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O adeus a Yohan, Philippe, François-Michel e Yoav

O adeus a Yohan, Philippe, François-Michel e Yoav

 O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (direita), discursa perto dos corpos cobertos de Yohan Cohen, Yoav Hattab, Philippe Braham e François-Michel Saada, vítimas do ataque de sexta-feira (9) em uma mercearia de Paris, durante o funeral conjunto em Jerusalém Leia mais Jim Hollander/Reuters
A cidade de Sarcelles está de luto por um de seus filhos. Desde sexta-feira (9), o telefone toca sem parar na casa da mãe e da avó de Yohan Cohen. Arrasadas demais para atender, elas só encontram conforto no apoio de seus familiares. No domingo à noite, a família inteira se reuniu em torno delas para lembrar Yohan.
Na sexta-feira, as duas mulheres --que moram na mesma rua, a algumas casas de distância-- esperavam angustiadas. Ao verem as imagens dos reféns correndo para fora, soltaram um grito de alegria: "Eles estão livres!". As duas, assim como o resto da família, sabiam que Yohan estava dentro da loja. Só podia estar, uma vez que ele trabalhava há um ano no Hyper Cacher de Saint-Mandé.

A tensão extrema que havia tomado conta do apartamento de Sarcelles por volta do meio-dia baixou por alguns instantes. Até o fatídico telefonema: Yohan havia sido uma das quatro vítimas do terrorista. Ele foi executado assim que Amedy Coulibaly entrou no local, segundo a investigação, morto juntamente com Philippe Braham (45 anos) e François-Michel Saada (64 anos), dois clientes da loja, um deles na entrada e outro perto do caixa.

Emprego e casamento
Yohan, de 23 anos, trabalhava havia um ano no Hyper Cacher. Depois de completar seus estudos em uma escola judaica da vizinhança, ele havia decidido terminar seu curso na universidade para arrumar um emprego e se casar. "Porque ele tinha um espírito de família muito forte", conta um de seus familiares. "A última vez que o vi, ele me perguntou quando eu observaria o shabat em Sarcelles. Ele me disse que gostaria de compartilhar esse momento comigo... e pensar que não tive tempo para isso!", lamentava no domingo uma das tias do jovem, que reside em Saint-Mandé e é cliente frequente do Hyper Cacher.

De Yohan, ficam "um sorriso, uma doçura, uma gentileza extrema" para uma de suas primas, mas também para sua tia e seus amigos. "Uma integridade e uma honestidade incomparáveis", disse seu pai, sobre a imagem que guardaria de seu filho. "Era um jovem feliz, que estava sempre com seus amigos na cidade", diz o deputado-prefeito de Sarcelles, François Pupponi, que conhece bem a família que chegou nos anos 1960 do Magreb e se instalou no bairro de Grands Ensembles. Já Sharon Seb, a noiva de Yohan, escreveu ao "homem de [sua] vida para a eternidade", em um post no Facebook: "Como vou fazer sem você? Como vou viver sem você? Minha vida acabou. (...) Tínhamos tantos planos".

Planos que Batou Hattab, rabino da sinagoga de Goulette em Túnis, e pai de Yoav Hattab, também tinha para seu filho. Yoav, um de seus sete filhos, estudava na França desde 2012. "Eu quis trazer meu filho a Paris para casá-lo, e agora estou o levando ao cemitério", resumiu seu pai ao programa "20 heures" do canal France 2, no domingo à noite.

Garrafa de vinho
Yoav Hattab tinha 21 anos e estava terminando seu curso de comércio internacional e fazendo estágio em uma empresa de Montreuil. Ele havia estudado no liceu francês de Túnis. Na última sexta-feira, ele fora convidado para observar o shabat na casa de amigos e não queria chegar de mãos vazias, então seu chefe o deixou de carro em frente ao Hyper Cacher. Assim que o terrorista entrou no mercado, ele se escondeu junto com outros clientes no andar de baixo, em uma das câmaras frias.

Segundo o depoimento de um refém, entrevistado pelo "Libération" e confirmado por fontes oficiais, Yoav teria subido de volta a pedido do terrorista, uma vez que uma funcionária desceu duas vezes para lembrar que o homem ameaçava cometer uma carnificina se os reféns não se agrupassem.

De acordo com a investigação, o jovem subiu junto com um casal e pegou uma das AK-47s que o terrorista havia deixado no balcão. Yoav não conseguiu usá-la, e esse ato de bravura que não surpreende seu pai lhe custou a vida, fazendo dele a quarta vítima do supermercado. A resposta de Amedy Coulibaly na verdade foi imediata, segundo a testemunha entrevistada pelo "Libération". "Ele foi comprar uma garrafa de vinho e perdeu a vida", resumiu seu pai, sintetizando em poucas palavras o absurdo dessa morte. Se seu chefe não o tivesse deixado de carro… se ele tivesse terminado o trabalho dez minutos mais tarde… Yoav estaria vivo.

Pais de família
As duas outras vítimas, Philppe Braham e François-Michel Saada, eram ambos pais de família. Saad era um executivo aposentado e Philippe Braham trabalhava como diretor comercial em uma empresa de informática. A trágica ironia do destino quis que o morador de Haÿ-les-Roses, Philippe Braham, colocasse seus filhos em uma escola a algumas centenas de metros do lugar onde a agente de polícia municipal foi assassinada por Amedy Coulibaly, em Montrouge, dois dias antes da tomada de reféns em Saint-Mandé.

Irmão do rabino da sinagoga de Pantin, ele frequentava mais a comunidade de Cachan, segundo a gerente da confeitaria kosher de Montrouge. Ele é descrito por um de seus amigos – citado pelo site do "L'Obs"- como "alguém devoto, sempre disposto a ajudar os outros". Uma descrição que lembra as homenagens prestadas a François-Michel Saada por seus amigos e familiares. Nascido em Túnis no dia 6 de junho de 1951, esse homem era pais de dois filhos, jovens adultos que decidiram ir viver em Israel.

E é lá, no cemitério do Monte das Oliveiras, que as quatro vítimas judias do supermercado foram enterradas na terça-feira (13). Assim, Yohan Cohen descansará não longe de uma de suas tias que faleceu há dez anos em Israel. Além das quatro mortes, o atentado de sexta-feira resultou em nove feridos, incluindo uma mulher e um policial.

Embora a polícia não saiba o número exato de reféns detidos na loja, uma vez que alguns deles saíram correndo sem se identificar na confusão do ataque, 28 pessoas foram ajudadas pelas forças policiais, tanto as que estavam dentro quanto as que estavam fora da loja, segundo a investigação. A elas se somam hoje as famílias dos quatro mortos, que ainda não conseguiram avaliar o tamanho do vazio deixado.

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