
Como terá votado a minoria árabe-israelense, 20% da população de 8 milhões? Mais do que em qualquer outro pleito, o voto árabe nessas eleições é uma incógnita e pode servir de fiel da balança para uma possível vitória da esquerda em detrimento do primeiro-ministro direitista Benjamin Netanyahu.
Forçados a se unificar por medo de não superarem o percentual mínimo para conseguir uma das 120 cadeiras do Knesset (o Parlamento de Jerusalém), que foi elevado de 2% para 3,25% dos votos, os principais partidos árabes passam pela maior reestruturação desde a criação de Israel, em 1948. A pergunta é: seus eleitores potenciais vão apoiá-los?
A elevação do percentual foi uma iniciativa do ministro do Exterior Avigdor Lieberman, do partido de extrema-direita Israel Nosso Lar. Ele justificou a ideia afirmando que ela ajuda a melhorar a "governabilidade" do país, diminuindo o número de partidos nanicos no Parlamento. Mas, para muitos, se tratou de uma ação com objetivo de diminuir a participação dos árabes. Hoje, há 12 parlamentares da minoria no Parlamento (10%), sendo que dois deles de partidos de maioria judaica.
Mas o tiro de Lieberman pode sair pela culatra. Os principais partidos árabes anunciaram há uma semana uma legenda única com o nome de "Campo Democrático", sob a liderança do jovem advogado Ayman Ouda. O "Campo Democrático" reúne partidos que lutam pelos direitos da minoria árabe e pela criação de um Estado palestino, mas com ideologias distintas como Balad e Ta'al (nacionalistas seculares), Hadash (comunista) e o Movimento Islâmico (islamista).
FIEL BALANÇA
Para alguns, essa união - imposta ou não - levará a um aumento de parlamentares árabes, já que a legenda única poderá se provar mais atraente aos eleitores do que partidos pequenos, que sempre disputaram entre si o 1,5 milhão de árabes em Israel. Há quem preveja que as urnas elejam mais de 16 deputados árabes depois do pleito de março, um recorde histórico.
- É a primeira vez que algo assim acontece, até mesmo em termos do mundo árabe. Nunca houve uma união de partidos comunistas, nacionalistas e islamistas. Mas foi mais fácil do que se pensa - diz Jamal Zachalka, líder do mais conhecido partido árabe de Israel, o Balad, hoje com três parlamentares. - Há tempos já conversávamos com outros partidos e, quando anteciparam o pleito, tivemos de acelerar o processo. Há mais coisas em comum do que desacordos.
Para o professor Asad Ghanem, da Universidade de Haifa, os eleitores árabes-israelenses poderão votar em massa desta vez, como no passado. Até as eleições de 1999, a participação dos eleitores árabes ficava em torno dos 75%, percentual alto comparado com a dos judeus israelenses (65%). Dez anos depois, nas eleições de 2009, o percentual havia caído para 53%.
- Muitos árabes não votaram nos últimos anos por frustração em relação à sua própria liderança. Mas agora algo mudou. Eles uniram suas forças para ter uma lista única - diz Ghanem.
Para outros analistas, no entanto, a unificação árabe pode não dar certo. Isso porque os partidos que negociam uma união têm ideologias muito distintas, e a fusão pode levar a uma disputa interna que enfraqueceria a legenda única.
- O aumento do percentual impôs essa união, mesmo entre partidos que não têm a mesma ideologia, e muitas pessoas não gostam disso - diz Samah Salaima Agbaryia, diretora da ONG Mulheres Árabes no Centro. - Para mim, que sou secular, por exemplo, é difícil concorrer junto com o representante do Movimento Islâmico.
Segundo o analista político Mohammad Darawshe, da ONG Givat Haviva, 85% do público árabe nunca entenderam as diferenças ideológicas entre os partidos, então apoia a união. Mas só realizá-la não basta.
- A missão do novo partido único não é só consolidar essa união e sim motivar os eleitores árabes a votar. Hoje, só 33% se comprometem a votar nos partidos árabes, e 37% dizem que ainda não decidiram se vão votar ou não - diz Darawshe.
Asad Ghanen, da Universidade de Haifa, acha que os árabes israelenses só vão votar se acreditarem que há uma chance para um novo governo de centro-esquerda que remova Netanyahu. Pelas últimas pesquisas, o Campo Sionista, união entre o Partido Trabalhista e O Movimento, da ex-chanceler e ministra da Justiça Tzipi Livni, está páreo a páreo com o Likud de Netanyahu.
Se a esquerda vencer, a nova união dos candidatos árabes-israelenses pode servir de fiel da balança para a formação de uma coalizão com mais de 61 cadeiras no Knesset.