ad Ghanem, da Universidade de Haifa. "Com a ajuda do governo inteiro, Ayelet Shaked tentará fazer uma mudança abrangente e profunda em questões básicas de direitos civis, como o futuro do processo de paz", afirma Ghanem.
Ari Soffer, editor do Canal Sete, de tendência direitista, chamou a reação dos críticos de "histérica". Ele lembra que Ayelet Shaked foi eleita para o Knesset democraticamente e tem todos os requisitos para ser ministra.

Mas há quem acredite que seja necessário dar tempo para que a nova ministra prove a que veio.
"Ela é uma novata. Espero para ver como ela vai lidar com a nova posição. Até lá, me coloco na cadeira de espectador", afirma o cientista político Menachem Hofnung, da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Fonte: Folha de São Paulo