JISH Israel (Reuters) - Nas colinas verdes da Galileia, onde Jesus teria pregado há
dois mil anos, um grupo de falantes do aramaico, tentando reviver a língua de
Cristo, está comemorando uma vitória em sua luta para salvaguardar a sua
herança.
Em um lugar onde as tensões estão em
alta em questões de etnia, fé e cidadania, os membros do grupo cristão ganharam
o direito de alterar a sua designação em registros oficiais de
"árabe" para uma classificação étnica recém-criada:
"aramaico".
O grupo que buscava a alteração é
pequeno, algumas centenas de pessoas no máximo, mas sua campanha é parte de um
debate mais amplo sobre questões de identidade na Terra Santa e no tratamento
da minoria árabe em Israel.
Os defensores dizem que a decisão de
Israel de permitir que o grupo se defina como "aramaico" é um sinal
de tolerância étnica.
Mas, para os críticos, seria uma
tentativa do governo de incentivar as divisões da população árabe, que se
define em grande parte como Palestina e representa cerca de um quinto dos 8,2
milhões de cidadãos do país.
Shadi Khalloul, um ex-capitão do
Exército israelense, lidera a Sociedade Aramaica em Israel, que pressionou o
governo para a mudança. Seu filho de dois anos de idade, Yacov, é o primeiro em
Israel a ser registrado como aramaico.
"É uma questão espiritual, me
sinto igual entre iguais, que não sou menos do que eles: judeus, árabes,
circassianos, drusos, italianos, gregos. Meus antepassados ficariam
orgulhosos", disse Khalloul, que se ofereceu para o serviço militar, que
convoca mulheres e homens judeus de 18 anos, mas isenta árabes da participação.
Os ativistas da língua são todos
residentes da aldeia de Jish e pertencem à Igreja Maronita, que se enraizou no
século V no Líbano.
Em uma cerimônia para marcar a mudança,
em outubro, o ministro do Interior, Gidon Saar ,disse que os aramaicos haviam
sofrido perseguição, opressão e discriminação no Oriente Médio, e que Israel,
construída como uma casa para os judeus que sofreram perseguição "deve
proteger esta minoria e permitir que ela mantenha sua cultura e seu patrimônio".
Mas nem todos na aldeia árabe de 3.000 pessoas estão
satisfeitos.
"Eles têm vergonha de sua etnia", disse Marvat
Marun, 39. "Eu sou árabe, um árabe cristão maronita, e orgulhoso disso.
Minhas raízes são palestinas."
IDIOMA
O aramaico, uma língua relacionada com o hebraico e o árabe,
foi comum na região, mas substituída em grande parte pelo árabe depois das
conquistas muçulmanas do século 7.
A língua ganhou grande atenção em 2004, quando o filme de Mel
Gibson "A Paixão de Cristo", foi filmado em aramaico, latim e
hebraico.
Durante uma visita à Terra Santa em maio passado, o papa
Francisco e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tiveram um
breve desentendimento diante das câmeras sobre a língua que Jesus falava.
"Jesus estava aqui, nesta terra. Ele falou em
hebraico", disse Netanyahu. "Aramaico", o papa interveio.
"Ele falava aramaico, mas sabia hebraico", Netanyahu rebateu.
O aramaico, no entanto, corre risco de extinção.
Eleanor Coghill, linguista da Universidade de Konstanz, disse
que a guerra civil na Síria e avanços do Estado Islâmico no Iraque têm afetado
as poucas comunidades de língua aramaica.
"Enquanto é bom ouvir que as comunidades em outros
lugares estão interessadas em sua herança aramaica, é difícil reavivar
plenamente uma língua como língua viva", disse Coghill.
O grupo de Khalloul promove aulas de aramaico para as
crianças de Jish, uma pequena aldeia perto da fronteira com o Líbano, onde mais
de um terço da população é muçulmana, e o árabe é a língua corrente.
"Eu senti que a geração mais jovem estava ficando
perdida e nossa história e patrimônio foram desaparecendo. Nós vamos à igreja e
recitamos aramaico como papagaios, sem saber o que estamos dizendo", disse
Khalloul.